quarta-feira, 9 de julho de 2008

Muxima, coração







Em Muxima respira-se paz, tranquilidade, sublimação. A capela do século 17, a santa Nossa Senhora da Muxima, o rio Kwanza ali tão sereno, tão potente.
Não há turistas japoneses de máquina fotográfica agarrada às mãos, não há vendedores de souvenirs, não há velas à venda para queimar, não há crentes a andar de joelhos (até porque não há joelhódromo), não há bancas de venda de cruzes, nem de imagens religiosas em plástico. Também não tem câmaras de televisão nem directos. E ninguém anda a pedir contribuição financeira para fazer obras na ermida.
No entanto...no entanto, a ermida está tão nova como há séculos. É o mais carismático centro de catolicismo de África. Os crentes devotam sua fé na Senhora da Muxima, a senhora do coração dos angolanos católicos.
Diz a lenda que a santa apareceu ali sem niguém a ter colocado lá. Há dúvidas sobre se foram os holandeses ocupadores de Angola por cinco anos, ou se foram os portugueses colonos residentes que fizeram tanto a igreja como o forte, hoje catalogados como património mundial pela UNESCO. Mas, se os holandeses nunca foram católicos, como é que iam construir uma igreja católica ali, a uns 180 km de Luanda? O forte, ainda vá lá que não vá mas, a igreja ...
O que interessa é saber que um dia alguém decidiu mudar a santa de lugar e que, sem intervenção humana, ela voltou ao seu pedestal original.
E que Carlos Aniceto Vieira Dias escreveu uma das mais universais melodias de todos os tempos, cantada pelo duo Ouro Negro, cantada pelos angolanos na diáspora, cantada quando dói o coração. "Muximaaaauê". "Kuato dilagi mugibê" é o refrão. Não sei o que significa, alguém pode me ajudar?
Muxima tem o dom de impressionar pela quietude e, a senhora da Muxima, deposta ali por Nossa Senhora (segundo a conveniente lenda), transporta os crentes e os não crentes ao estado ideal de equilibrio com o universo...é a paz que ali se respira, a simplicidade de tudo, a doçura das mulheres seguidoras do culto a cuidarem da igreja como mãe que cuida do filho, que nos transportam a um patamar da existência, desconhecida para a maioria dos crentes e, sobretudo, para os descrentes.






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