quinta-feira, 29 de abril de 2010

A NOVA ORDEM

Estamos a caminho de uma Nova Ordem Mundial destinada a dominar as pessoas, eliminar as nações, impor novos paradigmas.
Os trabalhos já decorrem há anos mas, agora, com a “globalização” percebe-se melhor e mais rapidamente tudo o que está a acontecer no mundo.
Não consigo aceitar que a crise mundial não tenha sido prevista a tempo de ser evitada, como não consigo perceber que o 11 de Setembro tenha acontecido sem que a super-potência não o tenha previsto que os centros vitais da nação – Pentágono, Torres gémeas, símbolos do capitalismo – iriam ser atacados logo no exacto país dos super poderes electrónicos, dos super-espiões, dos super-contraterroristas, do super-exército, enfim o país mais poderoso de todos.
Custa-me a aceitar que a crise tenha desencadeado todo o caos instalado no mundo sem que os grandes economistas não tenham sabido evitá-la. Os mesmos que agora, cândidamente, vêm explicar as causas e sugerir soluções. Em Portugal, ex-ministros da Economia, sucedem-se em fila diante as televisões para darem razões e explicações da falência do país. FMI, essa sombra negra que domina o mundo, agências de rating, que ordenam a classificação das capacidade de pagamento de dívidas dos países, vão colocando as pressões sobre os mais fracos para, daí, partirem para o seu controlo.
Não sei porque se há-de andar a apupar e a procurar “la petite bête” contra o José Sócrates para o desalojar do poder quando ele, como muitos outros primeiros-ministros, não passam de peões no xadrez da Nova Ordem!
Paulatinamente vai-se caminhando para a destruição das nações, para a desagregação dos povos, para o desaparecimento da família, para o controlo mundial da crença católica. Aquilo que os navegadores fizeram há mais de 500 anos quando andaram a descobrir novos horizontes - dos quais os portugueses foram os mais adiantados – com o fim de “expandirem a fé, de evangelizarem os povos”, continua agora a acontecer com as viagens dos Papas.
Uma religião única seria o ideal para a Nova Ordem; a católica? A islâmica?
A desagregação dos povos e seu domínio não aconteceu somente com o colonialismo inglês, francês, português, holandês, alemão. Está a acontecer com a invasão do Iraque, do Afeganistão. Vai acontecer com a invasão do Irão, do Vietname e de outros países incómodos para os americanos.
O que está a passar-se com a Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda, são passos largos para o domínio destes países pela Nova Ordem. Não é preciso que algum exército entre nas suas fronteiras. A invasão está feita por vias mais subtis: esgotar a capacidade de realização económica e financeira. Aquilo que os bancos fazem com as pessoas para tomarem conta dos seus bens, endividando-as até à asfixia financeira, estão as agências internacionais a fazer com os países.
Cada vez mais, a Nova Ordem toma conta da vontade das pessoas, sob a capa da democracia e da liberdade. Cada vez mais os poderosos vão tomando conta dos fracos. A eliminação progressiva da classe média nas sociedades não é mais do que o passo para o controlo das maiorias pobres e endividadas pelos ricos imunes às crises que eles próprios criaram.
Mas alguém é capaz de acreditar que tantos iluminados por esse mundo fora não tiveram capacidade para evitar a tal crise?


hs

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Páscoa


O Páscoa

A primeira vez que o vi foi perto da igreja da aldeia. O lugar era simpático, acolhedor. Uma frondosa árvore, dentro de um quintal de uma casa a cair de abandonada. Não lhe prestei muita atenção, pensei que era dali, pensei que até estava bem entregue, aos cuidados das bondosas mulheres que sempre povoam as igrejas das aldeias. Ou, quem sabe, aos carinhos que as crianças da catequese sempre deixam brotar quando distraídas das suas brincadeiras.
Foi uma passagem fugaz aquela que me proporcionou o breve encontro. Homem de cidade, mesmo na tranquilidade do trânsito da aldeia, que é nenhum, e, ainda sob a protecção da sombra da árvore e da igreja, não consegue libertar-se dos seus condicionamentos urbanos. Tem pressa de chegar, ainda que não tenha destino, e deixa de ver o que o rodeia.
A vista acabada de acontecer já tinha sido passada para as traseiras da memória rápida, corria o risco de nunca mais voltar ao cimo das lembranças. A vida é assim mesmo, dizemos nós na cidade. É feita de fugazes momentos. Ou será feita de fugas?
Entre pores de sol e noites de estrelas, passaram os dias, as memórias recentes não subiram à prateleira das lembranças, os contornos do ontem ficavam rapidamente cativos duma actualidade precária.
A igreja e a árvore, nas suas imensidões de tempo passado, eram aqueles marcos que o citadino precisa de usar para abrandar, nem ele sabe bem o quê. Stress, a doença da moda nas grandes cidades? O quintal estava vazio, a igreja fechada, faltava a razão do encontro e mil tormentosos pensamentos me atravessaram a mente. Perturbado pela ausência, achei por bem usar mais um daqueles subterfúgios de urbano e rumar, o mais rápido que o trânsito me deixasse (que era nulo), até à casa no cimo da rua onde, ao fim da tarde, tinha o costume de lavar os olhos naqueles verdes campos a perder de vista.
A recordação do encontro esvaiu-se com o regresso à cidade, perdeu-se nas nuvens do caos urbano. Era o regresso aos insistentes olhares nervosos para o relógio, a procura da segurança nos vidros fechados do carro, o mergulho nos labirintos do instinto de defesa.
Por altura da Páscoa, nova deslocação à aldeia e o cumprimento dos habituais rituais como ir ao café da Teresa tomar a bica de qualquer hora. E o reencontro com a tranquilidade. Há lugares que transpiram sossego e luz, é uma sorte encontrá-los. Lugares onde tudo é, natural onde até os automóveis parecem querer camuflar-se na paisagem. Parece haver uma ordem estabelecida e cumprida para não perturbar a Natureza.
Não sei bem como nem porquê, o meu olhar foi atraído para o portão do quintal. Ele ali estava, silencioso, como a fazer-me recordar a sua existência num súbito estremecimento de quase culpa. Era Páscoa, a alma estava mais aberta, mais receptiva a ajudar.
Agitei-me com a presença inesperada, fervilhavam-me pensamentos desencontrados sobre o que fazer. Ocorreu-me oferecer-lhe comida que ele, com alguma desconfiança de ser da rua, aceitou com parcimónia.
As visitas repetiram-se, vinha lá de baixo, postava-se em frente ao portão, aceitava a comida e voltava não sei para onde. Instalou-se em mim a ansiedade de o ver todos os dias. Estaria bem, precisaria de alguma coisa para além daquilo que lhe deixava à vista como anzol para apanhar a sua confiança?
Da prudência ao hábito diário ele pareceu entender que era ali que tinha encontrado um porto seguro onde se sentia protegido e até… acarinhado. Montou residência, inverteu o sentido das suas andanças. Nunca mais de lá saiu, o Páscoa.






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