quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A austeridade é perigosa

belemlivre.blogspot.com/.../austeridade-e-perigosa-mark-blyth_19.html

o link acima, com a devida vénia ao autor do blog belemlivre, mostra o professor Mark Blyth, da Universidade Brown a defender a ideia de que a austeridade é uma coisa perigosa.
Vale a pena ouvi-lo.
Irrita-me profundamente a parte final do seu discurso, não pela ideia mas pela assumpção de que somos todos uns tolos enganados pelos poderosos que fizeram a grossa asneira financeira que abala o mundo sem sofrerem com a crise, enquanto nós, os pequenos, que já pagávamos tudo e mais alguma coisa antes da crise, agora, em nome da defesa da austeridade, pagamos tudo outra vez e com juros...
Esta gente das finanças, esta gente dos bancos de todo o mundo, devia ser chamada à responsabiloidade da porcaria que fizeram e serem castigados por isso. Mas, como de costume, não vai acontecer-lhes nada. A nós é que acontece. E custa muito.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O (falso) Decálogo de Abraham Lincoln

Num país de invejosos, mentes pequenas, arranjistas, onde a devassa da vida privada se tornou um desporto, onde olhar pelo buraco da fechadura do vizinho é o passatempo mais apreciado e o esquema do “já agora” é a máxima do oportunismo, vale a pena relembrar os dez mandamentos do 16º Presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln.



É certo que, depois disto, veio o capitalismo, com os seus bens e os seus males. Muitos dos que, em vez de trabalhar, andam entretidos a denunciar os vencimentos de algumas pessoas, como se, com isso, resolvessem os problemas dos pobres, e endireitassem a crise do país, melhor fariam se metessem menos baixas, se acabassem com o absentismo no trabalho, se olhassem para si póprios e tentassem progredir, se não profissionalmente, pelo menos como indivíduos úteis à sociedade.


Para esses aqui publico o Decátologo de Abraham Lincoln. Provavelmente, para muitos, estas dez ideias entram a 100 e saiem a mil, como se contivessem a maior inutilidade. São os que vivem a vida à espera do subsídio, da fuga às responsabilidades e aos impostos, dos que chamam a televisão para resolverem os seus problemazinhos pessoais, dos que passam o tempo à porta da Junta de Freguesia.









1. Não se pode criar prosperidade desalentando a Iniciativa Própria.


2. Não se pode fortalecer o débil, enfraquecendo o forte.


3. Não se pode ajudar os pequenos, esmagando os grandes.


4. Não se pode ajudar o pobre, destruindo o rico.


5. Não se pode elevar o salário, pressionando quem paga o salário.


6. Não se pode resolver os seus problemas enquanto se gasta mais do que se ganha.


7. Não se pode promover a fraternidade da humanidade, admitindo e incitando ao ódio de classes.


8. Não se pode garantir uma adequada segurança com dinheiro emprestado.


9. Não se pode formar o carácter e o valor do homem tirando-lhe a sua independência (liberdade) e iniciativa.


10. Não se pode ajudar os homens permanentemente, realizando por eles o que eles podem e devem fazer por si mesmos.

Mas, na melhor sopa cai a mosca. Continuando a pesquisa sobre este tema, descubro que, afinal, o decálogo é falso, que não foi Lincoln quem o escreveu. O decálogo, cujo título original é "The ten cannots" (Os dez não se pode) pertence ao reverendo William J.H. Boetcker, um presbiteriano norte-americano de origem alemã(1873-1962), que o publicou em 1916.
De tanto se atribuir a autoria destas máximas a Lincoln, o próprio Ronald Reagan, num discurso, mencionou o Decálogo como tendo sido do seu antecessor na presidência dos EUA.

domingo, 21 de novembro de 2010

MANDELA

Viajar pela África do Sul é receber surpresas a cada quilómetro de estrada. Perto de Durban, em Howick, deparei com este monumento erigido no local onde Nelson Mandela foi preso pela polícia do regime racista da África do Sul, em 5 de Agosto de 1962.

 Mandela já era conhecido e temido militante da causa anti-apartheid pelas autoridades separatistas havia alguns anos. Na sua actividade, ele deslocava-se de noite para não ser detectado pela polícia. Dizem que foi denunciado, o que facilitou a sua detenção naquele local.

O monumento é bastante simples, à beira da estrada e é necessário ir com atenção a uma placa indicadora. Fiz as fotos com luz do dia nascente, quando me deslocava para Durban.

A lápida diz : ESTE MONUMENTO FOI ERIGIDO PELO POVO DE HOWICK PARA COMEMORAR O LUGAR DA DETENÇÃO DO PRESIDENTE NELSON MANDELA EM 5 DE AGOSTO DE 1962. A PLACA FOI DESCERRADA PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL NA OCASIÃO EM QUE RECEBEU O TÍTULO DE CIDADÃO HONORÁRIO EM 12 DE DEZEMBRO DE 1996".

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cavaco visto por Daniel Oliveira

Daniel Oliveira publicou esta opinião na sua coluna "Antes pelo Contrário", no Expresso, no dia em que o Presidente da República anunciou ......
que se recandidatava....... a ..... Presidente...... da República.
Com a devida vénia ao autor, transcrevo a matéria.


Os cinco cavacos


Cavaco Silva apresenta hoje a sua recandidatura. Foi ministro quando eu tinha 11 anos. Pode sair da Presidência quando eu tiver 46. Ele é o maior símbolo de tantos anos perdidos. E aqui se fala das suas cinco encarnações.
Daniel Oliveira

(8:00 Terça feira, 26 de Outubro de 2010)

Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos. Mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.

O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.

O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.

O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.

O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.

Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.

E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.

Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.












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