sexta-feira, 30 de julho de 2010

luz


Estas fotos foram tiradas em Angola, há muito pouco tempo, ainda neste ano de 2010. A caminho do Uíge, na vila de Camabatela, a Igreja matriz impõe a sua presença a cada passante. A originalidade da arquitectura obriga a uma paragem e a uma visita ao interior.
Camabatela foi fundada em 1611 e foi elevada a vila em 14 de Julho de 1934. Festejou, há poucos dias, 76 anos.
Em 1961 foi um dos centros de acção nacionalista no início da luta pela independência de Angola.
O que me chamou à atenção foi o facto de a Igreja ser um dos poucos edifícios totalmente conservados e mantido num estado absolutamente impressionante de limpeza e funcionalidade.
O interior está recheado de imagens de santos. Numa das fotos vêem-se fiéis a orar à ... Nossa Senhora de Fátima.
Tal como na Igreja da Muxima, são as "mães" que tomam conta de tudo no templo, gerido, desde a sua fundação, por frades Capuchinhos.
No altar principal, chamou a minha atenção aquela cruz com o Cristo cruxificado, que tentei enquadrar com a luz do vitral.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

HIGUERAS

Tive sempre um fascínio pelos grandes artistas, fossem eles de qual arte, pintores, bailarinos, escultores. Foi esse fascínio que me levou, em jovem, a procurar Maurice Béjart e o “Ballet du XX ème siècle”, com quem trabalhei no Bolero de Ravel, no Théatre de La Monnaie em Bruxelas, e em várias outras obras do grande de mestre do bailado. Foi esse fascínio que me levou a frequentar tertúlias onde eu bebia cada gesto, cada palavra, cada som, cada imagem e me emocionava em cada momento. E sempre me interroguei porque razão não fui dotado desses dons. Tudo bem, cada um é para o que é, diria alguém mais expedito que eu. Por exemplo: a escrita tem sido para mim um mar de descobertas, eu que sou jornalista há tantos anos que já quase me envergonho de dizer quantos. Eu que tanto já escrevi e nunca plagiei! Até descobrir Luís Fernando, o escritor angolano de quem bebo a riqueza da língua portuguesa.


Tive sempre tendência para conviver com gente das artes. São pessoas diferentes, não tenho outra qualificação para elas. Mas não sei bem dizer em que é que são diferentes e correria grave risco de estupidez em defini-las.


Talvez porque essas pessoas me transportam a mundos mais bonitos que o da minha profissão? Talvez porque…têm um discurso diferente do habitual?


Tive o privilégio de conviver com a figura excepcional de Cruzeiro Seixas. Cruzei a minha vida com Maurice Béjart, Patrick Belda, Duska Sifnios, Laura Proença, Tania Bari, Vittorio Biaggi, Germinal Casado, Paolo Bortuluzzi, bailarinos de Béjart.


Conheci e convivi com o pintor Vitor Belém e os  escultores Mário Seixas e Aida Sousa Dias. Mais recentemente, conheci Etona, o pintor angolano que enfeitiça pelas suas obras.


Há dias cruzei o meu caminho com Higueras, José Higueras e sua mulher Higorca, catalã, poetisa,  mulher de arte. E fico sem ar. Ao buscar jornalisticamente mais dados sobre as pessoas, encontro-me com seres superiores cujos nomes pouco mais são do que referências pouco mais servem do que para orientar. Falar com essas pessoas, ter o privilégio de as ombrear, a liberdade de trocar ideias com elas, é algo bem mais acima do trivial.
É entrar noutro mundo.

sábado, 24 de julho de 2010

Obesidade Mental

A Obesidade Mental - Andrew Oitke



O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.


«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»


Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono.
As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.
Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada..
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema.


Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»


O problema central está na família e na escola.


«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.


Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.


Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»


Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:


«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas.
A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.»


O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade
fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.


«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»


Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.


«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.


Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.


Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.


Todos acham que Saddam é mau e Mandela é bom, mas nem desconfiam porquê.


Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».


As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.


«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.


Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.


Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam.


É só uma questão de obesidade.


O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.


O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.»


(Por João César das Neves - 26 de Fev 2010)

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