terça-feira, 17 de julho de 2007

Primeiro estranha-se

Andamos nós por aí deambulando cogitações e o mundo passando ao nosso lado sem darmos por isso ou darmos muito tarde.
Não sei se é privilégio de seres superiores estar a par de tudo o que o mundo vai dando, este mundo cada vez mais aberto e mais tocável, mais imediato. Se calhar, o não darmos por isso reflecte, sejamos benevolentes, inocente distracção ou até simplesmente um breve adormecimento. Pior seria se a causa fosse soberano desinteresse. Postas as coisas assim, sinto-me mais afável para comigo mesmo, quase inclinado ao auto-perdão, não fosse a enorme influência do meu signo que me obriga a ser autocrítico e exigir sempre mais. Verdade, verdadinha, gosto mesmo de saber, de estar actualizado, de alimentar esta curiosidade que pode tanto ter sinal positivo como negativo, aborrece-me ver-me ultrapassado por mim próprio e perder o momento do encanto só recuperável a grandes custos. Por isso me interrogo onde estava eu, em que mundo andava para nunca ter ouvido falar de Paul Potts e, mais grave, de nunca o ter ouvido cantar.

Felizmente que há email e amigos capazes de adivinharem os nossos estados de suspensão da alma e nos activarem os sentidos com um simples conselho: vai ao Youtube chama Paul Potts e depois fala comigo. Ele podia ter-me enviado o link, sempre me fazia entrar directo no assunto que eu desconhecia de todo mas preferiu aguçar a minha curiosidade. Numa primeira leitura do nome, devo confessar ter sentido um tremor na coluna, é que Paul Potts soa igual a Pol Pot, o ditador maoista autor do genocídio no Camboja em nome da pureza do pensamento comunista nos anos 75 a 79, cujo nome – e façanhas sangrentas dos khmer rouges - me fartei de enunciar nos meus tempos do TJ da RTP.
Sosseguei ao concluir que o meu amigo não tem estatuto para se enganar de forma tão boçal donde, avancei de peito aberto para o youtube, Paul Potts e deparo com um homem gorducho, falta de um dente à frente mas dono de uma voz de tenor espantosa a interpretar Nessuno Dorma da Turandot de Puccini.
À medida que o ouvia e me deixava levar pela emoção, interrogava-me como é que um obscuro vendedor de telemóveis se atravessava à frente da minha ignorância e me fazia levitar enfeitiçado pela sua voz, sem aviso prévio. Afinal, Potts já cantava ópera antes nos anos noventa, em exibições amadoras, não tinha aparecido assim de geração espontânea num concurso de televisão no mês passado, a dar-me Pucini com todas as notas e tempos. A vitória, para além de lhe ter proporcionado um alívio financeiro de 100 mil libras e de ir actuar perante a rainha da Inglaterra, abriu-lhe as portas da fama e do proveito. Bem merece Paul Potts tudo o que lhe está a acontecer agora de bom porque, até ao concurso, ele e a mulher passaram miséria para poderem pagar as aulas de canto em Itália, onde teve a honra de ser ouvido pelo grande Pavarotti.
Fiquei rendido a Paul Potts, mas eu não percebo nada de ópera, por isso recomendo lerem uma crítica (em inglês) assinada por SJ Reidhead no blog BLOGCRITICS MAGAZINE em
http://blogcritics.org/ , botão Music. E deliciem-se com os duetos virtuais com Pavaroti, Andrea Bocelli e Sarah Brightman. apresentados no youtube e digam-me se não vale a pena limpar a cabeça de cogitações e deambular pelos terrenos da descoberta?
hs

1 comentário:

asperezas disse...

Do clip do Potts no "TuTubo", recebi várias msns por e-mail.
Confesso q não passei a ninguém, pq me repugna o espectáculo de histeria dos espectadores e até dos membros do juri, antes com descaradas expressões d escárnio.
Concluí q afinal, lá fora o espectáculo televisivo "quotidiano" é tão baixo d valores como aqui...

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