sábado, 22 de novembro de 2008

O Desenrascanso

Desenrascanso é uma arte portuguesa.
Não cabe na cabeça de um alemão, de um finlandês, de um sueco. Desenrascar é o que o português melhor sabe fazer. O exacto contrário de planear, o profundo culto do improviso, o jeito de concertar sem ferramentas, de por coisas a funcionar sem ser engenheiro, o desplante de encontrar formas fáceis de ganhar dinheiro difícil e formas dificeis de ganhar dinheiro fácil. Numa linha ultramoderna de montagem de qualquer coisa, o português, se achar conveniente para se chatear menos, altera o esquema. Para reparar qualquer coisa, o português, primeiro, desenrasca a coisa, só depois lê o manual de instruções ... para dizer que "estes gajos não percebem nada disto".
Não sei se é por isso que os países ricos gostam tanto de ter portugueses a trabalhar lá, mas que eles lhes dão muito jeito, isso dão. Reclamam pouco, contentam-se e até se levantam às duas da manhã para irem por um motor a funcionar. Sem lâmpada para verem nem ferramentas próprias.
Devia haver uma gala anual para os melhores desenrascansos portugueses.

Vejam o que diz a Wikipédia, mas em inglês. Alguém desenrasca aí uma tradução?

From Wikipedia, the free encyclopedia Re.

Desenrascanço
Desenrascanço (impossible translation into English) is a Portuguese word used in certain specific contexts and situations. It is used to express an ability to solve a problem without the adequate tools or proper technique to do so, and by use of sometimes imaginative resourcefulness when facing new situations. Achieved when resulting in a hypothetical good-enough solution. When that good solution escapes us we get a failure. Most Portuguese people strongly believe it to be one of their most valued virtues and a living part of their culture. However, some critics (...) are of the opinion that the concept is related to the discoveries period of the 15th century. But sceptics doubt there is any substantial proof of that relation.In the 16th and 17th centuries it was very common for other exploring nations, such as the Dutch, to bring a Portuguese national along during the voyages, because the Portuguese were allegedly the most skilled and knowledgeable in the proper handling of the occasional emergency aboard the ship when the control of the vessel was given to them (what is known among the Portuguese as 'desenrascanço'). Desenrascanço is in fact the opposite of planning: it's managing that any problem does not get completely out of hand and beyond solution.
.

domingo, 16 de novembro de 2008

MAIS OBAMA


A "ILEGITIMIDADE" DA IDENTIDADE NACIONAL

Filomena Embaló*


08.11.2008



A eleição de Barack Obama à magistratura suprema dos Estados Unidos da América constitui um acontecimento sem precedentes na história deste país. O sonho de Martin Luther King começa finalmente a tornar-se realidade: o sonho de negros e brancos estadunidenses viverem harmoniosamente e serem iguais. Barack Obama, filho de um imigrante queniano e de uma norte-americana branca, mestiço ou "bi-racial" como se diz localmente, "afro-americano", "negro", foi escolhido pelos eleitores do seu país para, durante os próximos quatro anos, dirigir os destinos da Nação e representá-la no mundo inteiro. Foi uma vitória pessoal, mas também a de toda a comunidade "afro-americana" que durante mais de dois séculos vem lutando pela igualdade de direitos e contra a discriminação. O continente africano jubilou também com este plebiscito, pois um "filho de África" estará ao leme da primeira potência mundial, glorificando assim o continente e os povos africanos. Com ele espera-se um outro olhar e uma nova sensibilidade da Casa Branca em relação à África. Apesar da sua origem africana, Obama é acima de tudo um cidadão dos Estados Unidos, Foi lá que ele nasceu e viveu. A sua nacionalidade é a norte-americana. A sua cultura é a cultura norte-americana, com a qual se identifica. Ele partilha com todos os estadunidenses os mesmos valores, a mesma identidade nacional, o mesmo "sentir norte-americano", a mesma língua, o mesmo solo, a mesma História e a mesma bandeira. E tudo isso faz dele um cidadão de pleno direito que hoje o elevou à mais alta magistratura da Nação. E, como disse, a África está orgulhosa deste "filho" e muitas foram as individualidades africanas que nas antenas das rádios internacionais disseram que os Estados Unidos mostraram que ainda podem dar lições ao mundo e em particular à "velha" Europa. E eu acrescentaria: e sobretudo à Mãe África, estripada pela violência da intolerância! Pois, pergunto-me, se Obama tivesse nascido num país africano, de mãe originária desse país e de pai imigrante (ou vice-versa), em quantos países ele seria elegível à Presidência da República? A lista não deve ser muito longa... Na Guiné-Bissau, infelizmente, ele não teria esse privilégio, uma vez que o Artigo 63°-2 da Constituição diz serem "elegíveis para o cargo de Presidente da República os cidadãos eleitores guineenses de origem, filhos de pais guineenses de origem, maiores de 35 anos de idade, no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos", com a ambiguidade de não se saber o que se entende por "guineense de origem", ou a partir de que geração se é considerado ser "guineense de origem"... O maior paradoxo disto é o facto destes critérios excluírem o próprio Fundador da nacionalidade guineense, Amílcar Cabral. Quantos "obamas "guineenses existem na Guiné-Bissau? Quantos guineenses nascidos de um genitor guineense e de outro estrangeiro que viveram sempre na Guiné-Bissau, sem nunca ter tido outra nacionalidade que não a guineense e sem qualquer contacto com o país de origem do genitor estrangeiro, estão interditados de se candidatarem às eleições presidenciais? Serão eles menos guineenses do que os que têm ambos os pais de "origem guineense"? Não partilham eles com os seus compatriotas os mesmos valores, a mesma identidade nacional, o mesmo "sentir guineense", a mesma língua nacional, o mesmo solo, a mesma História e a mesma bandeira, tal como Obama com os seus compatriotas? Será a identidade nacional guineense uma noção vazia que não dá qualquer legitimidade ao cidadão? Por quê esta discriminação, quando o Artigo 24° da Constituição da República diz que "Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção de raça, sexo, nível social, intelectual ou cultural, crença religiosa ou convicção filosófica"? As disposições do Artigo 36°-2 não serão uma discriminação racial? Não estaremos perante uma contradição entre as disposições destes dois artigos da Lei Fundamental? A Guiné-Bissau, como país colonizado que foi e como terra de acolhimento que tem sido, terá que aprender a assumir a integralidade da sua história, bem como a população que hoje tem, fruto dessa história. Esperamos que a eleição do Presidente Obama, para além de trazer as tão esperadas estabilidade e paz no mundo, constitua, em particular para o continente africano, um exemplo de tolerância, em que cidadãos com as mais diversas origens escolheram um presidente não pela cor da sua pele ou pelas suas origens, mas pelas ideias e valores que defende. E se nós, africanos, também tivéssemos um sonho?... Não é o sonho que comanda a vida? Tudo depende do nosso querer, pois, querendo, we can!


* de raízes caboverdeana e guineense, nasceu em Angola, em 1956

domingo, 9 de novembro de 2008

OBAMA


OBAMA E UM ACTO DE CULTURA UNIVERSAL

Manuel Rui Monteiro

poeta angolano

Eu sempre me confundi na realidade com a utopia. Ou na insatisfação constante como forma quase de fingir felicidade na busca, na procura e imitação de coisas muito simples como o voar dos pássaros, o declinar do sol, o brilho das estrelas e o mistério das conchas que aconteciam com os meus pés à beira mar na areia. Sempre não me conseguindo encontrar com o paraíso do infinitamente bom e infinitamente belo para todos, quase desinfinitando a morte que é o único lugar infinito mas parte da vida, o infinitamente belo que até poderia ser um contraste com o infinitamente bom que sempre para mim ficaram sem ser, iguais à inexistência ou à infelicidade de não procurar mais nada, muito antes da nostalgia ou depois da saudade da morte.
Afinal viver é também não imaginar aquilo que pode acontecer enquanto estamos vivos. Só que eu nunca pensei que em vida, para além de tanta coisa que estava, ainda que muito longe, mas no horizonte por detrás da noite e da nuvem, pudesse ainda ter vivido sonhos, porque a minha geração viveu sonhos depois de os ter sonhado no passa-palavra de muitos silêncios. E também viveu a morte de muita alegria triste.
Mas agora era demais. Numa data e hora em que um grande amigo meu fazia anos. Quatro de Novembro. Eu a telefonar-lhe e ele quase ou mesmo esquecido do seu aniversário por causa de OBAMA.
Era algo que nos tocava e falámos ao telefone. Porque era uma coisa que estava impensada no nosso tempo. A utopia tinha ultrapassado a nossa imaginação. Já não era tanto uma eleição ou uma vitória. Fazia semanas que vivíamos a novidade. Principalmente porque OBAMA falara mais ou menos que se mudarmos a sala podemos mudar a casa; e se mudarmos a casa podemos mudar a rua; e se mudarmos a rua podemos mudar a cidade; e se mudarmos a cidade podemos mudar o estado; e se mudarmos o estado podemos mudar o País; e se mudarmos o País podemos mudar o mundo. OBAMA, em gesto de sagrado, no discurso de Filadélfia, tirou o pé do tiro do reverendo Jeremiah Wright. Embora o reverendo tivesse razão mas era uma razão da memória e da injustiça. Uma razão sobre os que haviam sido negados como pessoas, deixando suor e sangue nas plantações de tabaco e açúcar. Uma razão que podia ser entendida como rancor.
Nesse discurso, OBAMA trouxe uma utopia ligando a jovem Ashley e um mais velho que estava ali por Ashley estar.
No dia e hora em que escrevo este texto ainda não sei se OBAMA ganhou. Mas não é tanto por isso que estou a escrever. É mais por causa do outro que nunca percebeu que eu existo e ele só pode ser também se deixar de estar assim para podermos ser todos.
OBAMA tem um significado do maior acto de cultura universal do início deste século. No século passado, quem tinha televisão ficou uma noite inteira à espera que um homem pisasse a lua.
Neste princípio de século, OBAMA conseguiu criar uma energia, um astral de muitas mãos inteiras pelo pensamento de pessoas de todas as partes do mundo, numa corrente parecida com uma constelação de paz sem fronteiras. E Isso é um acto de cultura que vai ficar.
Não importa que este Messias traga milagres. Importa é o milagre cultural de pôr uma boa parte do mundo inteiro a olhar para ele como um salvador e perder uma noite só a olhar para um televisor como se OBAMA fosse uma madrugada.
No século passado, foram à lua. Agora OBAMA parece que desceu da lua e chegou à terra.
No século passado foi Mandela.
Mas antes de Mandela, o reverendo Luter King já tinha orado que tinha um sonho. O reverendo foi assassinado por causa do sonho.
Mandela tornou realidade um bocado do sonho do reverendo. Por cima de tanta memória que sobrou para os blues.
OBAMA acrescenta mais um bocado de realidade ao sonho do reverendo.
Como Agostinho Neto deixou escrito:
E DO DRAMA INTENSO

DUMA VIDA IMENSA E ÚTIL

RESULTOU CERTEZA
AS MINHAS MÃOS COLOCARAM PEDRAS

NOS ALICERCES DO MUNDO

MEREÇO O MEU PEDAÇO DE PÃO.
manuel rui
foto:Wikipédia


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

AHORA,PREGUNTO A...

.... los portugueses que leen este blog.¿Es verdad, que desde 1992 funciona en Lisboa la fundación "Alergia al Trabajo"?.
Si así fuese...me parece óptimo!!!.
Marita faini Adonnino-Argentina

Curiosos datos rescatados

DE SUEGROS Y YERNOS

"Según cuenta la historia,un tal Paul Laforgue desarrolló un documento que circuló durante el siglo XIX donde reivindicaba al ocio como una sana forma de vida. La cosa es que este señor no era ni más ni menos que el yerno de Karl Marx. O sea que mientras uno analizaba concienzudamente la relación entre el Capital y el Trabajo, el otro se convertía en el abanderado del ocio, a través de su trabajo denominado "El derecho a la pereza". Material que presentó ante el Parlamento francés para que se instituyera al 2 de mayo como "Día Internacional del Ocio", en honor a los 67 mineros de Dantzing (Polonia) asesinados durante una huelga a favor de una reducción de su jornada de trabajo.
La petición no prosperó y al hijo político del padre del Marxismo lo madaron a....trabajar.Sin embargo, la propuesta fue rescatada del olvido en 1989 cuando en Bordeaux (Francia), durante el intento de formación de la Internacional Ociosa, se elaboró un documento titulado "Prolegómenos para una sociedad del ocio". "

(Extraído de la Revista CH de Cable Hogar, número 110 de mayo 2007-Rosario-Argentina.

Counter II

Counter