Pela norma e até mesmo pela tradição, cuja ainda é o que era quando não é ao contrário, os filhos herdam naturalmente dos pais excepto, claro está, no caso de se terem portado mal e os amados progenitores decidirem que não merecem e mandam a herança para uma Casa de Repouso onde esperam ir desaguar em devido tempo gozando com a cara dos deserdados. Não vamos por aí que isto de heranças está pelas horas da amargura, ele é impostos sucessórios, ele é contas com o banco, ele é notário, assinaturas reconhecidas, uma complicação maior que o Apito Dourado e, depois, ainda aparece uma Catarina Efémera a escarrapachar em livro umas cenas eventualmente chocantes, todas inventadas está bem de ver que nós somos todos impolutos e meninos de coro com vozinha de querubim e estamos sempre de bem com a nossa inocente consciência.
Não, não e não, não vamos por aí, heranças é para os ricaços tipo Paulo de Azevedo ou para nobres em fase terminal de árvore genealógica, recebes o casebrezito a cair de podre lá para os confins de Bragança e não te queixes, coisas assim que nos tornam proprietários de...coisa nenhuma.
Não vou por aí até porque o meu caso é bem distinto senão inédito a menos que venha aí um Pacheco Pereira de mãos dadas com um Vicente Jorge Pires para contrariarem em blogues e residentes comentários na televisão a minha versão dos factos, obrigando-me, quiçá para defesa da honra como se faz tanto e tão bem no hemiciclo (não, não é uma bicicleta com metade dos pedais) da douta Assembleia da República, a responder no 24 horas.
E, não vou por aí também porque não quero levar ninguém atrás de mim, não me tenho por nenhuma Pasionária em retardo de acção já que, o que pretendo relatar aqui é um assunto muito pessoal, decorado de contornos alegadamente absurdos, não exactamente da minha pessoa mas em que a minha pessoa se viu involuntariamente envolvida e, para o qual, desde já, peço me relevem o eventual fulanismo que, a confirmar-se por palavras ou por actos, seria uma gigantesca excepção dos usos e costumes domésticos deste rectângulo ibérico e eu queria, quero ser a regra, normalíssimo, português suave, o das bichas do autocarro, o do subsídio de desemprego com ganchos de electricista e canalizador ao mesmo tempo, o das manifs pelo direito de passar férias na Austrália quando me estão a querer mandar para o Brasil, o portuga da feira de Carcavelos, não o cliente antes o convencido negociante de Calvin Klein da treta, o pato bravo do Mercedes que foi táxi na Alemanha, o chico-esperto capaz de vender areia no deserto, o tuga do Saxo sonoro, do fato de treino domingueiro no Vasco da Gama, mas não, a fortuna, a sorte, não quiseram assim, o assunto é bem mais complicado e tira-me do sério. Não sei exactamente o que isto quer dizer mas fica bem, há quem use e eu não sou esquisito, por vezes ser Maria vai com as outras ataca-me a vontade. Paciência, ninguém é perfeito !!!!
Então, é assim!
Tenho três filhas, bem apessoadas, educadas à maneira, se degeneraram a culpa não é minha, é do sistema, das companhias, da escola, da globalização, do Bush, do PIB, do Governo, dos partidos, da televisão, do Big Brother, da parvinha da Floribela, do Malato, do Goucha, da Catarina furtada aos corações lusos pelo casamento, namoradinha virtual das frustrações nacionais masculinas, da Merche que mexe em tudo o que chuta bola, mas minha é que não é a culpa, que eu esmerei-me, juro. e, por via disso, elas ficaram a gostar de animais não só dos de duas patas que isso é normal em raparigas light mas também dos de quatro sejam eles canídeos, felinos, ou outras espécies menores que também servem de cobaias. Uma, aérea não da cabeça antes de profissão, recebeu de presente de aniversário uma gata persa, algo autoritária, dona do seu nariz mais do que a Cleópatra, princesa do seu espaço.
É a Sol.
Outra, cursada em hotelaria, albergou, como não podia deixar de ser, uma gata meio selvagem originária das tundras siberianas.
É a Luna.
A terceira, mais terra a terra, hospedou um “royal street cat” ainda juvenil em crise de habitação, ou seja, um rafeiro morador temporário de um carro estacionado na rua.
É o Lua.
Com tamanha incidência astrológica que nem a Maya explicaria num dos seus muitos guias de aconselhamento, os três felpudos acabaram por se juntar, sabe-se lá por que superiores razões universais, em minha casa, democraticamente partilhando pedigrees no mesmo comedouro, bebendo da mesma água que a Epal voluntariamente nos dá em troca da nossa comparticipação activa na valorização das suas acções, não as de benevolência que essas são sempre incógnitas, como é de bom tom.
É aqui que tudo se perverte e a bota não bate com a perdigota. Eu, extremoso pai trabalhando uma suada vida inteira para deixar alguma coisa aos filhos que, no meu caso, como já deu para perceber - podemos dispensar o Pacheco Pereira e o professor Marcelo, tão linear é a situação - são filhas, em vez de me orgulhar de deixar uma herança vejo-me na estranha e peculiar situação dependente de herdado das minhas filhas pela doação em vida de três gatos. Na realidade, e aqui dou a mão à palmatória, elas não mos deram, diga-se de passagem, emprestaram-mos por prazo indeterminado até resolverem as suas vidinhas mas, acontece, como o caso daquele sargento que não é o pai da criança, que me afeiçoei aos bichos e, sem falsos pudores, acho até que eles me adoptaram num concerto de infalíveis atitudes que só os astros sabem manter.
E, para que conste em memória futura, se algum dia elas reivindicarem a propriedade dos meus astros de quatro patas, aplicarei em minha defesa a figura do uso-capião que, em boa verdade se deve escrever usucapião e, em mais boa verdade ainda se refere mais à terra do que a gatos. Dou-lhes de comer, dou-lhes cama e roupa lavada e ainda lhes dou um tecto, só não lhes dou tickets restaurant para jantarem fora por a aposentação, tipo reforma me ter retirado o direito aos ditos.
No limite, caso venha a existir discórdia pela herança, poderei sempre recorrer à Procuradoria-geral da República para que perguntem aos animais com quem é que eles querem ficar, não é?
hs
Não, não e não, não vamos por aí, heranças é para os ricaços tipo Paulo de Azevedo ou para nobres em fase terminal de árvore genealógica, recebes o casebrezito a cair de podre lá para os confins de Bragança e não te queixes, coisas assim que nos tornam proprietários de...coisa nenhuma.
Não vou por aí até porque o meu caso é bem distinto senão inédito a menos que venha aí um Pacheco Pereira de mãos dadas com um Vicente Jorge Pires para contrariarem em blogues e residentes comentários na televisão a minha versão dos factos, obrigando-me, quiçá para defesa da honra como se faz tanto e tão bem no hemiciclo (não, não é uma bicicleta com metade dos pedais) da douta Assembleia da República, a responder no 24 horas.
E, não vou por aí também porque não quero levar ninguém atrás de mim, não me tenho por nenhuma Pasionária em retardo de acção já que, o que pretendo relatar aqui é um assunto muito pessoal, decorado de contornos alegadamente absurdos, não exactamente da minha pessoa mas em que a minha pessoa se viu involuntariamente envolvida e, para o qual, desde já, peço me relevem o eventual fulanismo que, a confirmar-se por palavras ou por actos, seria uma gigantesca excepção dos usos e costumes domésticos deste rectângulo ibérico e eu queria, quero ser a regra, normalíssimo, português suave, o das bichas do autocarro, o do subsídio de desemprego com ganchos de electricista e canalizador ao mesmo tempo, o das manifs pelo direito de passar férias na Austrália quando me estão a querer mandar para o Brasil, o portuga da feira de Carcavelos, não o cliente antes o convencido negociante de Calvin Klein da treta, o pato bravo do Mercedes que foi táxi na Alemanha, o chico-esperto capaz de vender areia no deserto, o tuga do Saxo sonoro, do fato de treino domingueiro no Vasco da Gama, mas não, a fortuna, a sorte, não quiseram assim, o assunto é bem mais complicado e tira-me do sério. Não sei exactamente o que isto quer dizer mas fica bem, há quem use e eu não sou esquisito, por vezes ser Maria vai com as outras ataca-me a vontade. Paciência, ninguém é perfeito !!!!
Então, é assim!
Tenho três filhas, bem apessoadas, educadas à maneira, se degeneraram a culpa não é minha, é do sistema, das companhias, da escola, da globalização, do Bush, do PIB, do Governo, dos partidos, da televisão, do Big Brother, da parvinha da Floribela, do Malato, do Goucha, da Catarina furtada aos corações lusos pelo casamento, namoradinha virtual das frustrações nacionais masculinas, da Merche que mexe em tudo o que chuta bola, mas minha é que não é a culpa, que eu esmerei-me, juro. e, por via disso, elas ficaram a gostar de animais não só dos de duas patas que isso é normal em raparigas light mas também dos de quatro sejam eles canídeos, felinos, ou outras espécies menores que também servem de cobaias. Uma, aérea não da cabeça antes de profissão, recebeu de presente de aniversário uma gata persa, algo autoritária, dona do seu nariz mais do que a Cleópatra, princesa do seu espaço.
É a Sol.
Outra, cursada em hotelaria, albergou, como não podia deixar de ser, uma gata meio selvagem originária das tundras siberianas.
É a Luna.
A terceira, mais terra a terra, hospedou um “royal street cat” ainda juvenil em crise de habitação, ou seja, um rafeiro morador temporário de um carro estacionado na rua.
É o Lua.
Com tamanha incidência astrológica que nem a Maya explicaria num dos seus muitos guias de aconselhamento, os três felpudos acabaram por se juntar, sabe-se lá por que superiores razões universais, em minha casa, democraticamente partilhando pedigrees no mesmo comedouro, bebendo da mesma água que a Epal voluntariamente nos dá em troca da nossa comparticipação activa na valorização das suas acções, não as de benevolência que essas são sempre incógnitas, como é de bom tom.
É aqui que tudo se perverte e a bota não bate com a perdigota. Eu, extremoso pai trabalhando uma suada vida inteira para deixar alguma coisa aos filhos que, no meu caso, como já deu para perceber - podemos dispensar o Pacheco Pereira e o professor Marcelo, tão linear é a situação - são filhas, em vez de me orgulhar de deixar uma herança vejo-me na estranha e peculiar situação dependente de herdado das minhas filhas pela doação em vida de três gatos. Na realidade, e aqui dou a mão à palmatória, elas não mos deram, diga-se de passagem, emprestaram-mos por prazo indeterminado até resolverem as suas vidinhas mas, acontece, como o caso daquele sargento que não é o pai da criança, que me afeiçoei aos bichos e, sem falsos pudores, acho até que eles me adoptaram num concerto de infalíveis atitudes que só os astros sabem manter.
E, para que conste em memória futura, se algum dia elas reivindicarem a propriedade dos meus astros de quatro patas, aplicarei em minha defesa a figura do uso-capião que, em boa verdade se deve escrever usucapião e, em mais boa verdade ainda se refere mais à terra do que a gatos. Dou-lhes de comer, dou-lhes cama e roupa lavada e ainda lhes dou um tecto, só não lhes dou tickets restaurant para jantarem fora por a aposentação, tipo reforma me ter retirado o direito aos ditos.
No limite, caso venha a existir discórdia pela herança, poderei sempre recorrer à Procuradoria-geral da República para que perguntem aos animais com quem é que eles querem ficar, não é?
hs
4 comentários:
Hélder, desculpa, mas relembro a malsocrática postura de estado: QSF...
Paizao,
Sabes que quando li o titulo, pensei nos gatos?
Esta espectacular o teu texto, como sempre!
Ri imenso, e quando vi as fotos...ainda mais, com uma lagrima no canto do olho de saudades loucas do meu Lua, sim deixo ja aqui a "marca" registada de esse Gato e o Meu..o mais velho da mais nova!
Mas como o tempo e realmente indeterminado, continua a mima lo como fosse teu, claro, e aproveita a sua companhia...pois para mim e muito especial!
ps. a ultima foto ta linda!!
Helder que lindo texto e os gatos são espectaculares. um abraço.
os gatoes atentos,não vá o rato safar-se!LOLlll
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