segunda-feira, 30 de julho de 2007

Carta a Cassio

Não sei se por todo o mundo ter ido para férias ou se foi pelo Parlamento ter fechado para descanso - coitados dos deputados, eles sacrificam-se tanto por nós que bem merecem férias –ainda não começaram os (grandes) incêndios de floresta. Por enquanto, só uns quantos. Quem sabe os incendiários também foram a banhos no Algarve congeminando novos ataques na “rentrée”. A verdade Cassio é que - especializados em adequar à nossa dimensão aquilo que outros inventaram - por aqui estamos na “silly season”. Você sabe, é aquela época tola, em que é permitido dizer os maiores disparates, fazer as maiores tolices e ninguém levar a mal. Se não houver coisa de futebol, haverá de política, se não, haverá de actor de telenovela. Mas há sempre notícia tola para encher de frivolidades as páginas dos jornais. Topa-me só esta: o Parlamento aprovou uma lei nacional sobre a questão da Interrupção Voluntária da Gravidez (aborto, em curto). Sendo nacional, é para todo o território mas, o sinhozinho Malta da ilha da Madeira, que está no poleiro do poder há 30 anos, como é do partido contrário ao do Governo, simplesmente disse que as suas finanças não pagariam os custos médicos porque, quem está doente é o primeiro ministro e não está para obedecer às regras democráticas que lhe deram o poder lá na Ilha. Ora, cá para mim, tal atitude só pode ser atribuída à época tola que atravessamos neste período de férias ou a uma insolação fora de tempo. Em breve, o arroto autonomista do governante ilhéu deixará de ocupar lugar cativo nos media, para dar lugar a outros assuntos mais veraneantes. Não havendo notícias relevantes, exceptuando as recorrentes informações sobre as temperaturas e raios ultravioletas, os jornais, rádios, televisões, blogues, internetes, conversas de café e todos os lugares onde se acumulem mais de duas pessoas ocupar-se-ão de nos entreter com afirmações, notícias, comentários mais ou menos bombásticas e... pronto...fica tudo resolvido, isto é, nada tratado porque, importante mesmo é ir para férias ainda que seja a crédito e o resto que se dane. Pelo meu lado estou livre disso uma vez que já resido comprovadamente em zona de férias. Distraído como sou, não tinha dado conta do ambiente não fosse ter começado a ouvir mais francês do que português na fila da padaria, de manhã. Eu pensava que eram turistas, até porque acabam sempre por entrar em carros com matrícula francesa mas, afinal, num momento de mais requintada atenção à pronúncia e ao vocabulário, acabei por isolar algumas palavras saídas do português como “as valisas pesadas”(as malas pesadas), “manger sardines assadas” (comer sardinhas assadas) e concluí que estes são um novo tipo de turista, não aquele que compra as férias num pacote de avião e hotel antes o que se empacota num carro atafulhado de “valises” e sacos, atravessa meia Europa para vir queimar as suas economias em sardinhadas, feijoadas e vinho tinto, verde ou de qualquer outra cor desde que seja vinho “lá da terra, s’il vous plaît”.
Mas também somos alimentados por belas pérolas embora menos sazonais mas igualmente dignas de serem guardadas em exclusivo estojo de veludo para repousarem ad eternum na galeria das grandes citações da nossa elite intelectual. Um conhecido advogado da nossa praça, que já foi bastonário da Ordem dos ditos cujos, em míngua de popularidade e de mediatização, aceitou (ele estava louco para aceitar) o convite feito por um candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa para exercer as funções de mandatário, portanto, do máximo representante dessa candidato. Uma espécie de Condolezza Rice mas ao nível português, percebes? Esse indivíduo, num assomo de vincada personalidade vertical e de bom gosto social, explicou a sua futura função na candidatura com esta frase lapidar, certamente já a caminho do pequeno e exclusivo grupo de futuros Nobel da estupidez misturada de auto convencimento : “sinto-me um ginecologista, trabalho onde espero que muitos se divirtam”. Então não é uma jóia de bom gosto? Acho que, com isto – ou com estes – já batemos de largo as gaffes do vosso presidente Lula. Pelo menos, Cassio, dá-nos o privilégio da dúvida a qual será rapidamente esclarecida por algum outro membro da “inteligentzia” lusa que, tal como o vosso Frei Betto, “subirá até aos mais altos galhos (não) do jatobá da fama revolucionária de onde distribuirá conselhos e orientações políticas” mas sim da pequena, mesquinha e doméstica prazenteirice com que perdoamos bojardas de boçalidade. Mal por mal, amigo, preferia apanhar com as bocas do Bocage, ou até mesmo de um mineirim “magina, num tô nem aí”. Deve ser da época tola, só pode!
Pasmo, Cassio, como é que este Portugal fez o que fez na história, com muito menos gente, sem televisão, sem telemóvel, sem engarrafamentos, sem Parlamento e com os castelhanos sempre em cima. Será o mesmo país?
Assim vai o reino, amigo, numa tarde estival onde o sol se alonga nas sombras e as pessoas se estendem como gatos no cimo dos muros adoptando, como leitmotive a expressão “no pasa nada” que é, como quem diz, não acontece nada e a gente se interroga se o sentido da vida é na direcção sul, pela A1 até mergulhar no resto do Atlântico antes de passar a Mediterrâneo.
Olha-se em redor e vê-se vida, é certo e também morte, doença e o coração se aperta quando o cerco é mais fechado e nos toca na pele ou na pele de quem mais gostamos. Fica-se um tanto paralisado, deixa-se sair revolta em palavras soltas, “porquê ela, porquê ele, porquê eu?” e reclama-se da injustiça de alguém de estar entre nós, mas não é só por isso, é por sentirmos que com essa perda algo de nós ficou a menos, irremediavelmente fracturado. A Morte, Cassio, para mim, é muito estranha, sou incapaz de a tornar física na figura tradicional do vulto preto com uma forquilha na mão. Também não sei dar-lhe configuração espiritual, sou impotente para a situar em contextos outros que não sejam “é o fim, acabou, fica a lembrança a dor da ausência e pouco mais do que uma pedra no cemitério.” Talvez por isso me espante (ainda) com a linguagem da Igreja Católica em determinadas ocasiões como num funeral onde, o que mais ouvi da boca de um sacerdote, foi a repetida alusão à ressurreição e ao perdão do pecado. Não entendo esta linguagem que acusa de pecador aquele que viveu ao mesmo tempo que lhe promete a ressurreição como não entendo que Bento XVI queira regressar ao latim nas práticas católicas. Latim, uma língua morta de volta à Igreja no século 21? Voltamos ao “Dominus Vobiscum” (o senhor seja convosco) e a um “fundamentalismo católico” para se contrapor ao daqueles muçulmanos que carregam um morto pelas ruas fora em passo de corrida ao mesmo tempo que gritam “Allah’u akbar” e à custa de quem ficamos a saber que “Deus é o maior”? Duvido que tais práticas conduzam à angariação e conquista de novos praticantes da fé católica, especialmente numa fase em que muito da vida de um dos grandes baluartes, Jesus Cristo, tem sido questionada com alguma paixão. Mas quem sou eu para enveredar por caminhos etéreos quando, afinal, o básico é estar vivo, partilhar e dar um pouco de si a quem está ao lado. Há dias encontrei um amigo que também precisou de umas substituições no sistema cardiovascular, colocaram-lhe três bypasses (pontes de safena como vocês aí chamam) tal como a mim, mas a diferença é que ele é sénior na matéria, foi operado fez sete anos e eu não passo de um mero iniciado. Interessante foi a conversa que se desenrolou entre nós dois, trocando experiências, conferindo sensações, e a ti, não te dói na perna de vez em quando?, ainda tens tonturas?, quantos comprimidos estás a tomar por dia? e coisas assim, assuntos altamente científicos como se notou já. Com tanta partilha e intercâmbio seria de esperar que a experiência e ensinamentos de um poderiam servir para o parceiro mas não, cada caso é um caso, cada pessoa é única e, o que serve para uma não servirá necessariamente para a outra. Fiquei um tanto desiludido quando me dei conta deste particular mas, por outro lado, suporto bem a diferença. Que adianta aconselhar um sénior com os meus truques de novato no clube? Ou ele a mim? São corpos diferentes.
Fica sim o suave gosto de aliança, o aconchego da empatia, a sensação de não estar só. É bom.
Como é bom saber-te daí desse lado do mar preocupado comigo. Não te angusties, “isto” está bem direccionado, tudo nos trinques, cada dia é mais um e não menos um.
Aceita aquele abraço com cheiro de saudade.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Silly season, silly people

É recorrente, todos os anos por esta altura entra-se na chamada silly season, eu traduziria por época das tolices, que se manifesta durante o Verão por intermédio de publicação de frivolidades nos media. Claro, não fomos nós que a inventámos esta silly season sazonal, a coisa vem dos lados dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Austrália.
É que, com a ida para férias de todo o país, jornais, televisões, rádios ficam à míngua de noticiário sólido como os elegantes e construtivos debates no Parlamento, ou transferências mirabolantes de jogadores de bola.
Recorre-se então ao mais do mesmo, o trânsito nas cidades, as praias cheias ou não, o fluxo de veraneantes para Algarve, a chegada festiva dos emigrantes, os cuidados a ter-se com a pele, as parolas festas de Verão em tudo quanto é largo do pelourinho aldeão.
E criam-se factos para vender papel e manter “visibilidade mediática” – eu chamar-lhe-ia fazer prova de vida – num país morno onde o Governo nos vende todos os dias mais um pedaço de paraíso e alguns crentes de deterem a verdade absoluta alinham em teses de oposição usando os instintos de preservação das pessoas. Jornais, rádios e televisões agarraram-se com unhas e dentes aos medos do deputado sr Manuel Alegre, que um comentador da nossa praça qualificou de acto de política pura para não dizer que não terá consequências práticas. E não terá mesmo simplesmente porque o povinho está-se marimbando para os políticos, o que ele quer é sopas descanso e umas febras bem regadas a tintol.
Silly season, silly people.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

DIA DEL AMIGO-20 de julio


20 DE JULIO,DÍA INTERNACIONAL DEL AMIGO

El DIA DEL AMIGO,tuvo su origen en la Argentina. Se lo debemos a un odontólogo ,músico y profesor de psicología que vivía en la pcia. de Buenos Aires.
Cuando el hombre llegó a la luna,él comprueba que nada nos distingue, todos somos uno:la humanidad ,y decide crear el día del amigo.En Argentina, país donde la amistad es un culto, su idea encontró tierra fértil.
Este profesor se llamó Enrique Ernesto Febbraro. Con esta idea latiendo en su espíritu ,escribe 1000 cartas a diferentes países. Le responden 700 personas. Hoy ha quedado instaurado el día internacional del amigo en 100 países.
Destaco que el Dr. Febbraro fue candidato dos veces al premio Nobel de la Paz.
En mi ciudad, desde el día lunes , ya no se encuentran lugares libres en restaurantes, bares,ni cafés,ya están todos reservados. Para el día 20, todo el transporte público, colectivos y taxis redoblarán las unidades a partir de la hora 21p.m. (hora en que la gente sale a cenar o beber festejando)y trabajarán doble ,también, desde las 4 a.m hasta las 6 a.m. del día 21.(cuando se vuelve a casa).
Es muy difícil encontrar otra fecha más simpática y emotiva que ésta.
El argentino vive la amistad en todos los momentos de su vida, en la calle, saludando con el brazo en alto de vereda a vereda ,con una sonrisa, con un -"chau", nos vemos",cuando el tiempo apura, con una llamada por teléfono en horas inusitadas,para decirte "-estaba pensando que..." y ,obviamente este sentimiento lo encontramos en las letras de tango.No podía ser una excepción..
¿Qué es la amistad?¿Cómo la definimos?

La amistad es una clase de virtud. Es, además, una de las necesidades más indispensables de la vida. ( Aristóteles. De teoría de la amistad del libro Etica) y añade “ la amistad es el vinculo de dos almas virtuosas”.
Y aquí vienen las preguntas. ¿ un no virtuoso no puede experimentar la amistad? ¿es necesario serlo?.
Es que la amistad, como debe entenderse, es una virtud y el practicarla o experimentarla ya nos hace virtuoso¿ y por qué es una virtud? Porque su esencia es desear el bien, desear lo mejor al amigo sin fines de ventajas, de utilidad y sentir el placer de recibir su amistad y brindársela.

Es uno de los más bello sentimientos y requiere una forma de ser constante.
Vivir juntos tantas veces lo inexplicable, cantar a dúo la canción que nos presenta la vida y, para escalonarla, la amistad nos ofrece los peldaños del afecto y las barandas de la confianza.
El argentino tiene como sentimiento absoluto, la amistad. Muchos se han puesto de acuerdo con la causa de este fenómeno, pero es tema para otra charla. Es parte de nuestra idiosincrasia.

Pero vamos a la amistad en el tango. La amistad en el tango es un sentimiento elegíaco( recordar que elegía es algo que se evoca con dolor) . El tango recuerda, evoca nostálgicamente( la nostalgia es aquello de “me gustaría volver a vivirlo”). “ Viejos amigos ¿ que se habrán hecho? “ o “¿ Donde están mis amigos de ayer?”.

Cadícamo en el tangoTres Amigos guarda un recuerdo emocionado que se agranda con el pasar del tiempo y los nombra “¿ Dónde estarás Pancho Alsina? Balmasea” y aquellos “ 25 abriles que no volverán” hablan de un tiempo y de un grupo humano que los años fueron alejando para confesar con resignación “ Yo y vos solo quedamos, hermano. Yo y vos solo para recordar”
La nostalgia es la sabia que corre por las letras del tango y se desnuda cuando se refiere a los amigos. Pero hay una sola estrofa del tango de Díscepolo , Cafetín de Buenos.Aires., que ofrece de manera significativa esa veneración por los amigos que involucra un pasado, pero también es un presente continuo.
“ Me diste en oro un puñado de amigos”¿ qué más puede decir?, los evalúa en oro!. Pero a diferencia de otros amigos perdidos, éstos aún están . “ Que son los mismos que alientan mis horas”. Es decir, son el espíritu de esa amistad, porque se dice que un amigo te lleva a realizar lo que creías irrealizable, aquello que vive en la dimensión de la fantasía..
Y la amistad traspasa los umbrales de la muerte guiando a la manera de un ángel guardián_ “y el flaco aquel que se nos fue y aún me guía”,continúa diciendo.
Pero esta amistad necesaria , el hombre de tango la encuentra en un amigo simbólico, el bandoneón ,a quien personaliza.Con él se confiesa, con él dialoga,él es quien lo cobija cuando sufre..
Homero Manzi en su tango Che,bandoneón, expresa “El duende de tu son,che,bandoneón,se apiada del dolor de los demás, y al estrujar tu fuelle rezongón se arrima al corazón que sufre más…” y "bandoneón,hoy es noche de fandango y vengo a confesarte la verdad…”
Ahora, brindemos por este bello sentimiento y seamos merecedores de que alguien nos diga_”dame tu mano, es todo lo que tengo"

Marita Faini Adonnino-Argentina

Ora pro nobis ut digni efficiámur

La palabra teología indica que estamos utilizando la palabra sobre Dios. theo =dios, logo = tratado sobre....
Si aspiramos a estar en contacto con Dios ,se deben abrir los caminos y no cerrarlos.
Benedicto XVI se ha empeñado en hacer del catolocismo una élite, cuando en realidad catolicismo = universal.
El Papa, con una concepción europeísta del catolicismo, como lo demostró en su visita a Brasil en el mes de junio al referirse a la evangelización de las culturas indígenas, erra en sus decisiones contrarias al espíritu mismo del cristianismo.
La religión no debe dar la espalda al marco histórico que le toca vivir y debe colaborar en la construcción de una sociedad más justa ,no ignorando los conflictos sociales y participando en ellos. (por suerte en América latina existe un grupo bastante grande de miembros de la Iglesia que se encuentran afanados en esta tarea).Cómo, entonces, se le ocurre que las misas vuelvan a darse en latín. Una lengua muerta, ajena totalmente al conocimiento del hombre común _ y no común_.
Ratzinger ,deja mucho que desear.Creo que tenemos que elevar la mirada al cielo y decir "ora pro nobis".
Marita Faini Adonnino-Argentina

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Manipulação, incompetência, preguiça?

Esta quinta-feira e dia seguinte Lisboa acolhe alguns grandes do mundo para discutirem a paz no Médio Oriente. Dinheiro mal gasto com Blair, Condoleeza Rice e sei lá quem mais, o que fiquei a saber durante todo o dia de quarta-feira, de manhã à noite, foi que está montado um exemplar esquema de segurança com não sei quantos polícias em motos, batedores, grupo de Operações Especiais, caças F16 prontos a descolar do Montijo, helicópteros, atiradores especiais, enfim, um pequeno exército para “garantir a segurança” dos artistas da alta politica. Da conferência em si, do que vão discutir, do que é que está em cima da mesa (para usar uma expressão tão na moda aqui no rectângulo), de quais as hipóteses de alinhamento de directivas, de qual o papel de Portugal para além de anfitrião, nada foi dito, ninguém foi ouvido.
Como informação repetida de hora a hora em todos os noticiários da rádio, é bem pobre, estou mesmo a ver como a coisa funcionou: a Polícia, para mostrar serviço, fazer propaganda de si mesma e justificar futuros pedidos de aumentos financeiros ao Governo, mandou cá para fora um comunicado a explicar em pormenor o esquema montado e, as redacções, em alternativa às queixinhas do sr. Marques Mendes, agarraram-se com unhas e dentes aos nossos Rambos domésticos Mas não foram mais longe que o chinelo de quarto porque, investigar, ir para além do press release, variar a informação enriquecendo-a durante o dia dá muito suor e o Verão está a começar a apertar.
Para mim, esta atitude informativa não passa de grosseira manipulação da Polícia, de incompetência das chefias de redacção e de preguiça dos jornalistas.
Não acredito que, ao divulgar os meios de protecção dos senhores da Paz no Médio Oriente, os eventuais terroristas do Líbano, ou da Palestina ou mesmo da ETA estejam a tremer de medo e, se quisessem, não seriam capazes de fazer um golpe inevitavelmente de grande projecção mundial.
A propósito, há alguém que queira realmente a paz no Médio Oriente? Estou em crer que a reunião de Lisboa, não passará de mais um show off dos grandes do mundo.
hs

terça-feira, 17 de julho de 2007

Primeiro estranha-se

Andamos nós por aí deambulando cogitações e o mundo passando ao nosso lado sem darmos por isso ou darmos muito tarde.
Não sei se é privilégio de seres superiores estar a par de tudo o que o mundo vai dando, este mundo cada vez mais aberto e mais tocável, mais imediato. Se calhar, o não darmos por isso reflecte, sejamos benevolentes, inocente distracção ou até simplesmente um breve adormecimento. Pior seria se a causa fosse soberano desinteresse. Postas as coisas assim, sinto-me mais afável para comigo mesmo, quase inclinado ao auto-perdão, não fosse a enorme influência do meu signo que me obriga a ser autocrítico e exigir sempre mais. Verdade, verdadinha, gosto mesmo de saber, de estar actualizado, de alimentar esta curiosidade que pode tanto ter sinal positivo como negativo, aborrece-me ver-me ultrapassado por mim próprio e perder o momento do encanto só recuperável a grandes custos. Por isso me interrogo onde estava eu, em que mundo andava para nunca ter ouvido falar de Paul Potts e, mais grave, de nunca o ter ouvido cantar.

Felizmente que há email e amigos capazes de adivinharem os nossos estados de suspensão da alma e nos activarem os sentidos com um simples conselho: vai ao Youtube chama Paul Potts e depois fala comigo. Ele podia ter-me enviado o link, sempre me fazia entrar directo no assunto que eu desconhecia de todo mas preferiu aguçar a minha curiosidade. Numa primeira leitura do nome, devo confessar ter sentido um tremor na coluna, é que Paul Potts soa igual a Pol Pot, o ditador maoista autor do genocídio no Camboja em nome da pureza do pensamento comunista nos anos 75 a 79, cujo nome – e façanhas sangrentas dos khmer rouges - me fartei de enunciar nos meus tempos do TJ da RTP.
Sosseguei ao concluir que o meu amigo não tem estatuto para se enganar de forma tão boçal donde, avancei de peito aberto para o youtube, Paul Potts e deparo com um homem gorducho, falta de um dente à frente mas dono de uma voz de tenor espantosa a interpretar Nessuno Dorma da Turandot de Puccini.
À medida que o ouvia e me deixava levar pela emoção, interrogava-me como é que um obscuro vendedor de telemóveis se atravessava à frente da minha ignorância e me fazia levitar enfeitiçado pela sua voz, sem aviso prévio. Afinal, Potts já cantava ópera antes nos anos noventa, em exibições amadoras, não tinha aparecido assim de geração espontânea num concurso de televisão no mês passado, a dar-me Pucini com todas as notas e tempos. A vitória, para além de lhe ter proporcionado um alívio financeiro de 100 mil libras e de ir actuar perante a rainha da Inglaterra, abriu-lhe as portas da fama e do proveito. Bem merece Paul Potts tudo o que lhe está a acontecer agora de bom porque, até ao concurso, ele e a mulher passaram miséria para poderem pagar as aulas de canto em Itália, onde teve a honra de ser ouvido pelo grande Pavarotti.
Fiquei rendido a Paul Potts, mas eu não percebo nada de ópera, por isso recomendo lerem uma crítica (em inglês) assinada por SJ Reidhead no blog BLOGCRITICS MAGAZINE em
http://blogcritics.org/ , botão Music. E deliciem-se com os duetos virtuais com Pavaroti, Andrea Bocelli e Sarah Brightman. apresentados no youtube e digam-me se não vale a pena limpar a cabeça de cogitações e deambular pelos terrenos da descoberta?
hs

domingo, 15 de julho de 2007

ESPECTÁCULO na NATUREZA (cont.)

A ANDORINHA-MÃE

O vaivém atarefado é constante:
Ora pica o voo numa volta alargada
Ora dispara num enviesado rompante
Na direcção do barro onde a ninhada
De bicos abertos espera que se cumpra
A rigorosa Lei que nunca se deslumbra.

Com a colaboração do macho
Que faz a vigia na sua ausência,
A excelência de engordar (em fogacho
Quase imperceptível) sem anuência
Os futuros perpetuadores da espécie
Afasta as intenções de qualquer sordície.

Na singeleza da natureza não há alternativas
Pois tudo é correcto preenchendo os lugares
Devorados em análises de muitas perspectivas
E por mais que queiras, só resta enxugares
A lágrima solta pelas alegrias interrogativas
Que te darão vontade de centrifugares
Os malefícios isolados em redomas marcadas
Sobressaindo o exemplo das andorinhas desembaraçadas.

Lisboa, 9 de Julho de 2007

Francisco da Renda

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O Gulag


Estou abismado e preocupado ao mesmo tempo com o que acabo de ler e transcrevo aqui em baixo.
Se “isto” for para a frente em relação à avaliação dos professores, só nos resta esperar novas e geniais ideias de avaliação em relação a outras profissões e, porque não, daí para a vida privada, a mulher fazer a avaliação do marido, o marido fazer a avaliação da mulher, os filhos avaliarem os pais e um grupo de avaliadores decidir estes pais não estão a funcionar como deve ser, têm de ser ou reciclados ou demitidos e despromovidos.
Torna-se tenebrosa esta tendência do poder português (não é de agora nem deste governo, já vem de outros anteriores) de colocar controladores de controladores de controladores, numa saudade mal disfarçada da pide do Salazar/Marcelo Caetano. Leiam bem o texto abaixo e, sem me fazerem qualquer favor, digam-me o que pensam.
Mas... desde quando, alunos que passam o tempo das aulas a mandarem msn’s pelo telemóvel, ou a ouvirem ipod’s, chantageiam os professores com promessas de queixas ao conselho director, desde quando, pais e encarregados de educação burgessos convencidos de possuírem uma autoridade que não ganharam de mérito próprio, vão agora poder decidir da competência ou não competência de professores? Mais grave, vão poder decidir do futuro, da carreira de professores por meio de avaliações onde, imagine-se, o próprio docente terá de elaborar a sua própria ficha de auto-avaliação?
Eu, que sou do tempo em que professor era professor e aluno era aluno (acho que as grandes cabeças deste país, da minha geração, não carregam traumas por isso), faz-me confusão que se tenha chegado a este ponto onde não se sabe se vivemos em regime democrático ou se em regime autoritário sob a ideia de que toda a gente controla toda a gente. Se a autoridade do Estado é por aí que se manifesta, onde está a democracia?
Comités de avaliação, é isso que querem montar nesta porra de país? Desculpem-me o desabafo mas começo a ficar preocupado. Já não bastava o elogio da queixinha, o sorriso bonacheirão face à denúncia idiota, a promoção do yes minister, agora, comités de avaliadores.
Já viram a pressão que se vai exercer sobre os professores? E o gasto de tempo que poderia ser ocupado a, simplesmente, ensinar?
Leiam, então, o naco de prosa abaixo:

As notas dos alunos de cada docente e a sua comparação com os resultados médios dos estudantes da mesma escola constituem um dos factores determinantes da avaliação de desempenho dos professores, segundo uma proposta do Ministério da Educação (ME), avança a agência Lusa.
De acordo com o documento, que regulamenta o Estatuto da Carreira Docente (ECD) nesta matéria, o processo de avaliação ocorre de dois em dois anos e abrange todos os professores, incluindo os que estão em período probatório, sendo decisivo para a progressão na carreira.
Cada docente terá de elaborar uma ficha de auto-avaliação, especificando as notas que atribuiu aos seus alunos em cada um dos anos lectivos em análise, a diferença para os resultados que os mesmos obtiveram em exames nacionais ou provas de aferição e a comparação com a média de classificações dos estudantes do mesmo ano de escolaridade e disciplina, na sua escola.
A ficha de auto-avaliação é um dos elementos do processo, a que se junta a avaliação efectuada pelos superiores hierárquicos, nomeadamente o conselho executivo e o coordenador do departamento ou do conselho de docentes. A relação pedagógica com os alunos é outro dos factores, que será aferido pela observação de, pelo menos, três aulas dadas pelo professor avaliado, por ano escolar.
O nível de assiduidade, a participação em projectos e actividades, a frequência de acções de formação contínua e o exercício de cargos de coordenação e supervisão pedagógica são outros dos elementos da avaliação de desempenho.
Já a apreciação dos pais e encarregados de educação só poderá ser tida em conta pelos avaliadores mediante a concordância do professor, sendo promovida de acordo com o que estipular o regulamento interno das escolas.
A escala de classificações compreende cinco níveis: Insuficiente (1 a 4,9 valores), Regular (5 a 6,9), Bom (7 a 7,9), Muito Bom (8 a 8,9) e Excelente (9 a 10 valores). Para obter uma classificação igual ou superior a Bom o professor terá de cumprir, pelo menos, 95 por cento das actividades lectivas previstas, não podendo mesmo falhar nenhuma para alcançar o nível de Excelente.
No entanto, haverá uma percentagem máxima para a atribuição das classificações de Muito Bom e Excelente, que será fixada em cada agrupamento de escolas por despacho conjunto dos ministros da Educação e das Finanças, tendo por referência a avaliação externa de cada estabelecimento de ensino.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Portela mais quantos?????


Do meu amigo João Coimbra, comandante piloto-aviador e formador, recebi este estudo de sua autoria. Por se tratar de tema com grande actualidade de que tanta gente fala sem nada perceber do assunto, achei por bem partilhar este trabalho do João Coimbra.

“O novo "Terminal 2" do Aeroporto Internacional da Portela/Lisboa, cujas obras decorrem em ritmo acelerado, será aberto no próximo mês de Agosto.
A partir de Agosto deste ano, os passageiros dos voos domésticos das companhias nacionais que realizam voos regulares de Lisboa para as Regiões Autónomas - TAP, PGA e SATA Internacional - passarão a embarcar no novo Terminal 2, que terá acesso pela Segunda Circular.
No entanto, aquilo que parece tratar-se de uma boa solução para aliviar o tráfego nacional, promete ser um transtorno importante por vários motivos.
Primeiro porque o novo Terminal não reúne as comodidades a que estavam habituados os utentes destas linhas, nomeadamente no que se refere às condições de embarque e de permanência no Terminal.
Segundo não terá mangas telescópicas para acesso directo às aeronaves, pelo que os passageiros terão de embarcar através de transbordo em autocarros, ou até mesmo a pé, já que a placa de estacionamento dos aviões que se destinam às linhas domésticas ficará mesmo frente ao novo Terminal (embora ainda consiga viver com isto).
Para mim o pior problema é o acesso a essa nova aerogare. Para além de não possuir parque de estacionamento, as pessoas que se destinam a esses voos, em horas de ponta, serão obrigadas a circular numa das vias de Lisboa com tráfego mais intenso - a segunda circular - o que dificultará (e de que maneira) a nossa vida!
Embora a ANA diga que esta situação é transitória, já que prevê que os voos domésticos possam voltar ao Terminal 1 logo que as obras de ampliação do actual sector de embarque e desembarque estejam concluídas em 2010. Contudo, atendendo ao crescimento do movimento de passageiros no Aeroporto de Lisboa (em 2006 teve 12 milhões, prevendo-se que em 2010 possa receber, pelo menos, 15 milhões), o mais provável é que os voos domésticos fiquem no Terminal 2 até que o aeroporto seja deslocalizado, o que poderá acontecer apenas entre 2017 e 2020.
Só uma curiosidade: em princípio só as companhias portugueses serão "movidas" para o Terminal 2, enquanto que os passageiros das companhias "low cost", de registo estrangeiro, que eventualmente venham a voar para a Madeira, no próximo Inverno, num cenário de liberalização da linha, irão utilizar a Terminal 1 com mangas. O que não deixa de ser caricato, já que os passageiros que pagarem menos usufruirão de melhores comodidades...”

segunda-feira, 9 de julho de 2007

ESPECTÁCULO na NATUREZA

A ARANHA-MÃE


A aranha acabada de parir dezenas
De filhotes parecia bastante cansada,
A teia, onde os protegia das pequenas
E grandes agressões, estava bem treinada
Mimetizando um refúgio sem mecenas
Que os isolava numa tarefa não terminada.

Esgotada por cumprir o instinto básico
Da propagação da espécie pouco tempo teve
Para o repouso pois o alimento não era discrásico
Nem discutia por um motivo seco e leve,
E a fome, com persistência, nada tem de difásico.

Neste preenchimento da vida, a hierarquização
De valores
Não se coaduna com o cansaço nem com a emoção
E por mais que lhe custasse as bocas esfomeadas tinham razão,
Sem favores.
Tratou então de por o corpo e as gambias em acção
Com características de quem tem uma missão
Cujos odores
Se perpetuam no perfume da nova geração.

Eu, cada vez mais deliciado
Com estes fenómenos insignificantes,
Lá vou ficando melhor preparado
Para este envelhecer de contornos irritantes.
.
Estoril, 10 de Junho de 2007

Francisco da Renda

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Counter II

Counter