quinta-feira, 12 de julho de 2007

O Gulag


Estou abismado e preocupado ao mesmo tempo com o que acabo de ler e transcrevo aqui em baixo.
Se “isto” for para a frente em relação à avaliação dos professores, só nos resta esperar novas e geniais ideias de avaliação em relação a outras profissões e, porque não, daí para a vida privada, a mulher fazer a avaliação do marido, o marido fazer a avaliação da mulher, os filhos avaliarem os pais e um grupo de avaliadores decidir estes pais não estão a funcionar como deve ser, têm de ser ou reciclados ou demitidos e despromovidos.
Torna-se tenebrosa esta tendência do poder português (não é de agora nem deste governo, já vem de outros anteriores) de colocar controladores de controladores de controladores, numa saudade mal disfarçada da pide do Salazar/Marcelo Caetano. Leiam bem o texto abaixo e, sem me fazerem qualquer favor, digam-me o que pensam.
Mas... desde quando, alunos que passam o tempo das aulas a mandarem msn’s pelo telemóvel, ou a ouvirem ipod’s, chantageiam os professores com promessas de queixas ao conselho director, desde quando, pais e encarregados de educação burgessos convencidos de possuírem uma autoridade que não ganharam de mérito próprio, vão agora poder decidir da competência ou não competência de professores? Mais grave, vão poder decidir do futuro, da carreira de professores por meio de avaliações onde, imagine-se, o próprio docente terá de elaborar a sua própria ficha de auto-avaliação?
Eu, que sou do tempo em que professor era professor e aluno era aluno (acho que as grandes cabeças deste país, da minha geração, não carregam traumas por isso), faz-me confusão que se tenha chegado a este ponto onde não se sabe se vivemos em regime democrático ou se em regime autoritário sob a ideia de que toda a gente controla toda a gente. Se a autoridade do Estado é por aí que se manifesta, onde está a democracia?
Comités de avaliação, é isso que querem montar nesta porra de país? Desculpem-me o desabafo mas começo a ficar preocupado. Já não bastava o elogio da queixinha, o sorriso bonacheirão face à denúncia idiota, a promoção do yes minister, agora, comités de avaliadores.
Já viram a pressão que se vai exercer sobre os professores? E o gasto de tempo que poderia ser ocupado a, simplesmente, ensinar?
Leiam, então, o naco de prosa abaixo:

As notas dos alunos de cada docente e a sua comparação com os resultados médios dos estudantes da mesma escola constituem um dos factores determinantes da avaliação de desempenho dos professores, segundo uma proposta do Ministério da Educação (ME), avança a agência Lusa.
De acordo com o documento, que regulamenta o Estatuto da Carreira Docente (ECD) nesta matéria, o processo de avaliação ocorre de dois em dois anos e abrange todos os professores, incluindo os que estão em período probatório, sendo decisivo para a progressão na carreira.
Cada docente terá de elaborar uma ficha de auto-avaliação, especificando as notas que atribuiu aos seus alunos em cada um dos anos lectivos em análise, a diferença para os resultados que os mesmos obtiveram em exames nacionais ou provas de aferição e a comparação com a média de classificações dos estudantes do mesmo ano de escolaridade e disciplina, na sua escola.
A ficha de auto-avaliação é um dos elementos do processo, a que se junta a avaliação efectuada pelos superiores hierárquicos, nomeadamente o conselho executivo e o coordenador do departamento ou do conselho de docentes. A relação pedagógica com os alunos é outro dos factores, que será aferido pela observação de, pelo menos, três aulas dadas pelo professor avaliado, por ano escolar.
O nível de assiduidade, a participação em projectos e actividades, a frequência de acções de formação contínua e o exercício de cargos de coordenação e supervisão pedagógica são outros dos elementos da avaliação de desempenho.
Já a apreciação dos pais e encarregados de educação só poderá ser tida em conta pelos avaliadores mediante a concordância do professor, sendo promovida de acordo com o que estipular o regulamento interno das escolas.
A escala de classificações compreende cinco níveis: Insuficiente (1 a 4,9 valores), Regular (5 a 6,9), Bom (7 a 7,9), Muito Bom (8 a 8,9) e Excelente (9 a 10 valores). Para obter uma classificação igual ou superior a Bom o professor terá de cumprir, pelo menos, 95 por cento das actividades lectivas previstas, não podendo mesmo falhar nenhuma para alcançar o nível de Excelente.
No entanto, haverá uma percentagem máxima para a atribuição das classificações de Muito Bom e Excelente, que será fixada em cada agrupamento de escolas por despacho conjunto dos ministros da Educação e das Finanças, tendo por referência a avaliação externa de cada estabelecimento de ensino.

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