domingo, 6 de abril de 2008

Quanto dói?


Há dores que não deviam existir, nenhuma dor, aliás, devia existir, mas infelizmente é assim que a coisa funciona e a dor, não aquela do dói-dói no cotovelo, a outra que não se sente na pele e, contudo, está fortemente impregnada por baixo dela e puxa algo de indefinido no peito e cansa algures na cabeça, essa dor presente desde o levantar até ao levantar seguinte, numa sucessão premente, pressionante, esmagadora.
Uma dor residente desde o primeiro minuto, que vai crescendo e refinando e fica pairando no espírito como que a tomar conta para que ela não saia, para que fique e se prolongue como se, assim sendo, tomasse por fenomenal transmissão a dor alheia, retirando-lhe força na vã esperança de que o sofrimento alheio se torne mais suportável. Duvido que haja dor realmente suportável mas, se calhar, há uma hierarquia da dor que desconheço. E, aí, fico com a eterna questão a respeito do grau - é dor de grau quantos aquela que me assola agora? E a dor de quem retiro esta minha dor, é de que grau?
Quanto dói perder um filho em acidente brutal, na mesma altura em que se vai acentuar a recordação de um ano de perda da mulher companheira de uma vida?

1 comentário:

Helder de Sousa disse...

Devo esclarecer que não sou eu o protagonista da grande dor que é perder um filho quando passa um ano sobre a morte da mulher...
trata-se de um grande amigo meu, que muito prezo.
helder

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