sábado, 5 de dezembro de 2009

Leyendo a Helder ¿puedo decir ,también ,algo del tiempo?

El tiempo no existe-afirman algunos con sentencia casi científica-, es una medición creada por el hombre. Pero ayer fue primavera en nuestros cuerpos y hoy ha llegado el otoño en él ¿entonces?...
La evolución, en todos sus órdenes, necesita del tiempo; el embrión para desarrollarse sólo lo logra a través del tiempo; la flor para tornarse en fruto lo hace de la mano del tiempo.
Por el equinoccio los días son iguales a las noches, lo son en duración ya que la noche y el día son totalmente diferentes.
El tiempo deja en nosotros sus huellas como el invierno las deja sobre los campos.El tiempo enciende sus luces en los rostros de los jóvenes y en las ciudades pujantes como la primavera estalla en los jardines. Sólo que " el tiempo" afecta a cada uno de nosotros de manera diferente.
A unos les es indiferente; otros se aferran a sus manos huidizas con cierto sabor a lágrimas en sus bocas; otros se sientan frente a frente a dialogar con él.
¿Y a ti ,lector del blog, cómo te afecta el tiempo?.
¿A mí? Pues verás, siempre fui una atormentada por el pasar del tiempo.Creo que nada me ha dolido más.Rememoro en una calle, en el color del día, en un soplo de viento momentos que no es posible que vuelvan, porque ya sabemos ...la vida, el tiempo...se los llevan. Y aquí estamos nosotros perplejos, no sabiendo por qué nuestro pasar por el mundo debe, entre otros no explicables, experimentar este fenómeno doloroso. Aunque hay otros momentos experimentados que me llevan a decir-Qué suerte que nada es para siempre!
Ahora, ya sabes de qué manera me afecta este señor inaprensible.
Marita Faini Adonnino-Argentina

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Oh! TEMPO !!!!!

Que o tempo “passa depressa” todos nós sabemos, uns de forma cruel ao atingirem o fim da linha, outros em estado paulatino deixando “correr o tempo”, que é, como quem diz, “te preocupes ou não, o tempo passa na mesma”, 24 horas serão sempre 24 horas, ainda que possam ter mais uns segundos ou menos conforme os caprichos dos astros (ops, reparei agora que fiz uma frase mais longa que o habitual, deve ser por andar a ler o Caim do Saramago).
O tempo foi sempre um factor de importância fundamental na vida das pessoas, especialmente porque permite entabular interessantes e culturais conversas nos elevadores, quando a pessoa que entra, se encosta a um dos lados e se põe a olhar fixamente para a ponta dos pés, não se sabendo, se não usarmos o tempo como tema de degelo, se o companheiro ou a inesperada companheira de viagem ascendente – pode também ser descendente, mas prefiro a primeira – se ela baixou a cabeça por um passageiro acesso de timidez, ou se, menos prosaicamente, se deu conta de que tem os sapatos sujos.
A propósito de ascensores, elevadores ou lá o que são aquelas maquinetas imprevisíveis que nos podem deixar entalados entre dois pisos por mais de uma meia-hora, isto quando se tem sorte, há algo que me irrita solenemente e me faz “trepar” às paredes - nem que sejam do elevador - e que é quando o companheiro de viagem, ao entrar desajeitadamente no PISO ZERO com a mochila às costas, mala de computador numa mão e o telemóvel na outra, me pergunta delicadamente: “vai subir?”. Dá-me vontade de responder: “sim, sim, para cima”. Disfarço o desconforto. A única resposta que sou capaz de dar é ficar a olhar para o relógio e cronometrar os dolorosos segundos que a geringonça vai demorar a subir até ao destino de um dos dois. Seja qual for a medição, será sempre uma eternidade.
O tempo, sempre o tempo.

Por vezes, vem o tão tradicional quanto maior lugar-comum do mundo, na forma de conversa meteorológica: “parece que vai chover, o tempo está estranho”. Mas porque pecados terei eu que me preocupar com o raio desse tempo, se até estou fechado numa caixa de metal a resfolegar numa subida que nunca sei se terá final? Às vezes gostaria que não parasse, que fosse por aí acima e o meu relógio salvador de situações embaraçosas parasse e me ajudasse a esquecer a velocidade do tempo. É óbvio que o relógio pode parar as vezes que lhe der na real gana de máquina dependente duma pilha hermafrodita que não distingue o pólo positivo do negativo. Mas enfim. Todos os relógios do mundo podem parar, deixar de funcionar, ficarem mudos e quedos, não será por isso que o tempo pára. O que reforça a inutilidade do tema daquela famosa canção “Oh tempo, volta pra trás”.

O que é o tempo? Santo Agostinho, no ano 400, escreveu nas suas Confissões o seguinte: “Que é o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? (...) Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos; compreendemos também o que nos dizem quando nos falam dele. Que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”


Angustia-me esta filosófica questão do tempo. Não o de “A Chuva e o bom tempo” do Jacques Prévert que, num dos seus habituais desafios ao bom senso preguiçoso, escreveu : “ j’ai pensé parfois mettre fin à mês jours, mais je n’ai pas su par lequel commencer” (pensei por vezes por fim aos meus dias mas não soube por qual deles começar). Não acompanho Prévert nessa ideia de ter pensado dar um fim aos meus dias (coitadinhos) sabendo de antemão que não saberia por qual deles começar. Isso seria, quiçá, querer protelar qualquer coisa, ganhar tempo, ou, simplesmente, lançar uma “boutade” e esperar as reacções. Além do mais, os meus dias fazem-me falta e quero vivê-los em todas as suas 24 horas.
Para isso confio nos relógios, nos pêndulos, nos metrónomos, nos tempos musicais, e em quaisquer outras formas de medir tempo. E até nem me preocupo nada em saber se cada minuto é igual ao outro, se cada um tem os mesmos sessenta segundos - se um não terá mais uns centésimos do que outro – e até me estou marimbando para o “isocronismo das oscilações do tempo” descoberto pelo amigo Galileu. Lembram-se ? Aquele teimoso que, mesmo condenado pela Igreja (nos idos do séc. XVI) por defender a teoria do heliocentrismo, segundo a qual a terra move-se em torno do Sol, reiterou, ainda que timidamente: “Eppur si muove”.
Me parece cada vez mais plausível a ideia de que nos andamos a enganar uns aos outros das mais variadas formas, usando os mais diversos meios. Não me refiro aos políticos que, esses, são naturalmente enganadores profissionais. São especialistas em “ganhar tempo”. Os mais chegados, os amigos até, aqueles que gostam de nos convencer de coisas que não têm verdadeiro suporte. Ou sou eu que não vislumbro onde eles querem chegar quando me dizem: “Eh pá, tás com bom aspecto, o tempo não passa por ti !!!”.

Não passa porque me entra por aqui a dentro, entranha-se pelos poros, instala-se soberano e provocador, desgasta por aqui, por ali. Deixar de usar relógio não resolve nada como já se viu mais atrás, o tempo não pára.
Há paliativos, lá isso há. Aqueles comprimidos. Os “health clubs”, botox não gosto, quando muito uma ida ao cirurgião plástico para esticar umas peles, não muito para não levantar a perna quando rir, ajudam a crer que “retardam o tempo”. Suspeito que é mais psicológico do que fisiológico.
O tempo não passa por ti”. Pois, pois !!!!!! Tábem!!!
Vale o inesgotável Carlos Drummond de Andrade para me tirar das angústias, das incertezas, das dúvidas, no seu poema O TEMPO PASSA? NÃO PASSA, quando diz:

Não há tempo consumido
Nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
De amor e tempo de amar.


Helder de Sousa
imagem de Mariliza Silva



quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O GRITO


Volto à doméstica política e volto mais uma vez a um escrito do Miguel Sousa Tavares. Se a situação política em Portugal fosse um jogo de futebol (parece que se chama agora, partida, deve ser futebolês com que ainda não me familiarizei), era fácil resolver a questão culpando o árbitro. Mas a desgraça é tal que o país de Camões, de Vasco da Gama, de Pedro Álvares Cabral e de tantas outras ínclitas figuras, já não tem sequer árbitro. Dizemos, nós, os sem iates e sem Ferraris, nós, os das casas e ordenados penhorados que "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão". O drama é maior do que parece quando um povo já perdeu a força do direito à revolta num país onde "os que mandam" dão os piores exemplos de falta de respeito pelas pessoas. Miguel volta a por a mão na ferida, volta a gritar aquilo que já ninguém mais grita. Gostaria eu que não fosse uma voz a pregar no deserto.


Leiam esse grito do Miguel Sousa Tavares.




As más companhias


Miguel Sousa Tavares (http://www.expresso.pt/) Segunda-feira, 16 de Nov de 2009



Pode ser que me engane, mas o potencial de danos que Armando Vara pode vir a causar a José Sócrates é bem maior do que todos os outros casos ou pretensos casos que tanto desgastaram a imagem do primeiro-ministro e tão decisivamente contribuíram para a perda da maioria absoluta do PS. Armando Vara (e não a 'Face Oculta') tem a capacidade de, por si só, arrastar Sócrates para a queda num poço de que se desconhece a profundidade. Há amizades que matam, quando se misturam com outras coisas que não são misturáveis. Foi José Sócrates quem, em nome da amizade (porque competência ou qualificação para o cargo ninguém a conhecia, nem ele), fez de Armando Vara administrador do banco do Estado, três dias depois de este ter adquirido uma espécie de licenciatura naquela espécie de Universidade entretanto extinta - e porque uma licenciatura era recomendável para o cargo. E foi José Sócrates quem, indisfarçadamente, promoveu a transferência de Santos Ferreira e Vara da Caixa para o BCP, numa curiosíssima operação de partidarização do maior banco privado português, sobre as ruínas fumegantes do escândalo em que tinha acabado o case study da sua gestão 'civil'. Manda a verdade que se diga, porém, que estes dois golpes de audácia de José Sócrates em abono de um amigo e compagnon de route político foram devidamente medidos: aparentemente, Sócrates contava com o silêncio e aceitação cúmplice com que toda a classe empresarial e financeira recebeu a meteórica ascensão de Armando Vara aos céus da banca e o take-over do PS sobre o BCP, como se de coisa naturalíssima se tratasse. O escândalo não ultrapassou as fronteiras da opinião pública, de modo a perturbar o núcleo duro do regime. E isso foi um primeiro sinal do nível de promiscuidade aceite entre o político e o económico a que estamos agora a assistir. E, em silêncio sempre, toda a classe empresarial clientelar foi assistindo a uma série de notícias perturbadoras sobre operações bancárias a favor de algumas empresas ou investidores que, por acaso certamente, pertencem ao tal núcleo duro do regime, que goza do favor político da actual maioria. Sempre escrevi aqui que, em minha opinião, o problema do PS não é o que ele deixa de fazer em benefício dos pobres, mas o que faz e consente em benefício dos potentados. O fascínio com o grande capital e os grandes negócios (inspirados, promovidos ou pagos pelo Estado) é a perdição do PS. Aos poucos, este PS tem vindo a copiar o modelo de gestão introduzido por Alberto João Jardim na Madeira: negócios privados com oportunidades e dinheiros públicos, em troca da solidariedade política para com o Governo. Um capitalismo batoteiro, com chancela 'social' e disfarce de 'interesse público'.Neste clima de facilitismo instalado, já ninguém se espanta com as sucessivas e tremendas notícias sobre o estado de gestão do 'interesse público'. Já não espanta descobrir que nenhuma das contrapartidas da ruinosa e inútil aquisição dos submarinos tenha sido executada e que a sua execução nem sequer esteja devidamente salvaguardada no contrato assinado pelo Estado português. Não espanta que a Grão-Pará (uma empresa que não existiria sem os sucessivos favores do Estado, incluindo do ex-ministro e ex-socialista Pina Moura), possa, finalmente e com o beneplácito do Supremo Tribunal Administrativo, construir, e em grande, na zona de construção proibida do Parque Natural Sintra-Cascais. Não espanta que, antes mesmo de lançadas ou terminadas as obras, as últimas seis concessões de auto-estradas já tenham ultrapassado em 40% o valor das estimativas do Governo - num impressionante 'deslize' de 1110 milhões de euros. Não espanta que o Tribunal de Contas chumbe duas das adjudicações porque as condições em que elas foram outorgadas não são as mesmas do concurso público, mas substancialmente mais gravosas para o Estado. E não espanta que o presidente das Estradas de Portugal venha afirmar que se trata apenas de "interpretações jurídicas" diversas e que a suspensão das empreitadas irá pôr em causa postos de trabalho (um 'argumento' mágico que vale para justificar todas as tropelias cometidas nos últimos anos, em matéria de urbanismo e obras públicas). E não espantará ninguém que, como aqui escrevi a semana passada, em breve se descubra que, antes mesmo de iniciadas as obras, já o TGV e o aeroporto de Alcochete 'derraparam' 20 ou 30% sobre o seu custo anunciado. E, se se conseguir penetrar a meticulosa teia de 'pareceres' técnicos, estudos, cláusulas ocultas dos contratos, arbitragens sempre desfavoráveis ao Estado, se formos tentar descobrir como, porquê e a favor de quem é que não há uma obra pública que cumpra o orçamento, encontraremos sempre mais do mesmo - os mesmos processos, os mesmos truques, as mesmas empresas, os mesmos 'facilitadores' de negócios no papel de go between entre o 'interesse público' e os negócios privados. Isto, num país onde o défice das contas do Estado chegou aos 8% e a dívida pública aos 80% do PIB e o extermínio fiscal sobre os que pagam impostos se tornou insustentável. O ar está a ficar irrespirável.Como se tudo isto não fosse já alarmante, eis que a justiça implodiu de vez e à vista de todos, em sucessivas cenas lamentáveis na praça pública. A coisa ficou tão anárquica que já se tornou normal ver os jornalistas irem pedir opiniões sobre os casos mediáticos pendentes aos sindicatos dos juízes e do Ministério Público! Não fosse a PJ (única entidade da justiça que ainda merece algum crédito) e um seu investigador de Aveiro, e a 'Face Oculta' nunca teria conhecido a luz do dia ou teria logo patinado. Mas, como os maus hábitos nunca se perdem, eis que tudo já entrou na normalidade, com as escandalosamente normais fugas do segredo de justiça a invadirem a imprensa, tratando de sabotar alegremente uma investigação até aqui conduzida num exemplar silêncio e profissionalismo. E já só pode dar vontade de rir (ou de chorar!) assistir ao espectáculo único de ver os dois mais altos magistrados do país - o presidente do Supremo e o PGR - trocando galhardetes de antiga amizade fundada em rivalidades sindicais, empurrando um para o outro as malditas escutas entre Armando Vara e José Sócrates. Seja qual for o conteúdo de tão sensível material, e mesmo que jamais o venhamos a saber, eles conseguiram já o pior de todos os resultados: instalar uma suspeita mortal sobre o primeiro-ministro e o funcionamento da própria justiça, que não tem reparação possível. É, de facto, notável que o único cidadão deste país que não entende que há coisas que não podem esperar dois meses ou até oito dias para serem reveladas, seja o cidadão que ocupa o lugar de procurador-geral da República! Realmente, o lugar parece estar amaldiçoado e desde há muito.Junte-se então um governo cujo primeiro-ministro é dado a companhias comprometedoras, um sistema em que se fundem e confundem o político e o económico, o público e o privado, uma justiça que verdadeiramente se tornou cega e surda, mas não muda, um Presidente da República que se desautorizou a si próprio no pior momento, e um país onde as noções de interesse público e serviço público já quase se perderam por completo sem vergonha alguma, e tudo isto começa já a cheirar indisfarçadamente mal. Cheira a fim de regime e só os loucos ou os extremistas é que podem achar isso uma boa perspectiva para o futuro.




Texto publicado na edição do Expresso de 14 de Novembro de 2009


sábado, 21 de novembro de 2009

o discurso


Hoje é, por ter mesmo que ser, o dia de todas as palavras. Dia de que cada um que passar por esta tribuna se lembrará até ao silêncio sagrado da sepultura, a menos que, antes, venha desse mistério do Cosmos a brutalidade de um varredor de memórias como o Alzheimer e nos dê cabo de uma das mais belas relíquias conservadas nos labirínticos baús do cérebro. Quero muito sinceramente chegar ao rude calar da voz, ao apagar cruel da vida, com a estampa desta tarde feliz em condições de ser recordada sempre.

Meus amigos,
No dia de hoje, 21 de Novembro de 2009, eu e mais doze outros angolanos vencidos pelo vício bom da escrita, descobrimos a fórmula infalível de se ganhar peso no tempo curto de uma cerimónia pública. Na verdade, ao franquearmos as portas desta Casa e assumirmos a ousadia de reviver o mesmo ambiente que Agostinho Neto inaugurou sendo muitos de nós meninos farruscos do areal, alguns fazendo gatafunhos nas creches que Angola não possuía e outros até ainda sem estarem contemplados pelo dom da vida, só poderemos sair daqui da única maneira que é possível: com mais peso sobre os ombros: o peso da responsabilidade de cidadão, de patriotas, de homens e mulheres que optaram por servir Angola no campo que lhe confere a dimensão da glória e do respeito num Mundo de disputas pela notoriedade, a cultura.
Portanto, sabemos todos o que este compromisso que assumimos agora vai significar daqui para a frente. Não nos tornamos notáveis nem estrelas; somos – isso sim – cidadãos com os passos escrutinados, a preguiça questionada, a qualidade cobrada segundo padrões mais exigentes, porque os leitores – esperamos – vão aumentar exponencialmente.
Estamos a ter os nossos quinze minutos de fama e é como se diz na gíria quase maçónica dos negócios: “não existem almoços de borla”. Se a União de Escritores Angolanos teve a gentileza de nos acolher no seu regaço, quererá com certeza alguma coisa em troca. E ainda bem: faz-nos o único pedido que dela pode partir, que escrevamos muitos e bons livros, para que as letras angolanas se suplantem na qualidade, nos temas, na diversidade, nos nomes.
Aproveito para anunciar, desde já, que farei a minha parte. Num intervalo curto de dez dias, se as velhas armadilhas das gráficas forem tolerantes, terei todo o prazer de voltar a ver-vos a todos nesta sala, para receberem “Um Ano de Vida”, o livro que escrevi aos pedaços mas disciplinadas entregas de sete em sete dias.
E é por este mesmo parto anunciado que vou começar por lembrar-vos os caminhos da minha escrita, dizendo que Um Ano de Vida pertence-nos a todos, certamente mais que qualquer outro livro que tenha escrito antes.
Primeiro, porque são crónicas recentes, que ganharam expressão material desde o dia 14 de Novembro de 2008, quando nos lançámos na ousadia do jornal O PAÍS, obedecendo a outra minha paixão incorrigível: o jornalismo.
Digo que é um livro de todos porque os motivos, os temas, a inspiração, vieram de todo o lado. Nada nem ninguém, quase, ficou de fora. Estão os tempos de yakala yá, quando as pedras na madrugada tinham estatuto de fila humana e o recolher obrigatório deixava nos cidadãos a incerteza entre o deixar-se estar em casa e o pão que faltaria, com a berraria desatinada dos filhinhos que, por mais que se lhes explicasse, nunca entendiam o que era isso de comida racionalizada, a carne à míngua, o arroz aos quilinhos, o açúcar às colheradas. Estão as alegrias desse tempo esquisito, quando era um acto de heroísmo shakesperiano ou valentia troiana, conseguir ao meio-dia um prato de arroz com peixe frito, acompanhado de um batalhão de finos em copos reco-recos da Vidrul, bebidos depois com um desespero de tuaregue do Sahara no inesperado oásis que segura o minúsculo fio de vida. São crónicas do absurdo e do nobre, da inocência e do grotesco. Trazem tudo como num bom sarrabulho servido num quintal com alma angolana, onde cinco convidados depois se transformam em dez, quinze, dezanove, vinte e muitos, porque a música já levanta poeira e a vizinhança resolveu entrar também, os amigos dos amigos são convocados de emergência para darem cabo da cerveja que ameaça sobreviver à caçada.
É assim como espero que Um Ano de Vida seja recebido, por ser um livro que traz muito dos meus encontros e desencontros com Angola, as suas gentes simples, os meus camaradas de profissão, as minhas viagens de repórter mas, sobretudo, o meu nunca oculto amor pelas pessoas e os lugares que o apelo da grande cidade deixou. São crónicas com sabor ao mais palpitante dos lugares que piso sob este céu azul de África, o Tomessa.
Sim, porque foi ali que tudo começou, um dia.
Nasci de pais humildes e batalhadores. Meu pai, um multiofício que tanto fazia calças para os vizinhos, desenrascava uma janela para o forasteiro, ou aplicava uma injecção de quinino ao amigo que ardia em febres palúdicas. E fazia mais: ensinava os menos afortunados a descobrirem o segredo das palavras na popular cartilha João de Deus, cultivava o café, a ginguba, o feijão, o milho e a banana para a prole; mergulhava na emoção da bola no seu Sporting Clube do Banza Polo para os campeonatos das Regedorias mas galvanizava ao mesmo tempo meia Carmona no seu Clube Recreativo do Uíge, onde era estrela respeitada pelos seus golos, as suas assistências, os seus dribles de seguríssima antologia. No fim de tudo, sobrava-lhe o essencial: tempo para amar. A mulher que teve, os filhos que gerou, sete ao todo.
Do outro lado da balança, minha mãe. Mulher de armas, pequena apenas no físico, e um génio tremendo que a tornava vizinha do temível. Morreu sem poder ler os livros que o filho escreveu, porque nem a Cartilha João de Deus, nem a gloriosa Batalha da Alfabetização lançada por um filho inalcançável desta Casa –Agostinho Neto – conseguiu dar-lhe a luz das letras. Mas mesmo assim morreu infinitamente feliz, sabia que os filhos liam por ela, para ela e quase com ela.

Os meus primeiros gatafunhos num caderno foram na escola primária do Tomessa, um rectângulo de tijolo e argamassa de paredes pintadas em creme que ali ainda distribui generosamente o melhor que um povo pode ter, longe do brilho e da estridência do neón, dos Ferraris, das pesadas mascotes em ouro, dos cartões de crédito sem limite, dos poderes que esmagam os fracos: a educação.
Tratei sempre de ser um bom aluno. Aprendi cedo que nas condições limitantes de uma aldeola rodeada de verde, mato denso, barro vermelho e pouco mais, o sonho do mundo tinha de andar intensamente preso à luta pelo saber.
Os sinais de que as letras me conquistariam pertencem a um tempo curioso. Foi na transição do menino da aldeia para o colega pobre de meninos brancos, na Escola Preparatória Marechal Carmona. Lutava para nunca ter festa quando a nota na disciplina de Língua Portuguesa andasse distante do 18 ou 20. Uma aposta com expressão material nas composições que cada vez gostava mais, sobre animais, países, estados de espírito, até ao dia em que a escola inteira, com três mil alunos, foi convocada para um concurso de Redacção, cujo tema era: Se eu fosse o director…
Competia-nos, no fundo, avançar com ideias sobre a nossa escola, que já então – pleno período de esplendor económico de Carmona – tinha debilidades imensas, como infiltrações no tecto, vidros partidos e que levavam uma eternidade a repor, e casas de banho absolutamente “invisitáveis”, de tanta concentração de amoníaco e provavelmente outros gases radiactivos.
Surpreendentemente, ganhou o primeiro lugar o aluno número 13 da turma C do 1º ano do ciclo preparatório, de seu nome curto Luís Fernando.
A Redacção vencedora teve honras de publicação no jornal da escola, que não pude ler a não ser em espreitadelas aos boletins informativos dos colegas derrotados, pela simples razão de que 1 escudo e cinquenta centavos – o banal mil-e-quinhentos daquele tempo – era para mim uma fortuna ao alcance só em tempos de Natal.
Sem jornal e sem alegria, ficou contudo a ideia de que “quando eu for grande, talvez poderei sonhar em escrever livros”.
E passaram-se os anos até surgir o capítulo Cuba, em 1986. Foi aqui, nas cadeiras de Literatura, sobretudo o decisivo encontro com vultos das letras latino americanas como Jorge Luis Borges, Alejo Carpentier, Pablo Neruda, que a suposição se fez certeza. Mas a saga dos Buendía naquele Macondo mítico de Cem Anos de Solidão, onde a escrita do colombiano Gabriel García Márquez celebra a níveis estonteantes o culto do improvável, acabou em mim qualquer vacilação que poderia alguma vez existir: tinha de ser escritor.
Devo, portanto, a “última palavra” ao homem que descreveu as peripécias dos ciganos naquele povoado perdido de uma Colômbia de economia a gravitar ao ritmo do cultivo da banana; o mago que acreditou no amor senil em tempos de cólera e mostrou a nudez cruel de Simón José António de La Santísima Trinidad Bolívar y Palacios, ou seja, Simón Bolívar, em o General no seu Labirinto. É ao Prémio Nobel de Literatura 1982 , Gabriel José García Márquez, nascido como eu numa aldeia sem direito a coordenadas geodésicas nos mapas, em Aracataca, que em última instância devo o empurrão decisivo para a aventura da escrita.
Lancei-me a ela ainda em Cuba, com um primeiro livro que poucos conhecem, fora do estrito âmbito da minha família. Chama-se Com Sabor a Terra, e fala – o que esperam? – do meu inigualável Tomessa. Se fosse vendido nas livrarias longe do lugar em que nasci, teria seguramente ganho carradas de pó e as aranhas fariam dele um salão de festas, com as suas teias caça-moscas. Nunca foi vendido e os seus 25 exemplares, saídos de uma gráfica artesanal na envelhecida Havana dos barbudos, acabaram oferecidos a alguns dos protagonistas da história simples do meu Tomessa.

Regressei a Angola em 1992, num ano em que todos sonhávamos com a democracia que o Mundo rico dos outros sempre disse ser um bom sistema de vida. Cheguei tarde para as eleições mas não para os bombardeamentos que por pouco interrompem mais cedo a minha missão na Terra. Dois obuses no quarto andar do prédio dos Combatentes onde tinha acabado de montar poiso, foi o suficiente para perceber que, para alguns, as eleições só são mesmo livres e justas quando se ganham. A derrota nas urnas sempre pode ser reclamada como fraude massiva e generalizada.
Mas, adiante. Hoje o dia é para a festa das letras, e nada mais!
No ano de 1999, perto da viragem do século, entendi que tinha já em baús dispersos aqui e ali umas Noventa Palavras que poderiam provavelmente ser do interesse do público. Decidi enfrentá-lo, com a Executive Center a aceitar o desafio e o amigo José Patrício, à época embaixador de Angola em Portugal, a honrar-me com as palavras do prefácio.
Os anos de jornalismo, com reportagens inquietas de um viajante, crónicas sobre lugares únicos como a Nova Iorque das Torres Gémeas, Hong Kong e Roppongi, em Tóquio, onde os boémios temos uma rua inteira só para nós, com bares loucos e discotecas mais loucas ainda, preenchem o livro de estreia.
Depois houve que selar a transição com que sonha qualquer jornalista que anda na profissão não para arrecadar alguns cobres suados: aventurar-se no seu primeiro romance. Fi-lo em 2002, numa sexta-feira 13, dia de azar. Para espantar os mitos e as superstições com um livro, todo ele, cheio de mitos e crenças mal explicadas de uma infância no campo. A Saúde do Morto, inspirada na saga de um uigense que construiu fama no Negage, Kibabo, com o seu mau hábito de morrer nas celas da PIDE, deixar-se apodrecer e seguir em frente com as suas tropelias, dias depois. Na narrativa, o feiticeiro-mor transmutou-se para João Kyomba.
Antes do Quarto veio a seguir. Com o título, as interpretações maldosas. Mas nada que não se explicasse. Se era o terceiro livro, não tinha porque não chamar-se Antes do Quarto.
Revisitei, com ele, a velha paixão do jornalismo. Crónicas que fui deixando no Jornal de Angola, ao qual estive ligado por mais de uma década, deram o volume 3 das minhas futuras Obras Completas.
O sucesso de João Kyomba com a sua saúde à prova de tudo, inspirou o prolongamento da saga. Mudou-se do campo para a cidade – e não uma cidade qualquer mas a sofisticadíssima Nova Iorque – e nasceu assim João Kyomba em Nova Iorque. Só tropelias, pois claro!
A generosidade da crítica e as palmadinhas nas costas afastaram da paisagem a veleidade da desistência. Que aliás nunca se colocou, mesmo quando os livros não melhoram a conta bancária de ninguém, entre nós.
Clandestinos no Paraíso foi o senhor que se seguiu. Luanda no seu melhor, onde um vencedor Alegria da Costa, vive numa semana o que nem Dom Quixote de La Mancha nem qualquer outro aventureiro conhecido do universo das letras, conseguiu alguma vez igualar. Champanhe e tresloucadas aventuras na horizontal fizeram dele o herói burlesco de um súbito enriquecimento que veio com a fábrica de banana seca em Cacuaco.
Depois dele, a desaceleração que também faz falta, para retomar o fôlego. Em 2008, na cidade onde me iniciei na escrita de notícias, o Uíge, entendi comemorar os meus trinta anos de estrada lançando A Cidade e as Duas Órfãs Malditas. Trezentos quilómetros distante do seu cenário, a Luanda da segunda metade do século dezanove, onde duas inocentes muito pouco inocentes, já dominavam a arte de embaraçar os senhores da alta sociedade transmitindo-lhes gonorreia em doses cavalares.
Um romance de época, que já despertou o interesse de um realizador estrangeiro que o quer levar ao cinema, mas que para mim é como todos os livros que escrevi até aqui : simples exercício de prazer, para que me divirta eu e se divirtam, comigo, todos os que sabem que precisam de conseguir tempo para ler.
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Este sou eu. E ponto final.


União de Escritores Angolanos, em Luanda, aos 21 de Novembro de 2009

Luís Fernando

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É para se ver como se escreve português em Angola.

Este texto é o discurso do escritor e jornalista angolano Luis Fernando, no dia em que foi admitido na prestigiada UNIÃO DOS ESCRITORES ANGOLANOS.

no comment

Na Na ilha de Luanda, a servir de separador da estrada da ilha.

domingo, 1 de novembro de 2009

AS IMAGENS DO LUIS

A INSUPORTÁVEL DAMA DO SAPATO VERMELHO

Ele faz o favor de me distinguir com uma admiração mais própria dos jovens em relação aos deuses da pop do que aquela de que me julgo minimamente credor: nenhuma.
Mas o Luís Fernando insiste em afirmar que me idolatra - o exagero é meu - desde os seus tempos de miúdo de escola e pé descalço no Uíge, antiga cidade de Carmona. Dizia-se ser a capital do café, a terra onde moravam mais produtores de café por metro quadrado. Curiosamente a riqueza nos bolsos desses “homens do café”, ou roceiros, em pouco ou nada se reflectia no desenvolvimento da cidade talvez porque grande parte do pecúlio ficava empenhado em cocktails falsificados nos cabarets da capital.
O Luís conta sempre a quem chega de fresco à redacção que o Helder era o ídolo dele naqueles tempos em que, como outros miúdos, corria morros e vales para ir ver as corridas de automóveis na cidade. Mal ele sabia, passados mais de 30 anos, que iria poder materializar a imagem dourada do homem do capacete ao volante de velozes e barulhentos bólidos a rasgarem as ruas de … Carmona. E, eu, mal sabia que iria cruzar-me com um antigo e incógnito admirador que, mais tarde, teria o sortilégio de reverter o sentido da admiração.
Mais do que antigo “kandengue” de pé descalço (como ele orgulhosamente se qualifica) num Uíge que ele venera e deseja fazer crescer, Luís Fernando é jornalista e escritor. Para mim, ele é um pintor sublime de palavras com que preenche telas de páginas da vida.
Se, em miúdo, eu era o ídolo dele por uma actividade efémera, agora, em idade adulta, ele é a minha referência perene em elegância na escrita. Escritor “compulsivo”, Luís Fernando faz do mais pequeno episódio do quotidiano uma estória e delicia-nos com a sua prosa alegre, corrida, expressiva.
Cada crónica dele, no jornal O PAÍS ou na revista VIDA é um manancial de figuras, de imagens que têm o condão de nos colocar directamente na acção.
Quem é que não está mesmo a ver o que é “uma respeitável dama entrada em anos, castigada pela impertinência da celulite “?
“A insuportável dama do sapato vermelho” é o título da crónica de Luís Fernando publicada na última página da Vida de 30 de Outubro deste ano. Pelo ritmo da escrita, dá a impressão que Luís Fernando a escreveu de um só fôlego, sem parar para pensar, na qual, nem o corrector automático do Word teve tempo de actuar.
É a história de uma senhora que entra, sem ter sido convidada, numa recepção dada por uma embaixada europeia, em Luanda. Se uma embaixada não é o sítio ideal para a intriga e o suspense, então não sei se haverá outro melhor para tal efeito cinematográfico. “Pareceu estranha a todos aquela voluptuosa irrupção num recinto que só concentrava casais”. Ambiente descrito, apresto-me a encostar-me ao balcão para testemunhar a sequência da prosa, quero dizer, do filme e já salivo os bombons de letras que se me apresentam a seguir.
“Cruzou na diagonal o rectângulo sem gente”, isto é, a dama atravessou um espaço vazio entre a entrada e uma zona onde se encontravam convivas. Imagino os olhares de uns … e de outras … até porque, o derradeiro troço da marcha que parecia decalcada a papel químico de uma noite de Óscares em Los Angeles” (estão a ver ???), “deu a todos a possibilidade de reparar na cor dos sapatos da misteriosa mulher: um vermelho sangue de absoluta vivacidade.”
A história desenrola-se em rápidas pinceladas de mestre. O homem a quem ela, a dama, tinha segredado qualquer coisa, “escapuliu-se em rápidos segundos, só, como se de repente um ataque de amnésia lhe tivesse arruinado o cérebro a informação de que tinha a acompanhá-lo, no cocktail de uma embaixada europeia, a mulher de toda a vida, a mãe dedicada dos seus seis filhos”.
Por respeito para com o autor e intenção pedagógica para com os leitores que deverão fazer tudo para lerem a crónica do Luis, não resisto a levantar, mesmo assim, um pouquinho mais da ponta do véu porque foi a mulher “de aspecto desmazelado por culpa implacável do tempo, da celulite e da vida rica, a lançar à desconhecida a óbvia pergunta: - quem é você?”.
Me desculpem os meus esforçados leitores, terei de omitir aqui a continuação do intrigante episódio que, de alma encantada e espírito em estado zen, não sei se aconteceu na realidade ou se, simplesmente, nasceu da inesgotável fonte criativa do Luís.
Retenho tão-somente a subliminar moral da peça onde surge mais uma voz a denunciar uma determinada forma de viver de novo-riquismo enfarpelado em belos fatos azuis às riscas “de um vencedor de nova vaga”.

hs

(consultar: www.vida.opais.net)







segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mais uma de José Saramago

"a Bíblia é um manual de maus costumes" - Saramago

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ZERO


In "Opinião" do Correio da Manhã


A partir de domingo, quando as autárquicas estiverem resolvidas e o pudor que qualquer campanha eleitoral impõe se dissipar, é natural o PSD volte a exibir, com abundância de pormenores, aquilo em que há muito se transformou: uma agremiação de luminárias sem estofo, capazes de se trucidar mutuamente, em nome de míseros interesses pessoais. A balbúrdia que se avizinha transformou-se, infelizmente, na imagem de marca do PSD.


Constança Cunha e Sá, Jornalista

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Não sou muito de alinhar na carneirada de fácil inserção, aquela que lança uma frase e a repete vezes sem conta, tapando qualquer outra intenção menos clara. Por exemplo, não alinho na ideia desvalorizadora de que o PS, que ganhou e bem as eleições legislativas, "perdeu 500 mil votos". Este número é a base da desculpa dos que perderam, como quem diz que "os tipos ganharam mas perderam", enquanto os que perderam de verdade bem manifesta nas urnas, cantam vitórias indiscutiveis. Quem chegasse agora à Terra e descesse no luso rectângulo, teria certamente alguma dificuldade em perceber esta lógica dos políticos perdedores que ganham.

Mas, o patético é "esta gente" como diz o inefável "Sinhozinho Malta da Madeira", teimar em manter a mesma estrutura mental anos e anos a fio. E, tudo o que propõe de construtivo é ZERO.

Não entenderam alguns dos muitos responsáveis políticos a clara mensagem deixada pelos eleitores ao relegarem para segundo plano um partido como o PSD, não lhe dando nem vitória nem confiança. E só não deram mais votos ao CDS do Portas porque ainda lhe falta "un petit je ne sais quoi".

Há um cheiro a podridão na política portuguesa. Mal foram conhecidos os resultados eleitorais e o CDS subiu o que subiu, surgiram logo notícias sobre a questão dos submarinos "comprados" pelo Portas na qualidade de ministro da defesa. Esgotado - por enquanto - o filão Sócrates, os fazedores de destruição viraram-se para os submarinos. A política portuguesa é tão baixa que já conseguiu ultrapassar o nível do mar.


helder de sousa



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

CÍCERO

SEM COMENTÁRIOS


Socorro-me da Wikipédia para conhecermos melhor este senhor.

Marco Túlio Cícero, em latim Marcus Tullius Cicero (Arpino, 3 de Janeiro de 106 a.C.Formia, 7 de Dezembro de 43 a.C.), foi um filósofo, orador, escritor, advogado e político romano.

Cícero é normalmente visto como sendo uma das mentes mais versáteis da Roma antiga. Foi ele quem apresentou aos Romanos as escolas da filosofia grega e criou um vocabulário filosófico em Latim, distinguindo-se como um linguista, tradutor, e filósofo. Um orador impressionante e um advogado de sucesso, Cícero provavelmente pensava que a sua carreira política era a sua maior façanha. Hoje em dia, ele é apreciado principalmente pelo seu humanismo e trabalhos filosóficos e políticos. A sua correspondência, muita da qual é dirigida ao seu amigo Ático, é especialmente influente, introduzindo a arte de cartas refinadas à cultura Europeia. Cornelius Nepos, o biógrafo de Ático do século I a.C., comentou que as cartas de Cícero continham tal riqueza de detalhes "sobre as inclinações de homens importantes, as falhas dos generais, e as revoluções no governo" que os seus leitores tinham pouca necessidade de uma história do período.[1]
Durante a segunda metade caótica do século I a.C., marcada pelas guerras civis e pela ditadura de Júlio César, Cícero patrocinou um retorno ao governo republicano tradicional. Contudo, a sua carreira como estadista foi marcada por inconsistências e uma tendência para mudar a sua posição em resposta a mudanças no clima político. A sua indecisão pode ser atribuída à sua personalidade sensível e impressionável: era propenso a reagir de modo exagerado sempre que haviam mudanças políticas e privadas. "Oxalá que ele pudesse aguentar a prosperidade com mais auto-controlo e a adversidade com mais firmeza!" escreveu C. Asínio Pólio, um estadista e historiador Romano seu contemporâneo.
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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

09.09.09 - NOVES FORA, NADA

Parece que o dia de hoje é um dia especial pelo facto de ser uma data interessante: 09.09.09. Francamente não sei se tem algum significado especial seja em que enquadramento – cabalístico, cronológico, calendário, número capicua (999) – donde, vejo minhas preocupações diárias viajarem para o destino do costume: trabalho, amigos, rotinas.
Acedo, mesmo assim, a fazer uma breve reflexão e, ocorre-me fazer a prova dos nove. O resultado não me parece muito animador, noves fora, NADA. Francamente, gosto pouco de nada. Não devo ser o único. Prefiro cultivar o positivo. Nada invoca-me niilismo, vazio, o culto do não ser, a implosão da subjectividade, como alguém o definiu.
Os niilismos moral e político, por exemplo, podem ser deduzidos do niilismo existencial; pois, se a própria existência não tem valor, isso implica que nada tem valor, inclusive valores morais, inclusive o progresso.
O único modo de compreender o niilismo existencial é através da reflexão. O vazio da existência nunca poderia ser demonstrado através da prática, ou apreendido por meio da experiência imediata. Se, por exemplo, reduzíssemos nosso planeta a nada com bomba nuclear, isso não demonstraria coisa alguma; a visão desse planeta despedaçado também não provaria nada. Tal postura destrutiva prática não faz o menor sentido; equivale a tentar refutar um livro queimando-o.
O niilismo existencial se demonstra quando reduzimos o homem a nada, e para isso basta possuir algum talento intelectual aliado à honestidade, pois o esvaziamento da existência é a mera consequência de a entendermos. Não precisamos degolar a humanidade inteira para provar que a vida carece de sentido.

Socorri-me aqui de um ensaio tirado de Ateus.net para ajudar os meus amigos leitores a perceberem melhor o meu afastamento do Nada. Para mim foi bastante fácil – com tudo reduzido a Zero, nem me preocupo em fazer o “noves fora” simplesmente porque não há nove nenhum em Zero.
E tudo se simplifica.
E eu saio de cena, ufano e imperial, montado na minha quadriga de vaidades passageiras .
E, com algum descaramento, dou meia volta (U TURN como dizem os ingleses), e instalo-me de novo na importância do dia de hoje : 09.09.09.
Mando o niilismo às urtigas, o noves fora para o caixote do lixo, pego no megafone e digo às massas: acreditem que o dia de hoje é mesmo importante – faço anos.

mirando el otro lado de la luna

un ramo de rosas té y somnolientos jazmines tropicales en el día del cumpleaños de un amigo.
Un abrazo desde el alma-marita

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Na senda do silly.,...........




Na senda do silly...



oh!!! que novidade....não é preciso procurar muito...



enfim, finalmente, começaram a aparecer os actores da peça...



frentes a frentes......faixavor....tão possidónios....



declarações de princípios...faixavor.....tão básicos...........



comentários e comentadores....pleeeeaaseeeeeee....



já não é o país que está em crise de inteligência.,...



é essa Europa velha e estúpida, de mamas descaídas,



em busca de protagonismo ... político??? só???? não acho....



económico....? não me parece ......



...anda-se a fazer de conta.... a representar uma comédia....



ou será um drama????



uma farsa, talvez ...........!!!!!!!!!!!!!!!


Merkel who????


Sarkozy, quem ????


Brawn, ..... ????








sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Silly ... what ????




Seguir o país através dos noticiários da RTP África ou da Sic Notícias torna-se um exercício letal para a inteligência. O mínimo que pode acontecer é…adormecer. A questão é simples: não se vê, não se ouve, nada de interessante, como se a inteligência da nomenclatura nacional tivesse sofrido de súbito trombo com graves consequências sobre a expressão das ideias.
À distância, seguir o país pela televisão assegura uma dolorosa caminhada no reino do não ser.
Diz-se, nesta época, que se está na “silly season”, uma expressão usada pelos ingleses para dizerem que no Verão, não acontecendo nada de relevante, os jornais “inventam” histórias “tontas” para “venderem papel”. “Silly Season” desculpa tudo, define tudo, perdoa tudo, afirma tudo. Talvez por isso os políticos se aproveitem do clima propício à tonteira para dispararem os seus lugares comuns mais vazios e mais pobres de sentido. Eles julgam que estão a ser religiosamente ouvidos e acreditam até que estão a ser compreendidos. Não sabem, porque a prosápia é cega, que as pessoas estão-se perfeitamente marimbando para o que eles dizem. Mas ficam inchados de auto-confiança quando, cinco minutos depois de terem concluído as suas indiscutíveis verdades, as televisões, vazias de veraneantes conteúdos, convocam os seus comentadores residentes para análises mais profundas do que descer à abissal fossa das Marianas.
À mingua de acontecimentos relevantes com dimensão mundial, já que o país, de tão pequenas mentes, nem é capaz de gerar algo que dê que falar pelo mundo, as televisões agarram-se como lapas a acontecimentos fabricados pelos partidos, já que o Pontal se esvaziou dos calores do antigamente onde poeira e febras justificavam umas horas a fazer de conta.
Durante dois dias inteiros, a SIC Notícias repetiu à exaustão uma conversa doutoral do dr. Marques Mendes com análises de análises e comentários de comentários. Um festival de coisa nenhuma para fabricar um acontecimento que só o foi porque não há arribas a desabar todos os dias.
Tenho para mim que ninguém se lembra do que é que o senhor disse, se é que disse. Assim como aposto que ninguém se lembra do que disse – se é que disse – aquele outro senhor mais gordinho numa chamada Universidade de Verão do PSD. Alegremo-nos. A rentrée, que é a forma fina de dizer que “eles” acabaram as férias, propicia momentos elevados de “silly moments” o que não fica mal quando não há mais nada para dizer que repetir o que já foi dito.
Não fossem os profundos oráculos saídos da pitonisa de Belém para provocar as necessárias interpretações, estendidas durante dias como massa de fazer rissóis, o país entraria, inevitavelmente em irreparável estado de coma.
Preocupa-me muito – faz parte das minhas insónias aliás – que até o próprio BE já “perdeu o gás” do esgotado Louçã que, para não perder tudo nas pantalhas televisivas, fez avançar a Drago.
A Drago tem o dom de dizer coisas que também ninguém percebe – como convém aos fazedores de política – mas de uma forma bonita. Por mim falo: não me lembro de nada de relevante que ela tenha dito mas vale a pena olhar para ela.
Outro tanto não poderei dizer daquela senhora a quem devem ter feito operações de descontracção dos músculos faciais para agora poder mostrar uma espécie de sorriso. Parece que disse coisas importantes, a avaliar pela repetição das análises e comentários ao programa que parece ter apresentado para convencer que a governação dela vai ser melhor do que a dos outros.
Pelo menos, esta, não foi ao Pontal. Escapou à influência de um dos maiores centros de fabrico de “silly seasons”. Mas não escapou à mastigação exaustiva dos analistas.

Ver o país à distância, através das televisões nacionais, tornou-se um exercício de autoflagelação tal a frequência com temos de beliscar a pele para nos certificarmos se estamos realmente acordados.

sábado, 25 de julho de 2009

SALZBURGER FESTSPIELE - ferien




Durante anos, Mários Soares foi considerado um viajante “compulsivo” à conta do Estado (que somos todos nós). Foi acusado de aproveitar os altos cargos que ocupou no país – primeiro-ministro e Presidente da República – para fazer turismo disfarçado de viagens de trabalho.
Apesar da gravidade das acusações, nunca ninguém se chegou à frente para colocar o inefável Soares sob o fogo da justiça. Ainda bem. É que se o impedissem de fazer essas viagens, nunca o veríamos a cavalgar, garboso, uma bela e indiferente tartaruga, numa das suas importantes viagens “de trabalho” às Maldivas. Nem o veríamos ostentar os mais diversos chapéus, debaixo daquele sorriso de quem está acima do mundo e o olha com bonomia e alguma compaixão.
Habituámo-nos a essas extravagâncias, ninguém as levou a sério e, aqueles que tentaram criticar esbarraram no mar da indiferença. “Oh!. O Bochechas não tem emenda”, dizia-se num misto de perdão tácito e de “se não for ele será outro qualquer, eles são todos iguais”, e por aí fora no desfiar de um rosário por demais usado.
A virtude, coerência e respeito pela coisa pública são conceitos sem lugar cativo quando até figuras tidas como “sérias e impolutas” se deixam tentar pelos pecadilhos que o poder oferece.
Desde que vi o esfíngico Cavaco Silva a trepar um coqueiro, também numa das suas importantes viagens “de trabalho”, fui levado a concluir que até o mais sério, o mais frio, o mais dedicado político acaba por ceder aos prazeres que o poder pode oferecer. Nunca esperei ver o infalível Cavaco aproveitar-se das iguarias da mesa presidencial. Desajeitado mas convencido da validade dos seus actos, foi vê-lo ir passar uma semana de férias aos Açores sob a capa de visita para se identificar com as necessidades dos açorianos. É claro que os açorianos ficaram muito mais tranquilos ao saberem das preocupações do Presidente da República sobre o seu bem-estar.
Passando de lado a questão dos dinheiros ganhos de forma estranha e aparentemente favorecida, temos agora o Presidente em mais uma importante deslocação oficial, de trabalho claro, à Áustria. Coincidência de datas seguramente não analisada na preparação da visita, a estada de Cavaco Silva e mulher bate mesmo no dia em que se abre o Festival de Salzburgo, o mais importante do mundo da música. Que chatice esta de ter de aceitar o convite do seu homólogo austríaco (que, aliás, ninguém sabe quem é) para ir à abertura do Festival. Mas lá terá que ser!!!! Mais um sacrifício pela Pátria. E logo ele que sempre foi um grande defensor da arte, como se sabe. E admirador de Händel, como se sabe, de quem “Theodora” faz a abertura neste sábado 25 de Julho na cidade que viu nascer Mozart.
É pena esta viagem de trabalho ter coincidido também com a apresentação de grandes pianistas na Gulbenkian, em Lisboa. Mas, obviamente, Lisboa é demasiado longe.
Não tenho nada contra o PR gostar de passear e até de querer aumentar o seu nível cultural, cuja marca deverá subir visivelmente a partir de hoje. Mas, francamente, em época de “vacas magras” gastar dinheiros públicos numas mini-férias na Áustria, com ajudas de custo e despesas pagas pelo Estado, parece muito mal para quem defendeu, em tempos, o rigor nas contas públicas.
Diz-se que “o poder corrompe”....





domingo, 12 de julho de 2009

O G8 - PAROLE, PAROLE, PAROLE


Não me atreveria aqui fazer uma dissertação sobre o “ponto G”, muito menos sobre o “ponto de rebuçado” nem mesmo sobre o “ponto de cruz”. Vejam lá bem aonde o G me estava a levar !!! A pontos que nem a minha imaginação se atreve tocar. Este G 8 ... é “oitro”. É o dos, dizem, mais ricos e poderosos países do mundo, dos, dizem, mais industrializados do mundo e, muito seguramente, dos mais poluidores do mundo. Reuniram-se, como fazem sempre, num ponto qualquer devidamente preparado para servir de passerelle de vaidades mal disfarçadas, de arrogâncias globalizantes escondidas.
Numa candura pungente os senhores dos anéis do poder decidiram reduzir as emissões de gases de efeito de estufa em 50 por cento até não sei quando. Não sei, simplesmente, porque não me preocupei em acreditar no que li: até 2050 ???? Só 40 anos ??? E querem reduzir em 80% a poluição dos países industrializados em relação ao ano de 1990. "Yah! Right".
Sabiamente, os senhores do mundo – mais a senhora angélica – escaparam a assumir qualquer compromisso intermédio.
Achei deliciosa esta outra preocupação saída da bela cidade martirizada de L’Aquila: os senhores mais a senhora, junto com outros senhores convidados, decidiram esta ternura: reconhecer a necessidade de limitar o aquecimento global a 2%. Não é delicioso?
Falhos de ideias realmente interessantes, “aquela gente”, como diria Alberto João Jardim, deixou escapar para o comunicado final uma preocupação em relação ao seu bem-estar: acham que a subida do desemprego pode por em causa a estabilidade social. É aqui que “eles”, finalmente, mostram a cara. “Eles” têm medo que o desemprego que “eles” próprios causam com as roubalheiras dos grandes gestores bancários e falcatruas de companhias de seguros, possa desequilibrar o conforto sossegado dos seus dias de mandões do mundo.
E, para merecerem a medalha com a efígie da madre Teresa de Calcutá, decidiram mobilizar 20 mil milhões de dólares em 3 anos para lutar contra a fome no mundo.
Então, não é lindo isto? Conseguiram empobrecer o mundo para, numa atitude cândida de solidariedade humanista, se “mobilizarem” ?
O mundo olhou para o G8 que lhe foi imposto pelas televisões como um fait divers, como quem desfolha a revista Caras – ora deixa cá ver como a Michele se vestiu para o jantar de gala; já agora, gostava de ver qual a última manifestação de mau gosto que a Merkel levou à foto de família !!!!????
O que “eles” lá disseram, o que “eles” lá decidiram, está-se tudo nas tintas.
Aliás, estou em crer que o G8 passaria totalmente despercebido se não houvesse aqueles habituais manifestantes profissionais a provocarem as cargas da polícia do signore Berlusconi a quem o Saramago, num assomo do seu mau feitio refinado com a idade, chamou os mimos do costume quando se lembra de um dos seus ódios de estimação: delinquente, corrupto, líder mafioso, vírus. Só porque a editora italiana, propriedade do senhor Berlucosni, recusou-se a publicar o último livro do Nobel português, Cadernos. “Et pour cause.!!!!”
E … o G8 ??? Pois !!!! O G8 valeu pelo Lula que foi lá dizer aos grandes do mundo que, o Mundo, não é bem aquele que “eles” desenharam e para o qual não têm mais do que “parole”, “parole”, “parole”.


hs

Na foto: Lula e Berlusconi






sábado, 4 de julho de 2009

gripe A-los No-y....


Gripe A:
Los flash de la televisión, los anuncios de los diarios, los afiches: cercan , acosan.

NO NO NO NO
NO ABRAZAR
NO BESAR
NO DAR LA MANO

NO COMPARTIR
NO AL BAR
NO AL CAFÉ AMIGO

Pero estamos en la semana de la dulzura . Llega el día del amigo.

Vestido el corazón de contramano, oyendo sollozar a los abrazos ¿los enviará por el
camino de los sueños?
¿los besos navegarán por el río de la mirada hasta atracar al muelle que los espera?
El corazón, vestido de contramano, se desvela buscando la infracción que lo rescate
.
marita faini adonnino-argentina.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Miguel Sousa Tavares

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos... Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos... - Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km. Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa. - Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim. Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta... - Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade. Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa. - Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada? - Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor. Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, eram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez. Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:

- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!

Miguel Sousa Tavares, jornalista, escritor de sucesso mas, para mim que o conheço desde os gloriosos anos de A LUTA, de Raúl Rego, é o porta-voz do povo. Ele sabe colocar no papel aquilo que as pessoas comuns têm nos seus pensamentos e não têm como exprimir.
Com a devida vénia, aí está mais uma das suas crónicas publicada no semanário português Expresso.u

terça-feira, 16 de junho de 2009

O PLANETA MULTICOLOR


O PAÍS

Sexta-feira, 12 de Junho 2009



Vasto Mundo
O planeta multicolor
João Melo



Patrick Kibangou nasceu na Repúbli­ca Democrática do Congo. É, portanto, congolês. Como a maioria da popu­lação do seu país de origem, é preto. A mulher, uma médica nigeriana, é igualmente preta. Mas Kibangou também é polaco. E não é um polaco “qualquer”: nas recentes eleições eu­ropeias, foi candidato a eurodeputado pelo ex-Partido Comunista da Polónia (não sei se elegeu ou não).
A história de Patrick Kibangou é de uma simplicidade singela, mas, ao mesmo tempo, paradigmática e exemplar. Filho de uma mulher extremamente católica, emigrou para a Polónia há 25 anos, porque a sua mãe lhe disse que esse era o país do Papa João Paulo II. Adquiriu a cidadania polaca nos anos 90.
O exemplo de Kibangou é mais uma demonstração de que as fronteiras epidérmicas, tal como as físicas, comunicacionais, culturais ou financeiras, tendem a desapare­cer. O mundo está cada vez menos para purismos e fundamentalismos de qualquer tipo, por mais exaltados (e até assassinos) que alguns deles, por vezes, ainda sejam.
A verdade é que, em áreas cres­centes do mundo, está a ocorrer uma reconfiguração identitária, que poderá tornar definitivamente o planeta não apenas multicultural, mas multicolor. A excepção, por enquanto, parece ser a Ásia.
Assim, nas Américas, a emergência dos antigos deserdados – os indígenas e os negros – contribui, por fim, para a materialização da promessa de cons­trução de um Novo Mundo, datada da expansão marítima europeia, mas jamais cumprida plenamente. Não é só o exemplo de Obama. Em países como a Bolívia e outros, os indígenas come­çam a ganhar outro protagonismo. No Brasil, a luta contra a discriminação da maioria de origem africana, embora complexa e difícil, avança.
Na Europa, a emigração, sobretudo africana, árabe e latino-americana, começa a rejuvenescer as suas socie­dades, o que, aos poucos, está a ter uma tradução política e institucional visível (basta ver os ministros negros em alguns países europeus). Nesse sentido, as restrições migratórias recentes terão, a médio e longo prazo, um efeito perverso para a Europa, que corre o risco de envelhecer definitiva­mente, em todos os aspectos.
Essa tendência conta ainda com poderosos e actuantes adversários. Ocasionalmente, os mesmos surgem de onde menos se espera.É que teve de enfrentar o moçambicano branco Paulo Serôdio, que em 1984 foi para os EUA, onde se naturalizou. Apesar de ser de uma família que está em África há três gerações, foi impedido de se autodefinir, numa sala de aulas, como “afro-americano branco”.
Aliás, o nosso continente é uma das regiões onde a possibilidade de convivência epidérmica é objecto de tendências altamente contraditórias, descambando, às vezes, na violência (recorde-se o Uganda de Idi Amin ou o Zimbabwe, do Mugabe “pós.-revolucionário” e senil).
Assim, criticamos, com justiça, a persistência dos preconceitos raciais e mesmo da xenofobia nas sociedades europeias, mas somos incapazes de construir um novo modelo, antes replicamos esses preconceitos e essas práticas, apenas invertendo o sinal.
Mesmo num país como o nosso, cuja população tem uma origem diversificada, há gente demais que, nessa matéria, continua prisioneira do raciocínio dos anos 50. Entre nós, talvez Patrick Kibangou fosse consi­derado “angolano de ocasião
”.
Nota: João Melo é um dos mais respeitados comentadores angolanos. As suas opiniões, se não comandam a agenda política do país, de certeza provocam reacções fortes na sociedade civil.
Com a devida vénia, publico este comentário (inserido no semanário O PAÍS), uma marca de lucidez e de espírito aberto que tanta falta faz em Angola.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

LO LLORAN....

Lo llora el mundo enamorado, lo lloran los jóvenes, lo llora el Uruguay, lo llora América, lo lloran los poemas.
Mario Benedetti abrió nuevos caminos en la literatura. Conjuró la palabra más sencilla, el hablar cotidiano con el sentimiento más profundo. Leyó el alma de las calles,de las oficinas,del hombre, de la mujer y las inmortalizó en un poema.Amó lo simple, luchó por la libertad y la justicia y fue dulcemente bueno.
Continuó sembrando poemas de amor hasta sus 88 años. "Mi táctica es mirarte/aprender como sos / quererte como sos.....Mi estrategia en cambio / es más profunda y más sencilla./mi estrategia es / que un día cualquiera /no sé cómo ni sé con qué pretexto / al fin, me necesites".
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"Compañera/ usted sabe que puede contar conmigo
Pero hagamos un trato/ yo quisiera contar con usted /Es tan lindo saber que usted existe/uno se siente vivo"
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Si te quiero es porque sos/ mi amor mi cómplice y todo/ y en la calle codo a codo/ somos mucho más que dos."
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"cuando uno se enamora / la cuadrilla del tiempo hace escala en el olvido/la desdicha se llena de milagros /el miedo se convierte en osadía / y la muerte no sale de su cueva."
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"De los medios de comunicación/en este mundo tan codificado/con internet y otras navegaciones/Yo sigo prefiriendo / el viejo beso artesanal / que desde siempre comunica tanto"

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"Qué espléndida laguna es el silencio/allá en la orilla una campana espera/pero nadie se anima a hundir un remo/en el espejo de las aguas quietas"
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"Porque te tengo y no / porque te pienso/porque la noche está de ojos abiertos/porque la noche pasa y digo amor/porque eres linda desde el pie hasta el alma/porque eres buena desde el alma a mí/porque te escondes dulce en el orgullo/pequeña y dulce corazón coraza"
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Son trozos de sus poemas tan concidos por tantos .Benedetti se pregunta en uno de sus libros "Qué será del amor y qué del odio /cuando el siglo que viene nos dé alcance?" "Qué les queda a los jóvenes?" "¿de qué está hecha el alma"?¿"de qué se nutre la nostalgia?"
Sus libros fueron llevados al cine,sus poemas a la voz de los cantantes, su versos a los labios de los enamorados.
Mario Benedetti.uruguayo. 14 de setiembre1920- 17 de mayo 2009

domingo, 3 de maio de 2009

O MUNDO ...(não é) PERFEITO

O Georges Brassens cantava os amores e desamores de uma juventude "à bout de soufle" dos anos sessenta, ao mesmo tempo que exaltava os namoricos de fim de semana nos jardins - "les amoureux qui se bécottent sur les bancs publics...En se fouttant pas mal du regard oblique" .



É a imagem que me ocorre depois de "uma vista de olhos" aos meus blogs preferidos e, de, nesse relance sobre o que há de novo (como quem vai à janela só para ver o trânsito lá em baixo na rua), dar-me conta do encerramento de um dos mais fantásticos espaços de literatura que eu jamais conhecera antes. O blog de Isabela "O mundo perfeito", blog maudit como ela sublinhou, constituía o meu lugar de refrescamento mental, a minha catarse intelectual. Ali encontrava a pureza dura das palavras, o desplante assumido dos conceitos, a provocação e o anti-preconceito. Numa palavra, ali respirava-se liberdade.


Isabela decidiu fechar o blog. Se calhar, fartou-se de alguns buçais que quiseram por-se em bicos de pés, à custa dela, sem notarem que não tinham altura para chegar, sequer, ao nível da ...Micas ou da Morena. O blog de Isabela deixa marca forte, espero que seja possível "ir lá" para se ler o que ficou de alguns anos de escritos na primeira pessoa.

Como tudo na vida, há encontros e desencontros, há ganhos e perdas. A gente habitua-se e segue em frente. O Brel, no seu jeito tão próprio dizia: "on n'oublie rien, on n'oublie rien du tout, on n'oublie rien de rien, ON S'HABITUE, C'EST TOUT".
Habituamo-nos e...pronto!!!!!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

BO, o PRIMEIRO-CÃO


Washington, 12 abr (EFE).- O Cão D'água Português da família Obama só estreará oficialmente na sociedade na terça-feira, mas a foto do mascote circula hoje na internet e ocupa a primeira página do jornal "The Washington Post", que revela o nome do animal, Bo, e a idade, seis meses.
O filhote branco e preto, um presente do senador democrata Edward Kennedy a Malia e Sasha - filhas do presidente americano, Barack Obama -, aparece na foto com um colar estilo havaiano.
O senador de Massachusetts é dono também de um cão da mesma raça.
"Adoramos nossos Cães D'Água Portugueses e temos certeza de que as meninas (Malia e Sasha) e seus pais também adorarão o seu", disse em comunicado Kennedy, que mantém uma estreita relação com os Obama.
A primeira-dama americana, Michelle Obama, revelou no final de fevereiro a raça do filhote.
Esse cão quase não solta pelo, o que transforma esses cachorros em uma raça muito popular entre as pessoas alérgicas, considerando que a filha mais velha, Malia, de 10 anos, tem esse problema, o que complicou a busca por um animal adequado.
"Supõe-se que são muito bons", disse Michelle Obama, ao revelar a escolha, em fevereiro, dizendo estar satisfeita também com o tamanho intermediário do Cão D'Água Português.
O jornal afirma que as meninas decidiram chamar o cachorro de Bo porque seus primos têm um gato com o mesmo nome, e porque seu avô materno, já falecido, tinha o apelido de Didley, como Bo Didley, falecido cantor de rock americano.
O "Washington Post" informa que Bo fez uma visita "secreta" à Casa Branca há algumas semanas, para que as meninas o conhecessem.
Bo foi educado pelos treinadores do senador Kennedy e deu mostras das lições aprendidas durante o encontro, no qual obedeceu quando lhe mandaram sentar e levantar, não mordeu o tapete e não fez nada de inadequado.
Obama prometeu publicamente às filhas que poderiam ter um cachorro na Casa Branca no discurso de agradecimento após a vitória eleitoral, em novembro do ano passado.
A busca por animal de estimação pela família presidencial gerou um grande interesse do público americano, e o líder brincou várias vezes dizendo que foi o maior anúncio que ele pôde fazer.
De fato, não faltam especulações sobre a possibilidade de que o cachorro se torne um "problema político" para os Obama, que tinham dito inicialmente que queriam adotar um cachorro abandonado.
Os Obama decidiram sair à margem anunciando que realizarão uma doação à organização protetora de animais abandonados The Humane Society, que tem sede em Washington. EFE




juro que não inventei isto

domingo, 12 de abril de 2009

VOCÊ É BOM A TOMAR DECISÕES????

Um grupo de crianças brinca próximo a duas vias férreas. Uma das vias ainda está em uso e a outra está desativada. Apenas uma criança brinca na via desativada, enquanto que as outras, na via em operação. O trem está vindo e você está exatamente sobre aquele aparelho que pode mudar o trem de uma linha para outra.
Você pode fazer o trem mudar seu curso para a pista desativada e salvar a vida da maioria das crianças.Entretanto, isto significa que a solitária criança que brinca na via desativada será sacrificada.
Você deixaria o trem seguir seu caminho? O que você faria?
Reflita antes, sobre sua resposta ! Leia abaixo!!!







RESPOSTA:
A maioria das pessoas escolherão desviar o trem e sacrificar só uma criança. Você pode ter pensado da mesma forma,eu acho.
Exatamente, salvar a vida da maioria das crianças à custa de uma só criança é a decisão mais racional que a maioria das pessoas tomariam, moralmente e emotivamente. Mas, você pensou que a criança que escolheu brincar na via desativada foi a única que tomou a decisão correta de brincar num lugar seguro?
Não obstante, ela tem que ser sacrificada por causa de seus amigos ignorantes que escolheram brincar onde estava o perigo. Este tipo de dilema acontece ao nosso redor todos os dias. No escritório, na comunidade, na política... E especialmente numa sociedade democrática, a minoria freqüentemente é sacrificada pelo interesse da maioria, nãoimporta quão tola ou ignorante a maioria seja e nem a visão de futuro e o conhecimento da minoria.
Além do mais, se a via tinha sido desativada, provavelmentenão era segura. Se você desviou o trem para a outra via, colocou em risco a vida de todos os passageiros. E em sua tentativa de salvar algumas crianças sacrificando apenas uma, você pode acabar sacrificando centenas de pessoas.
Se estamos com nossas vidas cheias de fortes decisões que precisam ser tomadas, nós não podemos esquecer que decisões apressadas nem sempre levam ao lugar certo.
Lembre-se de que o que é correto nem sempre é popular...e o que é popular nem sempre é correto. E que todo o mundo comete erros; foi por isso que inventaram a borracha e o apagador.
'De tanto ver as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes na mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto'.

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Mail amigo fez-me chegar este texto que acho interessante partilhar com os meus leitores. Não sei quem é o autor.

sábado, 11 de abril de 2009

prematuro abandono


Depois de ler o teu último «post» sobre Sartre aqui vai:

PREMATURO ABANDONO

Próstata hipertrofiada, vesícula
Petrificada, estômago acidificado,
Pulmões encharcados, músculos
Hipotróficos, bexiga indolente,
Artérias entupidas, hormonas
Em baixo, olhos cansados, ouvidos
Esgotados, corpos cavernosos
Menos elásticos, folículos pilosos
A cair em desgraça, fígado
Do tamanho de um boi, pele encarquilhada,
Unhas fúngicas, coração chorão,
Rede venosa vaidosa e adiposidades
Valentes a desproporcionar uma alma
Que teima em não ser corrompida.

Ó células divinais, porque abandonais
Tão cedo a mente que quer ser permanente?
Ó genes adorados e fatais,
Porque não permitem que sejamos um ser consequente?

As pulsões e os afectos ainda irresistíveis
Já se querem parecer com as acções
E o mundo originário ou comportamental
Aproximam-se vertiginosamente da evidente
Degradação celular caminhando
Dolorosamente para a transição final
Numa luta verdadeiramente desigual.
Arrepiemos caminho, saibamos conviver
Com a contradição, não é tarde para se separar
A porcaria obviamente acumulada
E lavem-se ensaboando as velhas
Ideias que afirmam estarmos arrumados
Depois dos cinquenta. Agarrem-se ao amor
E sua leveza e descubram um oculto poder.

kambuta

sexta-feira, 3 de abril de 2009

SARTRE É O CULPADO


...e chega-se ao fim do dia com aquela sensação desagradável que só atinge os incautos...
aquela sensação de ... porra, não estou satisfeito com o que fiz ....
e procura-se em casa o refúgio e, na mente, as explicações....
nada resulta...
e vai-se mais longe....na senda dos perdões.....
é do cansaço....trabalhei que nem um mouro, cumpri o meu dever mas,.....
a interrogação emerge sobre tudo o mais....
cumpri o meu dever profissional, fiz bem o que sei fazer, mas...
porque é que me sinto assim insatisfeito ????...
só sendo pateta alegre se pode ficar imune à desagradável sensação da insatisfação e partir daí para o esquecimento na forma de qualquer diversão vulgar ....
passear, beber copos, ver montras de lojas, olhar a televisão....
isto de ser humano, de ser animal pensante é muito complicado...
há sempre um algo mais inexplicável.....
para lá da cortina da compreensão....
tem-se tudo bem feito e a bater certo no cosmos da acção profissional, senta-se numa cadeira, deixa-se amolecer o ritmo, e a mente toma conta do assunto numa perspectiva crítica....
posso garantir um coisa: nunca seria contabilista, gosto pouco de fazer contas e de colocar valores na coluna do deve e do haver....
o Sartre é que o culpado com essa ideia do existencialismo e do ser e do nada....
sento-me após tarefa (bem) cumprida e....estou insatisfeito...
deve estar a faltar-me um elo, talvez aquele em que Sartre aconselha a criar o homem que temos dentro de nós.......
sei, à partida, e após análises profundamente introvertidas, que o cansaço que tenho não é físico mas pego nele para me auto-justificar....
serve-me neste momento...
estou cansado, portanto, insatisfeito....
uf!!!! que alívio....!!!!!!!!

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