quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

País do desperdício

Portugal não é um país rico, ok, todos sabemos, não temos petróleo, não temos diamantes, não temos Silicon Valey e nem sequer sabemos vender 500 anos de termos estado noutros continentes. Vendemos o sol (mal e porcamente) no Algarve, porque não temos que o fabricar. Tornámo-nos especialistas na intermediação, coisa que já vinha de trás, a contar com a comissão, somos os gajos do meio, da faixa do meio na estrada, das “entre aspas”, do “depois”, do “contacta 91.......”, do “está em reunião”, do “volto já”, do “fechado para almoço”, do “ou seja”, do “portanto”, do “se não se importa”. Em suma, somos os campeões do “agarrem-me senão parto o gajo todo”, dos autarcas arguidos reconduzidos nos seus lugares, do envelope 9, das condecorações a granel, do tapa-destapa das ruas, do nunca acabar de obras, do “desvio”, do “amanhã, então, depois, falamos”.
Felizmente há excepções, gente que rema teimosamente contra a maré do deixa andar e não perde tempo com as tricas do futebol, com os casos da Elsa Raposo ou com as previsões da Maya.
Somos uns tesos, mas temos um umbigo maior que o mundo e gasta-se à tripa forra.
O que resta da Fundação, enterrada com entulho

Aqui há uns 8/10 anos atrás, nasceu um projecto que tinha tudo para ser lindo. Em Chelas, mais do lado de Marvila (Lisboa), num terreno adjunto à Quinta dos Alfinetes, arrancava a construção de uma infra-estrutura espectacular, desenhada pelo nada mais nada menos famoso arquitecto brasileiro Óscar Niemeyer. Era a sede da Fundação Portugal/Brasil. Uma coisa de luxo, moderníssima como só podia ser, criada por quem sabe. Construía-se a Fundação e, em troca, recuperava-se a Quinta dos Alfinetes.

Quinta dos Alfinetes
Até que as obras pararam, deixando à vista uma estrutura de betão armado, colunas de ferro apontadas para o céu e um espaço abandonado às aventuras de crianças distraídas onde uma encontraria a morte. Dizem que as obras foram suspensas por falta de pagamento aos empreiteiros. E ali ficou o nado-morto durante anos à espera de resolução que não chegou. Falou-se de aproveitar a obra para uma piscina municipal. Não aconteceu.
Recentemente, camiões e “caterpillers” entraram no recinto, vedado, despejando entulho. Toneladas e toneladas de entulho, para dentro do que estava construído e no espaço circundante, enchendo inesteticamente toda a área, ao mesmo tempo que a Quinta dos Alfinetes se vai degradando merecendo a designação de ruínas irrecuperáveis.
Depois de se terem gastos milhares a iniciar a construção, depois de anos de abandono, alguém decidiu enterrar tudo como que para esconder a vergonha.
Resumindo: nem Fundação, nem piscina, nem espaço social, nada, somente um vergonhoso amontoado de terra e entulho.
hs

1 comentário:

asperezas disse...

Este caso em concreto, reflete a incapacidade política de resolver as situações que cria. E aqui, é mais complicado, porque é um problema que envolve cooperação e apoios de 2 países, que já mudaram n vezes de "responsáveis".
O resultado, são milhões em dívidas a uma porção de entidades, rescisão de contratos por falta de pagamento, construção interrompida, processos intermináveis congelados nos tribunais, a eterna e intolerável política do QSF.

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