A gente vai deixando os dias passar, absorvidos nos nossos pequenos dramas pessoais, num frenesi desalmado, mal amado, de correria para um lado e para o outro, de contas para pagar, de criancinha doente, da velha tia que já está mais para lá do que para cá, dos pneus que estão carecas e da inspecção periódica que se atrasa. Perde-se a noção do tempo na voragem dos dias encavalitados uns nos outros, esquece-se um aniversário de alguém chegado, chega-se atrasado à reunião, come-se em pé um salgadinho e toma-se a bica a olhar para o relógio, regressar a casa no fim do dia é o fim do mundo dentro do carro, particular ou colectivo, sonha-se à pressa com o fim-de-semana que nunca mais chega e, quando chega, acaba antes de termos feito o que planeáramos e vamos respondendo “mais ou menos” quando nos perguntam como estamos, e marcamos um almoço com um amigo para “depois a gente fala-se”, um “depois” que se eterniza em adiamentos sucessivos.
Às vezes, já é tarde demais
Num instante extraordinário, lembramo-nos do amigo a quem ficámos de “falar depois”, passaram-se semanas, meses, quiçá anos sem notícias, liga-se para o número que tínhamos, ninguém responde, descansa-se naquela justificação fácil feita do cómodo “ele mudou de número e não me disse nada” e, de repente, sem aviso prévio, alguém nos telefona a dizer “fulano morreu, o funeral é amanhã”, o cérebro pára, a consciência acorda, a memória activa-se com recordações, assoma um breve sentimento de culpa, “eu já devia ter telefonado há mais tempo”, chora-se por dentro do peito a perda não só do amigo mas de nós que deixámos andar o calendário para lá do não retorno. Conversas ficaram por trocar, alegrias de bem-estar não foram partilhadas, desperdício de egoísmo ou, simplesmente desleixo mental reduzem a zero o infinito da amizade.
A vida é como uma fita métrica que se vai desenrolando, o que fica dentro da caixa é o que nos sobra, quanto mais se desenrola menos fica para medir. Há que aproveitar o máximo desse resto não só para nós mas de nós para aqueles a quem queremos bem e nos querem bem, para que se evite o peso de um “depois” irreparavelmente tardio.
Hs
“Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos”.
M. Yourcenar
Às vezes, já é tarde demais
Num instante extraordinário, lembramo-nos do amigo a quem ficámos de “falar depois”, passaram-se semanas, meses, quiçá anos sem notícias, liga-se para o número que tínhamos, ninguém responde, descansa-se naquela justificação fácil feita do cómodo “ele mudou de número e não me disse nada” e, de repente, sem aviso prévio, alguém nos telefona a dizer “fulano morreu, o funeral é amanhã”, o cérebro pára, a consciência acorda, a memória activa-se com recordações, assoma um breve sentimento de culpa, “eu já devia ter telefonado há mais tempo”, chora-se por dentro do peito a perda não só do amigo mas de nós que deixámos andar o calendário para lá do não retorno. Conversas ficaram por trocar, alegrias de bem-estar não foram partilhadas, desperdício de egoísmo ou, simplesmente desleixo mental reduzem a zero o infinito da amizade.
A vida é como uma fita métrica que se vai desenrolando, o que fica dentro da caixa é o que nos sobra, quanto mais se desenrola menos fica para medir. Há que aproveitar o máximo desse resto não só para nós mas de nós para aqueles a quem queremos bem e nos querem bem, para que se evite o peso de um “depois” irreparavelmente tardio.
Hs
“Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos”.
M. Yourcenar
3 comentários:
" a vida é uma fita métrica...quanto mais se desenrola menos fica para medir..."
Das melhores definições de Vida que ouvi até hoje!
... Fantástico.
Apareça lá em Casa. Aceita um chá?
... e continuamos a correr atrás do vento!
Mas há sempre tempo de fazermos algo de útil para o futuro.
JLM
Voy a hablar no con mis palabras, sino con las palabras de otro.
"A mis amigos les adeudo la ternura
y las palabras de aliento y el abrazo"(H.Cortes) Por eso me valgo de un proverbio oriental que nos dice "No dejes crecer la hierba en el camino de la amistad"
En nombre de uno de los más bellos sentimientos de la vida-un abrazo-marita
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