quarta-feira, 13 de outubro de 2010

VIVER A PRAZO


A Sol está condenada pela medicina, foi-lhe detectada uma metástase no pulmão direito. A médica deu-lhe dois meses de vida.

A Sol é uma gata persa que foi oferecida em bebé à minha filha mais velha, a Patrícia. Por razões diversas, sobretudo devido à profissão de Assistente de bordo (vulgo Hospedeira do ar) da Patrícia, acabou por ficar em minha casa. Cada vez que a Patrícia a trazia para casa quando ia voar, a bichinha chegava sempre em stress. Achou-se melhor estabelecer-lhe residência fixa.

Quando tive a síncope que me ia levando para o outro lado, depois da operação, em recuperação em casa, a Sol foi a minha companhia permanente nas 24 horas dos dias. Nunca saiu da minha cama, sentada ou deitada aos pés, mas sempre virada para mim. Tomou conta de mim de dia e de noite. Nunca esquecerei esta devoção “maternal”, afectiva, desta gata.

A Sol é um animal com uma personalidade forte, do alto dos seus 12 anos de idade, mas, ao mesmo tempo, muito afectuosa, muito carinhosa. Costumo dizer que é “pessoa” em forma de gata. Tem uma expressão de olhar que “derrete” o coração mais empedernido. Impõe-se quando acha que deve, tanto em face ao seu companheiro Lua um pouco mais jovem, como em relação à cadelita Twiggy, uma caniche que nos acompanha há 16 anos.

Quando se ama alguém, mesmo sendo um animal de estimação, não se aceita uma sentença de morte ditada pela ciência, ou, pela incapacidade da ciência. Quando muito, com alguma sorte, ela poderá ainda durar uns seis meses mas, já com sofrimento. Terá de avançar para a quimioterapia. Não estou a ver a “minha” Sol a ter de fazer quimioterapia todos os 15 dias. Ela que é tão assertiva, tão decidida, tão autoritária!. Cair no torpor do tratamento, deixar de executar as suas atitudes de “mandona” em relação aos outros animais e até a mim, não estou a ver a Sol a aceitar isso.

A notícia ainda está fresca e ainda estou em “choque”, a médica há-de dar os conselhos que achar mais convenientes para o bem-estar da Sol.

Sei que a Natureza vai seguir o seu caminho inexorável e que eu vou ficar sem a companhia da Sol dentro de um prazo relativamente curto. É estranho tudo isto. Todos sabemos que a morte é o que há de mais exacto na vida. Todos sabemos que ela vai chegar a todos nós. Temos sempre a esperança de um adiamento, de um prolongamento.

“Ahhh!!! A Morte não me vai fazer isso agora, já”. Custa é quando é dado um prazo. Dois meses, seis meses. Um prazo. O fim da linha. O términus da viagem. O muro que não se vence. Numa morte anunciada, não é só a vítima que sofre mas também quem a rodeia. Todos passam a viver a prazo.

2 comentários:

marita faini adonnino disse...

En diversos paisajes, sin señales de nuestra vida , ha existido "algo" apegado a nosotros y nosotros a ellos.:mascotas, un juguete, un árbol, un rosal, el compañero de cada mañana camino al colegio, que sabíamos que se irían ganando las estrellas del tiempo dejándonos bajo una leve llovizna de tristeza.
lo siento mucho, Helder. Conocí a Sol hace casi diez años, cuando la internet nos cruzó una noche a vos y a mí.y Sol era un felino mimosa y tirana.
Pronto dejará su condición de gato para pasar a ser un espíritu.
(Créelo, los animales tienen alma, que el hombre, el más torpe de todos los que pueblan la Tierra, ha tardado infinitos años en descubrir. Recién, hoy, algunos comienzan a vislumbrarlo.) Y comenzará a caminar por otros cielos y, allí estarán nuestras mascotas cuando entremos a la eternidad, esperándonos.
Allí estará también mi perrita, que aún la lloro.
No pienses que pronto se cerrará tu ciclo. Hoy el hombre está tocando los umbrales de los cien. Es cuestión de imponérselo con alma y mente y las fuerzas del universo comenzarán a trabajar para ello, desde el momento en que tu mente de la orden.
maría E. faini adonnino.

Higorca Gómez Carrasco disse...

Llorar nuestras mascotas, aquellos animales que supieron darnos todo su cariño a cambio ¿de qué? De nada, nunca pidieron nada, porque son nobles, a veces pienso que las personas deberíamos aprender de ellos, no tienen envidia, no tienen maldad, son sencillos, amorosos, siempre junto a los amos, sus amigos, yo he tenido siempre mi mascota, he llorado cuando se han tenido que ir, ahora todavía me quedan dos, luego, cuando estos me dejen no quiero volver a llorar nunca más por otros, estos son algo importante en nuestras vidas.
Amar a los animales es amarnos a nosotros mismos. Mi frase favorita y mía ¿Os gusta?
Besos

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