sexta-feira, 8 de junho de 2007

EM 2035

Helder, hoje deu-me para pensar no futuro. Cá vão os versos:

EM 2035

Todas as noites se perdem neurónios,
A memória esgueira-se e já não poisa
No esquecimento dos semblantes dos Antónios,
Joaquins, Josés ou de qualquer outra coisa.

No ano de 2035, o nome de Angola
Dir-nos-á o quê? Carianinga ô chimboto
Que significará? A cor negra da tola
Africana ainda existirá? Predominará o desgosto
Do enfraquecimento das raças puras? A sola
Do sapato será de couro ou o gosto
Pelo silicone dominará a indústria
Que esmagará os sentimentos sem angústia?

A amizade terá a mesma roupagem
Ou será fria, despida e sem calor?
Será combinado e pago o amor
Elaborando-se uma lista com prévia triagem?

Os Dembos da terra vermelha e exuberante
Cobrir-se-á de areia vinda do deserto distante;
Os dias serão negros, as noites vazias
E os lagartos digerirão as incómodas azias;
Os humanos, inertes e sem memória
Assistirão, impávidos, ao fluir da história;
Não haverá lugar para o imprevisto, tudo
Será estereotipado e o rouxinol cantará mudo;

Um apelo: espalhem as minhas cinzas
Onde houver uma pontinha esquecida
De Amor pois poderá ser revertida
A inexorável morte das frondosas muanzas!

Estoril, 8 de Junho de 20o7

kambuta

1 comentário:

Helder de Sousa disse...

Obrigado Francisco, pelo poema perturbador por nos fazer pensar.
hs

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