domingo, 9 de março de 2008

O que aconteceu?


Era um dia daqueles em que apetece fazer uma reconciliação com o que nos aborrece e uma aliança com o que nos agrada. Passava um sol tranquilo, a terra cheirava a fresco, o vento tinha retirado seus sopros dali e nem o ruído da estrada perto podia perturbar a quietude do lugar.
Mas aquele pequeno lago de dar água a beber aos animais parecia fazer parte de outra paisagem individualizada pela presença daquela vaca. Era como serigrafia de artista conceituado que, para torná-la pessoal e única, introduziu um elemento distintivo - a vaca.
A chamada à contemplação derivada do ambiente até ali experimentado derrubava-se brutalmente sobre a paz de espírito. O animal, meio enterrado na lama, somente movia a cabeça e essa, mesmo assim, muito devagar, como que em slow motion.
Estaria aquele ser simplesmente a usufruir de um pequeno luxo ou, pelo contrário, estaria em sofrimento e sem ninguém para o acudir? A tempo?
Nunca saberei. Inquietei-me ao ter sido trespassado por tal pensamento mas logo entrou em funcionamento o mecanismo de auto-defesa com um olhar automático para o relógio e a decisão precipitada de continuar caminho pela estrada fora.
Não tinha capacidade de intervenção, é verdade, existia uma vedação. Acho que fabriquei rapidamente vários alibis para virar as costas àquele lugar subitamente maldito.
Mas não me libertarei dele enquanto tiver esta foto no meu arquivo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito deste texto, mas acredite que fiquei também com uma vaga inquietação. O que se estaria a passar com aquele animal?Talvez ele estivesse calmamente a descansar, sem perigo algum...

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