quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

E esta, hein?????

Fernando Pessa foi o jornalista em actividade mais idoso do mundo.
Felizmente há gente assim capaz de nos encher a vida e nos dar lições quotidianas só por estar ali duas secretárias ao lado na redacção do Telejornal.
Felizmente, não fui o único beneficiário do seu saber, da sua visão aberta da vida, do seu espírito crítico onde só morava a vontade de corrigir o que lhe parecia errado.
Quando entrou para a RTP, já eu lá estava havia um ano mas, só mais tarde tive o privilégio de ele reparar em mim quando me convidou para fazer locução para um documentário de que ele era o produtor. Foi aí que dei conta do seu grande profissionalismo, da sua incessante busca pela perfeição, do seu saber fazer rádio. “Nunca nos devemos contentar com o que fazemos porque há sempre maneira de melhorar”, dizia-me ele quando me obrigava a repetir uma frase para poder escolher a melhor.
Era “bon vivant”, respirava o gosto pela vida, aproveitava cada momento ao máximo.
Já com a RTP na 5 de Outubro e mais confiança mútua, saíamos todos os dias para almoçar ele, eu e o Manuel Ricardo (Piti) e outros mais irregulares como o Jaime de Saint Maurice. Ele gostava muito de ir à Carvoaria, uma tasca dois quarteirões acima da RTP onde recebíamos tratamento VIP para o bacalhau cozido à portuguesa. O Pessa nessa altura andava pelos seus oitenta para noventa mas nós não dávamos conta disso. Adorava a boa mesa, de preferência cozinha portuguesa tradicional, acompanhada sempre de um bom vinho, coroada sempre de um “jiripiti” na forma de um bagacinho que nós, mais novos, criticávamos, “oh Pessa, essa coisa não é saudável”, ao que ele com aquele ar de menino apanhado em falta que tão bem sabia representar quando estava bem disposto respondia “isto ajuda a desmoer, pá, vocês são uns betinhos” até o termos conseguido convencer que o uísque fazia menos mal.
Na sua grandeza de Homem, Pessa ignorava, não dava importância á importância que o país lhe dava. Tinha um Rover branco que parqueava na garagem da 5 de Outubro, “estou a ficar farto dele, para velho já basto eu, queria vendê-lo, tu que és dos automóveis vê lá se me arranjas alguém que o queira comprar”. O tu era eu. Respondi-lhe com o ar mais solene que encontrei no momento, “não podes vender o teu carro, Fernando, o teu Rover é o Rover do Fernando Pessa, consegues perceber isso?”. Passaram-se dias, chega à minha secretária “éh pá, fiquei a pensar no que disseste sobre o meu carro, já não vendo, és capaz de ter razão”. Acabou por doar o carro ao Museu dos Automóveis em Paço d’Arcos.
Os famosos bilhetes enviados à Câmara Municipal de Lisboa, em forma de peças de televisão que terminavam com o seu não menos famoso “e esta, hein!!???” fizeram escola no jornalismo televisivo. Pessa, como jornalista, sabia juntar as suas duas facetas profissionais de radialista e de realizador de televisão. Os operadores de câmara que trabalhavam com ele sabiam que “o boneco” era ele que o fazia e não eles, contrariamente ao que acontecia com jornalistas mais jovens que Pessa, classificava de putos na desmama. “Éh pá, estes gajos de agora não percebem nada disto, não sabem falar, não sabem pêva de televisão, coitados, deviam voltar todos para a escola!!! Eu bem quero ensiná-los mas eles acham que já sabem tudo”.

1 comentário:

Anónimo disse...

“Éh pá, estes gajos de agora não percebem nada disto, não sabem falar, não sabem pêva de televisão, coitados, deviam voltar todos para a escola!!! Eu bem quero ensiná-los mas eles acham que já sabem tudo”.
Cada canal de televisão em Portugal devia pelo menos ter 10 Fernandos Pessas. É só "asneirada".
Cada vez pior. Os apresentadores é do pior que há. Os jornalistas é uma vergonha. Alguns nem para porteiros de prédios serviam.
Desculpe Helder. Ainda não percebi como é que alguns são Licenciados em Comunicação Social.
S.A.

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