sábado, 19 de abril de 2008

O real e a fantasia


Como sempre, vou ao Café da Teresa buscar as vianinhas do costume. Quatro chegam para alimentar o pequeno almoço. Lá para o fim da tarde, passa a carrinha do Carlos, enchendo a rua de prolongadas buzinadelas, tipo sirene de ambulância mas sem doentes lá dentro. É a carrinha do pão - dos vários tipos de pão, menos carcaças - que pára à porta para te alimentar o jantar se as vianinhas da manhã tiverem acabado. Assim se vai vivendo na aldeia do século 21.
De manhã, no Café da Teresa, há mais mulheres do que homens, o que não deixa de ser peculiar. Todas vão lá tomar o pequeno-almoço. Galões, torradas, bolos, croissants, num festival de açucar escondido nos travesseiros, bolas de Berlim, pãezinhos de Deus e sei lá que mais delícias da pastelaria portuguesa. Não admira que as mulheres da manhã no Café da Teresa sejam roliças, obesas até. Entre conversas de mesa para mesa - elas conhecem-se umas à outras - irmanadas numa comunidade assente no café da manhã, as mulheres da minha aldeia, aquelas que não tomam o pequeno almoço em casa, discutem coisas impportantes da nossa sociedade. A nova namorada do Cristiano Ronaldo tem sido tema recorrente. Et pour cause. As revistas espalhadas pelas mesas são incitações subliminares à discussão do tema.
Nunca as ouvi falar do Governo, do Presidente da República nem mesmo do Presidente da Junta de Freguesia. Não devem fazer parte das suas preocupações. Nem falam da chuva e do bom tempo o que não deixa de ser notório numa região que vive à base da agricultura. Isso é conversa de homens.
Tomo o meu café, mentalmente calculo o custo das 4 vianinhas - 15 cêntimos cada uma dá 60 cêntimos pelas quatro - mais 50 cêntimos pela bica, ao todo 1.10.
Com ar compungido a moça dá-me a triste notícia. O pão aumentou, agora são 18 cêntimos cada.
Ah aumentou? Então levo três.
Café 50 cêntimos mais 3 X 18=54. Total a pagar 1.04.
Ainda dizem que vida está cara. Poupei 06 cêntimos.
Das mesas femininas chegam-me sons dispersos onde consigo distinguir algo como "mas ela não estava grávida"?
Acho que nunca saberei de quem estavam a falar.
Mas devia ser o assunto mais importante do dia.

1 comentário:

marita faini adonnino disse...

leo tus impresiones experimentadas mientras tomas el café de Teresa.Todo te parece trivial.La charla de esas mujeres que concurren sólo a reunirse sin propósito fijo,solamente a charlar. ¿Hay guerra? -no sabemos. Qué dijo el presidente? -Ni idea..
-Tal vez mañana cambie mi color de pelo. -¿te gusta el color de mi labial?-Creo que ella está embarazada.
Y es así,Helder. En esa sencillez y en esa paz de aldea,donde tal vez un único campanario anuncie las horas, estas buenas señoras han encontrado el elixir de vivir.
Vivir, dejar fluir la vida como arroyuelo, sin especular, sin leer a Sartre ,ni combatir a Russell.
Ellas viven, toman su café y comen su croissant experimentando el placer del paladar.
Quién no nos dice que ellas han encontrado la llave de la felicidad

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