sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Portugalzinho

Parto-me a rir com este Portugal que foi tentar vender as virtudes aos chineses a ver se pega e se eles, que são mais que as mães, começam a investir em negócios aqui porque, para já, o que temos deles são as lojas com tudo a preços da chuva, de má qualidade é certo mas que dão jeito a muito boa gente e, os restaurantes que, de norte a sul, têm todos o mesmo sabor.
Não está mal visto ir lá para vender, a China é uma potência económica gigantesca, o mercado chinês é apetecível tanto mais que cresce mais depressa que as broncas domésticas daqui do rectângulo.
Esta quinta-feira nos noticiários, tivemos direito a uma folga – não muito grande – da questão do referendo e do corrupio de sábios do SIM e do NÃO para nos entreterem com a bojarda do ministro da Economia ao argumentar as nossas mais-valias com base nos salários baixos para entusiasmar os chineses a instalarem as suas empresas em Portugal. Caiu o Carmo e Trindade, saltaram a terreiro as habituais carpideiras e até houve quem pedisse a imediata demissão do ministro. A coisa, aqui, não se faz por menos. Um governante, com o ar mais cândido do mundo diz uma verdade, coisa rara, agita sectores convencidos de invulnerabilidade como sindicatos e partidos, e tudo pára para comentar a boca.
Este jeito lusitano do bota abaixo por dá cá aquela palha já vem de longe, está-nos no sangue mostrarmo-nos muito ofendidos com aspectos comezinhos da vivência diária, perder tempo com minudências e deixar para trás o fundamental. É o costume.
No fundo, o senhor, para além de não ter dito nada de novo – todos sabemos que ganhamos menos que o resto dos europeus – não foi ensinar o padre nosso ao vigário – todos sabemos o que os chineses ganham lá na terra deles razão pela qual os artigos chineses são tão baratos. Se calhar, o que o governo devia vender aos chinocas era antes a ideia de as nossas empresas irem para a China a ver se facturam mais lá do que aqui (graças aos baixos salários), como fazem as grandes multinacionais: “think global, act local”. Quem sabe, os pastéis de Belém, as trouxas da Malveira, o Galo de Barcelos, os das Caldas não nos ficariam mais baratos “made in China”!
O que acho engraçado é ver os mesmos do costume enxofrarem-se com o politicamente incorrecto de um governante desbocado quando, no tempo em que eles foram governo, fizeram o mesmo, recordemos o “país está de tanga” e a fuga rapidinha para o bem bom de Bruxelas deixando-nos a bater válvulas à conta de governante improvisado mais dado às capas de revistas.
Receio que o balanço da governamental ida à China se fique pela falta de jeito diplomático do ministro, assim como a visita presidencial à India se fique pela incompatibilidade gastronómica do Presidente com os temperos locais.
Por mim, não me admiro nem me surpreendo. É assim que querem que seja este Portugal – pequenino, miudinho, invejoso, do faz de conta, agarrado ao supérfluo, ao passageiro, de cabeça enterrada na areia, campeão da perda de tempo.
hs

1 comentário:

kambuta disse...

Helder, absolutamente de acordo com o que escreveste. Um abraço.

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