segunda-feira, 25 de junho de 2007

TV, o fascínio do directo

A televisão mudou muito nestes últimos anos e não vou cair na incontida tentação de dizer que mudou para pior em comparação com o meu tempo. Venho da geração da televisão a preto e branco, das reportagens em filme de 16mm em cameras Arriflex e som de fita klang que montadoras excepcionais da RTP (oriundas do cinema) sincronizavam à primeira com a claquette.
Hoje a televisão em Portugal vive muito e exageradamente do luxo do directo em concorrência directa com a rádio e com a vantagem de mostrar a imagem. Só que, neste frenesi da actualidade, de estar “em cima do acontecimento”, de abafar a concorrência, praticam-se exageros que de tão repetidos já ninguém dá conta deles, senão, como se explica a razão de colocar um/uma jornalista no meio de uma rua vazia e escura em frente à porta de um qualquer organismo para “informar” coisas que já foram divulgadas há umas horas quer pela rádio quer pelo próprio canal????
Os directos hoje em dia são muito fáceis e, talvez por isso, a maior parte deles são feitos por jornalistas de segunda linha com resumida preparação técnica raramente são apresentados por jornalistas séniores, obedecendo a uma certa forma de hierarquização da notícia.
Quando deslocar um carro de exteriores para um local representava um feito cuja preparação começava horas antes e uma das preocupações era saber-se onde estaria a antena retransmissora mais em linha com o edifício da RTP ou com as antenas de Monsanto, fazer um directo tinha mesmo que ser de assunto importante, tirando o futebol, é bom de se ver.
Então, os jornalistas, faziam aquilo a que chamávamos “falsos directos” e que ainda hoje se utilizam por questões práticas. O falso directo era fingir que estávamos em directo a comentar um determinado acontecimento (normalmente quando estávamos no estrangeiro), respondendo a uma deixa do apresentador no estúdio em Lisboa (ou no Porto) para se arrancar a gravação do....directo. Ainda que, por essa via, se perdesse a espontaneidade, ganhava-se sempre em qualidade da informação, apesar de não termos na RTP, naqueles tempos, um teleponto portátil de reportagem, até porque nem sabíamos o que era ter-se computador portátil.
Tornou-se tão fácil fazer televisão em directo que se caiu na ausência de um critério. Por isso não é de admirar que os senhores da política escolham sempre as 20 horas para fazerem os seus comentários, aproveitando o directo das televisões, a maior parte das vezes com conteúdos que, em boa análise editorial, não mereceriam mais do que uns 40 segundos de off a resumir tudo.
O directo, quando usado abusivamente por quem não tem preparação para tal, não implica, realmente, qualidade informativa.
hs

3 comentários:

Pitigrili disse...

Há uns vinte anos, os desgraçados que tinham que fazer esses directos à noite, tendo comocenário... portas fechadas, eram muito apropriadamente conhecidos como "porteiros da noite".
Ainda eram usados no teu tempo quando apresentavas o "24 horas"

Anónimo disse...

Boa tarde, desculpe a intromissão mas não resisti ao seu texto. Tenho 22 anos e acabei de sair de um estágio de 4 meses na RTP. (Ainda à procura de emprego!) Por acaso nunca vi nenhum teleponto portátil :) sem dúvida que hoje em dia tentam meter o maior número de directos possível no jornal, ao ponto de poderem dar se ao luxo de enviar equipa e carro satélite para um local e chegar ao fim e não fazer directo porque surgiu outro melhor...

tive de gravar uns quantos falsos directos, para avaliação e a ajuda que tive foi a do papelinho na mão, mas só para dar uma espreitadela :)

Bons post's!

Helder de Sousa disse...

Catarina,
bem-vinda e obrigado pelo seu post. Deduzo que o estágio que fez na "minha" RTP foi de informação.Permita-me dar-lhe duas dicas para os tais "falsos directos" que eu usei à falta de melhores meios técnicos: um era fixar o papel do texto (em letras legíveis) sob a objectiva da camara. Material usado: papel A4 e fita-cola.
O outro "truque" para fingir "improvisos" e intervenções "em directo" era gravar o texto num gravador portátil e, na hora de enfrentar a camara, enfiar o auricular do gravador na orelha, e debitar o "vivo" de acordo com a gravação audio. O plano tinha que ser meio de lado para esconder o auricular mas, hoje em dia já ninguém repara nisso.
Apareça sempre.
Um abraço
helder

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