segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Abandono

Às vezes vale mais só do que mal acompanhado, diz o povo, talvez até tenha razão em alguns casos mas por mim, não vejo que a solidão seja boa companheira coisa que não faz sentido pois, se estás só é porque não tens companhia.

Sentida e consentida a solidão dói mais que dor no coração porque dura mais ao contrário da outra que se resolve depressa. Solidão é o que se vai vendo cada vez mais e não só nos que estão sozinhos em casa ou num vão de escada. Acredito ser tão terrível a solidão interior por falta de objectivos, de propósitos de quem tem o básico - casa, comida, família, saúde - do que a sofrida pelos que se deitam numa cama onde a almofada do lado deixou de ser precisa.

É fácil viver só quando se é jovem e forte e com amigos, é difícil e desumano viver só quando se precisa de alguém para nos ajudar a cumprir a rotina do quotidiana e se contam as horas em função dos programas da televisão e se evita ir até ao fundo do corredor para não cruzar a porta de um ente querido ausente.

A solidão acaba por se tornar um castigo, uma autoflagelação, um abandono de si próprio.



hs






foto: carro abandonado na Praia da Areia Branca, junto ao Parque de Campismo.

3 comentários:

kambuta disse...

Helder, este texto arrepia, por ser tão verdadeiro. Bolas! digo eu para não escrever o que apetece. Um abraço.

Anónimo disse...

Sinto ao ler este texto, a realidade daquilo que estou a viver,mas não seria capaz de exprimir desta maneira. Trinta e sete anos, ao lado de alguém, cujo coração, de repente parou. E fica uma dolorosa saudade e uma terrível solidão, tão bem descrita por si.

Helder de Sousa disse...

anónimo
obrigado
a perda de um ente querido deixa um vazio para o restodasnossas vidas

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