sábado, 16 de fevereiro de 2008

Inutilidades




Cumpri o prometido a mim mesmo - não fiz nada de útil. Talvez ter ido com a minha neta dar um contributo para a reciclagem - cartões aqui, vidros ali, plásticos ao lado - seja motivo de contestação ao desígnio matinal deste sábado. Homem de palavra que sou, penso não ter atropelado a minha própria honra por ter ido reciclar o lixo que produzimos lá em casa e isso ser rotulado de útil. Vou admitir que sim para ficar na linha do políticamente correcto que, na realidade, já não significa coisa nenhuma por estas lusitanas fronteiras.




Há déficit de seriedade, de honestidade intelectual, de sentido de decoro. Os políticos - que são esses sim figuras públicas - deste quintal à beira-mar plantado, mostram a todo o momento o seu descaramento, o seu sentido de impunidade, a apetência para o oportunismo saloio e, acima de tudo, o seu imperial desrespeito pelos cidadãos. Mais. Desrespeito pela inteligência dos cidadãos.
Por muito que se critique, se ataque, se "diga mal" da situação fica sempre algo de incompleto - falta o sentido da constestação, a revolta dos espíritos, a revolução da mente. Em 34 anos de alguma liberdade, não aprendemos muito sobre a liberdade no que ela significa de respeito pelo próximo. Os políticos perderam o coração em troca da cara trocista. Estão por cima e acima. De tanto quererem mostrar o lado escondido da lua acreditam piamente nos borbotos sonoros que lhes saiem das bocas sedentas de televisão e já não se dão conta do ridículo. O povo, esse, boceja, assobia para o lado e vai para o café ver o futebol. Chegou-se ao vazio intelectual, ao zero da vontade de cidadania.
Esvaziaram a capacidade de raciocínio, amputaram a vontade de revolta.

Entrou-se numa máquina do tempo que anda para trás mas que, parece, não incomoda ninguém.

Há crise profunda de crença, de opinião. Nem mesmo os comentadores encartados, que, em míngua de ideias novas passam o tempo a citarem-se uns aos outros, são já capazes de provocar qualquer espécie de seguimento das suas opiniões.
Anda-se a falar demais e a dizer nada.
Já não é só o lixo lá de casa que precisa de ser reciclado.











Sem comentários:

Counter II

Counter