sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

BOAS FESTAS

Helder, que o Natal seja bom e farto para que dure o ano inteiro. Um abraço.

sábado, 18 de dezembro de 2010

ZERO FOI SALVO - aleluia


Zero, na redacção, na prateleira dos "assuntos pendentes"????

Quando OPAÍS se instalou, no longínquo ano de 2008, na famosa Casa Amarela, em Talatona, Luanda, um gatinho rafeiro aparecia pelo quintal, ao cair da tarde, como quem vai à procura de alguma coisa. Gato de rua, treinado nas duras leis da sobrevivência urbana, o Zero farejava alguma forma de complementar a sua dieta diária de ratos, no jardim do jornal. Pouco a pouco, foi tendo honras de atenção humana, alguns jornalistas começaram a deixar-lhe comida, nas mais variadas formas, até alguém ter subido a parada na forma de um belo saco de afamada marca de ração para gatos.
Independente e, quem sabe, algo cauteloso na sua aproximação aos humanos, o Zero começou a entrar nas instalações do jornal quando já se tornara um lindo felino adolescente.
E por ali se fez adulto, sempre acarinhado pela maioria do pessoal. Alguns revezavam-se na nobre tarefa de levar a ração para o Zero. Ele sabia quem lhe queria bem e não suspeitava que havia quem lhe tivesse traçado sentença de morte. A tudo o Zero sobreviveu.
O bicho tornou-se, desde os primeiros tempos de O PAÍS, vedeta nacional. Logo numa das primeiras edições, Luis Fernando dava honras de presença na última página do jornal.
O Zero ganhava, por direito e por inerência superior, uma figura pública a nível nacional e mais um de nós a nível da redacção. Não escrevia mas inspirava crónicas.
Luis Fernando, sempre pronto a colocar em letra de forma o que vê e o que sente, dedicou algumas prosas ao Zero e muitos de nós dedicamos-lhe atenção e carinho.
Mas a vida dá curvas e o jornal mudou-se para outras instalações. Luis Fernando, na sua inebriante prosa, publicou um sublime grito de alerta, manifestando a sua preocupação sobre o futuro da instituição felina.
E escreveu isto:


A FECHAR



E agora Zero?


A menos que alguém se dê ao trabalho de provar o contrário, o Zero é o gato mais famoso de Angola.


É, tanto quanto sabemos, o único de quem se tem notícias de jornal, volta e meia.


Continua a viver em Talatona por não ser bichano que se adapte ao caos do centro de Luanda, onde ainda por cima abundam os gatos vira-latas e sem pedigree. Mas esta semana o nosso Zero viu-se confrontado com uma crise existencial que está a atormentar consciências e a dificultar decisões: a Casa Amarela, seu mundo de felicidade há quase três anos, ficou vazia.


Nada mais e nada menos que uma mudança de todo o colectivo de profissionais que desde Maio de 2008 dá vida à sede do jornal O PAÍS, para novas instalações! Uma soberba notícia para jornalistas, repórteres fotográficos, designers e demais membros da equipa de trabalho que assim mudam de ares e se enchem de novas perspectivas, até porque o novo poiso lembra muito mais o espírito frenético do grande jornalismo, com gente entrando e saindo com as suas dispersas histórias de vida.


Para o Zero, porém, há tudo menos razões festivas. A ideia concretizada de trocar a Casa Amarela por um novo espaço como o que se tem agora arrisca-se a sepultar as melhores expectativas da mimada mascote da malta que sabe o que é correr atrás dos factos em sete apertados dias de uma semana.


A nova casa, segundo as avaliações preliminares dos primeiros dias, não está muito moldada para se ter um gato manhoso que se enrosca nas pernas dos editores à quinta-feira, o dia em que quase infalivelmente eles se esquecem da sua ração de sobrevivência.


A pergunta feita na primeira vez que os ex-inquilinos da Casa Amarela se juntaram no lugar que vai ter a obrigação de competir com a mística do velho berço do jornal, segunda-feira 6 de Dezembro de 2010, diz tudo: E agora Zero?


Em plena Redacção com tudo por estrear, incluindo o súbito desafio de se passar sem as travessuras do quadrúpede sete vidas, aquela pergunta soou a um alarme com a cor cinzenta das desistências bruscas. Percebeu-se que pode ter findado o parentesco levado até ao limite do entendimento e da tolerância entre os jornalistas e o felino durante exactos dois anos e meio, não por quebras de afecto ou como resultado das frequentes ingratidões da raça dos humanos, mas objectivamente pelos apertos logísticos do novo tecto.


O caso é sério e não se resolve com o sorriso de indiferença que irrompe de dentro, quase sempre, quando o futuro do Zero é posto sobre a mesa. Se fosse uma galinha, a resposta estava dada: cabidela e assunto encerrado!


Mas é de um gato com estatuto de mascote, ganho por mérito e valentia, que se fala. Um exemplar que faria qualquer associação de defesa dos direitos dos animais pensar na justeza de um prémio para as gentes da Casa Amarela: zero maus-tratos e zero faltas de carinho e atenção a um nobre gato, excepto apenas nas tais quintas-feiras de desassossego em que o jornal vai para a gráfica, de resto um dia em que os jornalistas não estão para ninguém a não ser para o dever indeclinável de serem profissionais a toda linha.


Quase tão importante para a equipa de O PAÍS garantir a produção dos primeiros números num novo cenário, com os tormentos da inadaptação próprios dos tempos de começo, será a descoberta de uma solução de compromisso para o bicudo caso do gato que perdeu a viagem para uma nova centralidade onde os arranhões e os miares não se sabe, ao certo, que tipo de tolerância terão.


Talvez seja hora de um patrocinador de vidas de felinos em desespero, como os há para as beldades de bairro ou os cantores de repentinos estrelados, manifestar-se apto e determinado a assumir o repto. Para que a saga do Zero siga por diante, em útil e perfeita consonância com a fama que lhes atribuem os saberes de antanho, de poderem viver 7 invejáveis vidas.


Luís Fernando


10 de Dezembro de 2010

Fiquei alarmado. Eu, que convivi longas horas de trabalho naquele jornal com o Zero sobre a minha secretária, temi pela sobrevivência do bicho. E escrevi, de imediato ao Luis Fernando, o que segue:


Luis,



por favor,

ninguém mais do que tu que tanto tem glorificado, com carinho e razão, o nosso
bem adoptado ZERO, vedeta de tantas crónicas bem aviadas pela tua ágil pena,
poderá dar um caminho certo ao nosso felino ...tão respeitado e acarinhado por toda a redacção...
o Zero tornou-se,
mais por mérito próprio do que por uma qualquer influência vinda das profundezas de um telefonema , uma referência na sociedade luandense, graças às tuas linhas sempre tão acertadamente ataviadas daquele linguajar colorido e certeiro que encanta ...
o Zero é uma instituição nacional, viveu e cresceu na nascença e no crescimento de uma força nacional que o é graças a ti...
....seria impróprio de gente boa como a que faz O PAÍS, mudar de ares e de poiso, levando tudo - telefones, computadores, cadeiras, mesas, papel e papéis, carros e agrafadores, menos o símbolo de uma forma de estar e de ser, prefigurada no nosso amado ZERO.....

Isto foi, no essencial o que escrevi ao escritor-director do jornal ao que Luis Fernando me respondeu pouco depois, concordando com o meu apelo.

Quase em simultâneo, o Luis Faria, editor de Economia e também um dos patrocinadores da existência da Zero na redacção, escrevia esta belissima peça de jornalismo:






Tudo é eterno enquanto dura. Há medida

que o tempo corre, que passa por nós ou

que nós passamos por ele, essa noção de

eternidade torna-se cada vez mais frágil.

A verdadeira eternidade, a que gostaríamos

que repercutisse ao infinito os momentos que

queremos intermináveis, ou que se fi xasse numa

suspensão do tempo, seria, segundo Borges, uma

chatice. Não sei se Os Imortais, esse conto notável

que procura demonstrar que a imortalidade redundaria

num voluntário embrutecimento, já que

qualquer acontecimento seria apenas a repetição

de um outro que já teria ocorrido num momento

qualquer do passado, o que se tornaria insuportável,

é apenas mais uma ficção “trapaceira” de Borges.

Mas a finitude é isso: um espelho que não mais nos

reflectirá, um livro que repousará “eterno” na nossa

estante e que jamais leremos, uma esquina que não

voltaremos a dobrar.



Simone de Beauvoir inventou uma artimanha semelhante

para ludibriar os nossos limites ao afirmar que não

lhe interessaria sobreviver a tudo quanto tivesse amado.

A eternidade tornar-se-ia um penoso alheamento

num mundo estranho. A ideia serviu, pelo menos, para

iludir os meus primeiros e juvenis temores face à nossa

natureza absolutamente provisória e precária. Beauvoir,

escritora e talvez uma das personalidades que mais se

bateu pela dignificação da mulher, quando o “feminismo”

pairava muito longe da moda e dos costumes, foi a

“eterna” companheira do filósofo que marcou o século



XX: Sartre, o homem que inverteu o postulado cartesiano

(“Penso logo Existo”) e sentenciou: Existo, logo

penso.

Mas deixemos a invocação erudita (detesto-a, mas

que hei-de fazer do raio das memórias?) e passemos a

coisas mais comezinhas. Um dia, ainda jovem, decidi

escrevinhar um glossário pessoal. Tanto quanto me lembra,

quando cheguei à letra Z clamei: “é preciso reabilitar



o Zero!”. É que eu, além de Luís sou Zé, tal como o do

famoso livro de Reich: “Escuta, Zé Ninguém!”.

Ora bem, tudo isto vem a propósito do Zero, o gato, o

pequeno, amarelado e doce felino adoptado pela Casa

Amarela, sede de O País até à última semana. Foi ali que

nasceu este jornal, numa residência simpática, afável,

doce, depois convenientemente adaptada para tentar

fazer caber lá o ofício e os seus artesãos. Até as fl ores

que a circundavam eram amarelas, prolongando, num

desmaio poético do olhar, as vigas de madeira que a

sustinham. Por isso o Zero só poderia ser amarelado.

Vagamente tigrado. Surgiu, ainda bebé, no momento

em que houve que intercalar a urgência de produzir a

primeira edição de O País com o teste de um número

zero. A coincidência fez com que o baptizasse de pronto:

és o Zero!



E tornou-se, como o já descreveu, com arte de

escritor, Luís Fernando, um companheiro para a

redacção de O País. Uma figura. Os gatos, observa

Cesariny, olham sobranceiros, das suas janelas e dos

seus telhados, para a burguesia. O Zero mirava-nos

com cumplicidade, não abdicando da sua irredutível

independência felina. Com maior ou menor dedicação

revelada ou desvelada, no íntimo das almas que fazem

este jornal, o Zero era estimado. Por vezes secretamente.

A ração do bicho, quantas vezes adiada pelas nossas

urgências, compromissos, distracções e egoísmos,

lá acabava por aparecer, meio desconchavada, meio

espalhada, na cozinha. O Zero concitava protestos e

alergias mas, altaneiro, apenas conhecia uma moeda de

troca: a do afecto.



Afecto. Algum que não figura nos tratados e modelos

da ciência económica. O Zero, na economia simples da

sua vida, não enfrenta problemas de subprime - para

ele a Casa Amarela não é um activo susceptível de

valorização especulativa, é apenas uma referência, um

local onde cultivava amizades, um último abrigo. Não

se debate com crises de sobre-endividamento. O único

crédito de que dispõe é a dedicação e o amor. Ignora os

ciclos económicos e os relatórios periódicos. Vive sem

prazo. Quando lhe falta comida caça (mais por instinto

brincalhão que por necessidade) e faz-se, sobretudo,

à vida. Uma vida poupada ao fastio contabilístico e

à complexidade econométrica. O Zero ajudou-me e

ensinou-me muito nas horas em que “stressava” com

as mesmices de sempre e já nem estou propriamente em

tempo de aprender…



O País mudou de instalações. Mudar, é o seu lema, é a

sua missão, o seu compromisso, a primeira linha do seu

estatuto. A Casa Amarela e o Zero ficam para trás, nos

recônditos recantos da memória, a nossa bagagem mais

consistente. E persistente. A verdade é que ainda não se

inventou o homem sem bagagem…Pois. Mas o que seria

de nós sem a arte do esquecimento? Voltando a Sartre e

num arrufo de timorata improvisação asseguro: o Zero

existe, logo é. Oxalá os novos inquilinos da Casa Amarela

sintam, por esta asserção, alguma empatia.



Como diz a letra de uma musiquinha da minha predilecção:

“O tempo é um momento para nunca mais”.

Esta coluna, por natureza, não é titulada. Se houvesse

uma excepção à regra seria, desta feita, encimada por um

nome, muito singelo: Zero.
..................................
Se consolação alguma tive, foi a de me ter sido dada a possibilidade de ler um brilhante texto que agradeço ao Luís Faria..
Finalmente, surge esta última peça do Luis Fernando, a repor "a legalidade" sobre o situação do Zero que, evidentemente, teve honras de reunião da Administração. Pois claro.
Leiam o texto do Luis:

A fechar




Todos querem o Zero


A situação do Zero, o gato que não pôde acompanhar a equipa do jornal que o tem como mascote para o seu novo espaço de trabalho, está ao mais alto nível na Media Nova.
A semana começou com uma reunião no gabinete do PCA, João Van-Dunem, no mínimo atípica. Um único ponto, dois interlocutores: o cronista que em nome do colectivo ergue a bandeira da sobrevivência do mimado sete vidas e o representante da Administração que tem de tomar a última das decisões.
O fim-de-semana a seguir à publicação da crónica que colocava angustiantes interrogações sobre o futuro imediato do gato mascote foi agitado o suficiente para justificar essa reunião. Dezenas de leitores e amigos de O PAÍS, tocados pelo caso, juntaram-se à onda de solidariedade que protege o bichano e avançaram com soluções, que, no caso, se resumiram 
a uma apenas: aceitam ficar com o animal 
em suas casas!
Obviamente que colocada a resposta da sociedade da maneira como se colocou, sobrevieram, de repente, preocupações novas que sugerem apreciação ponderada. O Zero não é um gato qualquer, anónimo, de vida errática, agarrado ao mau agoiro que se associa aos iguais da sua família natural.
O nome Zero pode levar erradamente a intuir um punhado de tropeços existenciais. Zero de não existência, zero de nulidade, zero de um activo baixado à condição de não ganho e não perda. Um zero de vazio, de silêncio cósmico, de não matéria, enfim, o célebre zero matemático 
à esquerda do qual nada tem valor contável.
Só que o gato Zero, na verdade, representa o contrário de tudo isso. É um nobre quadrúpede com o espaço protegido e a vida tomada como responsabilidade permanente de um colectivo de gente conscienciosa que faz todas as semanas um jornal
Na reunião com o Zero a servir de ponto único da agenda a saída foi peremptória: a mascote de O PAÍS ganhou um estatuto social de peso tal que já não há nada que o possa afastar dos seus tutores. É património inalienável do jornal e assim permanecerá, quer troveje, aconteça um simulacro do fim do mundo ou uma qualquer praga de dimensões apocalípticas.
Os novos inquilinos da Casa Amarela deram a toda a família O PAÍS garantias de que o gato será sempre bem cuidado e que os jornalistas poderão continuar a ver nele o mesmo factor de inspiração. Não lhe faltará a ração providencial de todos os dias nem o sossego de um quintal amigo.
Apesar de geograficamente distante, 
o Zero manterá o estatuto de mascote do 
jornal e aceitará que os redactores, 
os repórteres, os fotógrafos, os designers, 
o rodeiem dos mesmos mimos destes últimos três anos de intensa cumplicidade.
Há por isso festa, de novo, entre os parentes humanos do mais mediático gato que Angola possui.
Já se fazem planos para o simpático bicho. Para muitos, está na hora de o trazermos uma vez ou outra ao novo edifício para rever os seus amigos de longa data; para outros, nada melhor do que proporcionar ao Zero as noites mágicas e simultaneamente loucas de fecho, 5tas feiras, a ver se não perde o endiabrado hábito de se deitar, descontraidíssimo, sobre os teclados dos editores. E de aparecer nos lugares menos recomendados, escadas, portas, copa, provocando quedas a quem se der ao trabalho e a veleidade de o ignorar, como aconteceu com a Rojú, do sector de Fotografia, no dia em que selaram, ambos, o ódio de estimação que se prolonga até hoje.
A saída encontrada para os dias futuros 
do Zero serviu para silenciar as manifestações de dor e legítima angústia dos ex-inquilinos da Casa Amarela e vizinhança. Livramo-nos todos do peso da observação útil e contundente da ilustre directora dos Recursos Humanos do grupo Media Nova, Kénia Sandão, 
que resumiu acertadamente aquele estado 
de desânimo global e nos partiu a alma durante dias: “é injusto deixar o Zero na Casa Amarela, abandonado, ele que foi o único trabalhador 
que não chateou, não deu dores de cabeça 
à empresa”.
Os novos inquilinos da Casa Amarela deram a toda a família O PAÍS garantias de que o gato será sempre bem cuidado...


Luís Fernando

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A austeridade é perigosa

belemlivre.blogspot.com/.../austeridade-e-perigosa-mark-blyth_19.html

o link acima, com a devida vénia ao autor do blog belemlivre, mostra o professor Mark Blyth, da Universidade Brown a defender a ideia de que a austeridade é uma coisa perigosa.
Vale a pena ouvi-lo.
Irrita-me profundamente a parte final do seu discurso, não pela ideia mas pela assumpção de que somos todos uns tolos enganados pelos poderosos que fizeram a grossa asneira financeira que abala o mundo sem sofrerem com a crise, enquanto nós, os pequenos, que já pagávamos tudo e mais alguma coisa antes da crise, agora, em nome da defesa da austeridade, pagamos tudo outra vez e com juros...
Esta gente das finanças, esta gente dos bancos de todo o mundo, devia ser chamada à responsabiloidade da porcaria que fizeram e serem castigados por isso. Mas, como de costume, não vai acontecer-lhes nada. A nós é que acontece. E custa muito.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O (falso) Decálogo de Abraham Lincoln

Num país de invejosos, mentes pequenas, arranjistas, onde a devassa da vida privada se tornou um desporto, onde olhar pelo buraco da fechadura do vizinho é o passatempo mais apreciado e o esquema do “já agora” é a máxima do oportunismo, vale a pena relembrar os dez mandamentos do 16º Presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln.



É certo que, depois disto, veio o capitalismo, com os seus bens e os seus males. Muitos dos que, em vez de trabalhar, andam entretidos a denunciar os vencimentos de algumas pessoas, como se, com isso, resolvessem os problemas dos pobres, e endireitassem a crise do país, melhor fariam se metessem menos baixas, se acabassem com o absentismo no trabalho, se olhassem para si póprios e tentassem progredir, se não profissionalmente, pelo menos como indivíduos úteis à sociedade.


Para esses aqui publico o Decátologo de Abraham Lincoln. Provavelmente, para muitos, estas dez ideias entram a 100 e saiem a mil, como se contivessem a maior inutilidade. São os que vivem a vida à espera do subsídio, da fuga às responsabilidades e aos impostos, dos que chamam a televisão para resolverem os seus problemazinhos pessoais, dos que passam o tempo à porta da Junta de Freguesia.









1. Não se pode criar prosperidade desalentando a Iniciativa Própria.


2. Não se pode fortalecer o débil, enfraquecendo o forte.


3. Não se pode ajudar os pequenos, esmagando os grandes.


4. Não se pode ajudar o pobre, destruindo o rico.


5. Não se pode elevar o salário, pressionando quem paga o salário.


6. Não se pode resolver os seus problemas enquanto se gasta mais do que se ganha.


7. Não se pode promover a fraternidade da humanidade, admitindo e incitando ao ódio de classes.


8. Não se pode garantir uma adequada segurança com dinheiro emprestado.


9. Não se pode formar o carácter e o valor do homem tirando-lhe a sua independência (liberdade) e iniciativa.


10. Não se pode ajudar os homens permanentemente, realizando por eles o que eles podem e devem fazer por si mesmos.

Mas, na melhor sopa cai a mosca. Continuando a pesquisa sobre este tema, descubro que, afinal, o decálogo é falso, que não foi Lincoln quem o escreveu. O decálogo, cujo título original é "The ten cannots" (Os dez não se pode) pertence ao reverendo William J.H. Boetcker, um presbiteriano norte-americano de origem alemã(1873-1962), que o publicou em 1916.
De tanto se atribuir a autoria destas máximas a Lincoln, o próprio Ronald Reagan, num discurso, mencionou o Decálogo como tendo sido do seu antecessor na presidência dos EUA.

domingo, 21 de novembro de 2010

MANDELA

Viajar pela África do Sul é receber surpresas a cada quilómetro de estrada. Perto de Durban, em Howick, deparei com este monumento erigido no local onde Nelson Mandela foi preso pela polícia do regime racista da África do Sul, em 5 de Agosto de 1962.

 Mandela já era conhecido e temido militante da causa anti-apartheid pelas autoridades separatistas havia alguns anos. Na sua actividade, ele deslocava-se de noite para não ser detectado pela polícia. Dizem que foi denunciado, o que facilitou a sua detenção naquele local.

O monumento é bastante simples, à beira da estrada e é necessário ir com atenção a uma placa indicadora. Fiz as fotos com luz do dia nascente, quando me deslocava para Durban.

A lápida diz : ESTE MONUMENTO FOI ERIGIDO PELO POVO DE HOWICK PARA COMEMORAR O LUGAR DA DETENÇÃO DO PRESIDENTE NELSON MANDELA EM 5 DE AGOSTO DE 1962. A PLACA FOI DESCERRADA PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL NA OCASIÃO EM QUE RECEBEU O TÍTULO DE CIDADÃO HONORÁRIO EM 12 DE DEZEMBRO DE 1996".

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cavaco visto por Daniel Oliveira

Daniel Oliveira publicou esta opinião na sua coluna "Antes pelo Contrário", no Expresso, no dia em que o Presidente da República anunciou ......
que se recandidatava....... a ..... Presidente...... da República.
Com a devida vénia ao autor, transcrevo a matéria.


Os cinco cavacos


Cavaco Silva apresenta hoje a sua recandidatura. Foi ministro quando eu tinha 11 anos. Pode sair da Presidência quando eu tiver 46. Ele é o maior símbolo de tantos anos perdidos. E aqui se fala das suas cinco encarnações.
Daniel Oliveira

(8:00 Terça feira, 26 de Outubro de 2010)

Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos. Mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.

O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.

O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.

O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.

O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.

Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.

E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.

Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.












domingo, 31 de outubro de 2010

Finalmente, a mudança

Finalmente, depois de tanta angústia com o que nos vão tirar do bolso, alguma coisa mudou neste país.....



........  A  HORAAAAAA.....

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CHOMSKY, SEMPRE CONTROVERSO....ou talvez não !!

Avram Noam Chomsky


As 10 Estratégias de Manipulação Mediática

O linguista dos Estados Unidos Noam Chomsky elaborou a lista das "10 estratégias de manipulação" através dos media:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRACÇÃO.


O elemento primordial do controle social é a estratégia da distracção que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distracções e de informações insignificantes. A estratégia da distracção é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranquilas')".


2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.


Este método também é chamado "problema-reacção-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reacção no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise económica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.


3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconómicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.


4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.


Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.


5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.


A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entoação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adoptar um tom infantilizante. Porquê? "Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reacção também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranquilas")".


6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.


Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido crítico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos...


7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.


Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranquilas')".


8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.


Promover ao público a achar que é moda o facto de ser estúpido, vulgar e inculto...


9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema económico, o indivíduo se auto-desvaloriza e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua acção. E, sem acção, não há revolução!


10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.


No decorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

domingo, 24 de outubro de 2010

ARTIGO NO PRAVDA sobre Portugal

Artigo do jornal russo Pravda sobre Portugal
recebido no meu email, de um amigo. Não é o que está na imagem.





Source: Pravda.ru



Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal, pelo Governo liberal de José
Sócrates. Mais um caso de um outro governo de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer
sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora, historicamente
deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.
E não é porque eles serem portugueses.
Vá o leitor ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores socioeconómicos, e vai descobrir que
doze por cento da população é portuguesa, oriunda de um povo que construiu um império que se
estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa atlântica, tornando
a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar
Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a
chegar ao Japão....e à Austrália.
Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de
austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de
política de laboratório por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contato com o
mundo real, um esteio na classe política elitista Português no Partido Social Democrata (PSD) e
Partido Socialista (PS), gangorras de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Porquê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia se deixou sugar, é aquele em que as
agências de Ratings, Fitch, Moody's e Standard and Poor's, baseadas nos Estados Unidos da
América (onde havia de ser?) virtual e fisicamente, controlam as políticas fiscais, económicas e
sociais dos Estados-Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos e ainda Bruxelas, quem precisa de inimigos?
Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e
com medo, apavorada com a Alemanha depois das suas tropas invadiram o seu território três vezes
em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta
Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. A França tem a
agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para a sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos pelos motoristas particulares
para transportar exércitos de "assessores" (estes parecem ser imunes a cortes de gastos) e
adivinhem de que país eles vêm? Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são os
Mercedes e BMWs. Topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata da
direita) e PS (Socialista, do centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos
portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo a sua agricultura (agricultores portugueses são pagos
para não produzir!!) e a sua indústria (desapareceu!!) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas
lusas!!), a troco de quê?
O quê é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade
de criar emprego e riqueza numa base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década, entre 1985 e
1995, anos em que despejaram bilhões de euros através das suas mãos a partir dos fundos
estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de
Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é considerado "sério" e "honesto" (em terra de
cegos, quem vê é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder (que só em Portugal, é!!)
e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e
parasitas inúteis (que são), ele é o pai do défice público em Portugal e o campeão de gastos
públicos.
A sua "política de betão" foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o resultado de uma
inapta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento
do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses investidos que sugam o
país e seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes e auto-
estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de
parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava
no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem do interior e chegar
ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram
criadas, em muitos casos já fecharam.
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou-se em empresas e
esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris. Foram encomendados Lamborghini, Maserati.
Foram organizadas caçadas de javalí em Espanha. Foram remodeladas casas particulares. O
Governo e Aníbal Silva ficaram a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi
desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo
a perderem o controle e a participarem.
Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político.
E ele é um dos melhores?
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente
Alto Comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um
buraco negro em termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo excelente diplomata, mas
abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, "Eu vou
ser primeiro-ministro, só que não sei quando") que criou mais problemas com o seu discurso do
que com os que resolveu, passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer
hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois mandatos de
José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e
tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado pelos interesses
instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado
da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise
mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo foram buscar três triliões
de dólares (???) de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis,
enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projetos de
educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de
inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de
laboratório, que obviamente serão contra-producentes.
O Pravda.Ru entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos.
Aqui estão os resultados:
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%).
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo,
mudar de emprego ou abandonar o país (5%)
Concordo com o sacrifício (1%)
Um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reação imediata será que a economia encolhe
ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela
população de Portugal, 10 milhões, afetará a criação de postos de trabalho, implicando a
obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no
caso de Portugal, contínua) recessão.
Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso. O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem os resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar!!
É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de rating, que o Governo de Portugal
está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português.
Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um retorno do Governo
de Portugal para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido
Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado com as suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a
ser independente. Essa classe, enviou os interesses de Portugal para o ralo, pediu sacrifícios ao
longo de décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos.
Esses traidores estão a levar cada vez mais portugueses a questionarem se não deveriam ter sido
assimilados há séculos pela Espanha.
Que convidativo, o ditado português "Quem não está bem, que se mude". Certos, bem longe de
Portugal, como todos os que podem estão a fazer. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora.
Que comentário lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico e uma classe política
abominável.



Timothy Bancroft-Hinchey

Pravda.Ru

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

VIVER A PRAZO


A Sol está condenada pela medicina, foi-lhe detectada uma metástase no pulmão direito. A médica deu-lhe dois meses de vida.

A Sol é uma gata persa que foi oferecida em bebé à minha filha mais velha, a Patrícia. Por razões diversas, sobretudo devido à profissão de Assistente de bordo (vulgo Hospedeira do ar) da Patrícia, acabou por ficar em minha casa. Cada vez que a Patrícia a trazia para casa quando ia voar, a bichinha chegava sempre em stress. Achou-se melhor estabelecer-lhe residência fixa.

Quando tive a síncope que me ia levando para o outro lado, depois da operação, em recuperação em casa, a Sol foi a minha companhia permanente nas 24 horas dos dias. Nunca saiu da minha cama, sentada ou deitada aos pés, mas sempre virada para mim. Tomou conta de mim de dia e de noite. Nunca esquecerei esta devoção “maternal”, afectiva, desta gata.

A Sol é um animal com uma personalidade forte, do alto dos seus 12 anos de idade, mas, ao mesmo tempo, muito afectuosa, muito carinhosa. Costumo dizer que é “pessoa” em forma de gata. Tem uma expressão de olhar que “derrete” o coração mais empedernido. Impõe-se quando acha que deve, tanto em face ao seu companheiro Lua um pouco mais jovem, como em relação à cadelita Twiggy, uma caniche que nos acompanha há 16 anos.

Quando se ama alguém, mesmo sendo um animal de estimação, não se aceita uma sentença de morte ditada pela ciência, ou, pela incapacidade da ciência. Quando muito, com alguma sorte, ela poderá ainda durar uns seis meses mas, já com sofrimento. Terá de avançar para a quimioterapia. Não estou a ver a “minha” Sol a ter de fazer quimioterapia todos os 15 dias. Ela que é tão assertiva, tão decidida, tão autoritária!. Cair no torpor do tratamento, deixar de executar as suas atitudes de “mandona” em relação aos outros animais e até a mim, não estou a ver a Sol a aceitar isso.

A notícia ainda está fresca e ainda estou em “choque”, a médica há-de dar os conselhos que achar mais convenientes para o bem-estar da Sol.

Sei que a Natureza vai seguir o seu caminho inexorável e que eu vou ficar sem a companhia da Sol dentro de um prazo relativamente curto. É estranho tudo isto. Todos sabemos que a morte é o que há de mais exacto na vida. Todos sabemos que ela vai chegar a todos nós. Temos sempre a esperança de um adiamento, de um prolongamento.

“Ahhh!!! A Morte não me vai fazer isso agora, já”. Custa é quando é dado um prazo. Dois meses, seis meses. Um prazo. O fim da linha. O términus da viagem. O muro que não se vence. Numa morte anunciada, não é só a vítima que sofre mas também quem a rodeia. Todos passam a viver a prazo.

domingo, 10 de outubro de 2010

Os meus relógios russos


Dos paraquedistas

Dos submarinistas, automático, suposto aguentar até 200 m de profundidade. Desculpem a qualidade da foto um pouco.."aguada", como convém.

Em 1993, na Praça Vermelha em Moscovo, vagueava eu pela história junto às grandes galerias que existem no lado oposto ao Kremlin. Procurava "souvenirs" para levar para casa mas, estranhamente, não via vendedores ambulantes. Até que fui abordado por um que me propunha "excelentes relógios de grande qualidade". Devo confessar que uma das palavras mágicas que agitam os meus neurónios é precisamente "relógios".
Mas, onde estava o mostruário? Ele não carregava nenhum. Comecei a desconfiar, não estivesse eu a começar a ser mais uma vítima sei lá de que maldade humana.  Fez-me sinal para o seguir. Fui, na boa. Voltei a desconfiar quando me encaminhou para um baixo de escada, algo escuro, algo assustador. Era ali a "loja" dele. Num inglês pior que o de alguns governantes, explicou-me que as autoridades perseguiam-nos e que tinham de se esconder. Tudo bem, "mostra lá os relógios". Dezenas deles, de todos os feitios, comemorativos de datas "gloriosas" da União Soviética, pins, colares, enfim, uma quantidade infinda de "souvenirs".

Dos blindados, com 17 rubis








Do KGB, automático, 200 metros

Lá fui separando uns dos outros para uma melhor selecção, sempre com os conselhos sábios do vendedor a enrtrarem-me por uma orelha e a sairem pela outra. Depois de laboriosas negociações e de cálculos sobre a relação rublo/escudo, fizemos negócio. Trouxe, dentro de um saquito de plástico de compras, os meus preciosos relógios. Achei particular interesse nas peças exclusivas para os vários ramos das forças armadas. O relógio dos blindados, o relógio dos submarinos, automático, o relógio dos paraquedistas e, automático também, capaz de suportar até 200 metros de profundidade (coisa que nunca experimentei por absoluta falta de tempo como devem compreender), o relógio do KGB.
Depois, apresento-lhes um relógio "mais para melhor" como dizia a minha mãe quando achava que era necessário subir o estatuto e um outro, o único de pilha comemorativo da "grande CCCP" onde por baixo do 6 se lê, dificilmente, "Made in USSR". Certamente era para exportação para os...EUA ??

Aqui ficam para a vossa curiosidade. Não são uma gracinha?


Counter II

Counter