sábado, 30 de dezembro de 2006

O Manta amarelo


Muitos se recordam ainda deste Opel Manta com que eu corri em Angola. Era amarelo, elegante e muito barulhento. Não "andava" muito mas travava muito bem o que me permitia protagonizar algumas boas exibições, embora ele nunca me tivesse conseguido levar ao pódio da vitória.
Mas, então, porque é que ele ficou assim tão marcado na memória de tantas pessoas que assistiram às corridas nos anos 70 em Angola e que ainda hoje me falam dele?
Talvez por ser bonito, talvez por ser barulhento, talvez por, graças ao seu poder de travagem, me deixar acelerar uns metros mais antes das curvas, quando outros já estavam a travar!!!!
O carro fora comprado pela Motorang (a empresa que representava a marca) em segunda mão na Alemanha, para promover a marca. Era um carro de ralis mas nunca fez nenhum pelas picadas angolanas. Só o asfalto foi o terreno dele nas pistas de Angola e, foi aí que ele fez frente a BMW's, Alfas e outras grandes vedetas das pistas.
Exigente como um príncipe das passerelles asfaltadas, o Manta amarelo da Motorang tinha os seus caprichos de prima dona e não admitia maus tratos. Ele e eu como que tinhamos um acordo secreto: se não me tratares mal, eu ajudo-te. E foi assim durante duas épocas.
Teve a sua hora de glória nas "6 horas de Nova Lisboa" em 1973. Chegou em 5º no final da prova e foi o primeiro turismo logo a seguir às bombas vindas da Inglaterra. Não rejeitou a presença do Henrique Cardão ao seu volante, junto comigo, na base do "amigo de meu amigo, meu amigo é".
Um jornalista italiano, Giorgio Schön, comentava no final da corrida: esta prova é muito interessante, voltarei sempre, nem que seja para ver aquele Manta a descer a recta da Granja.
Que melhor homenagem podia ser feita ao Manta amarelo da Motorang?

1 comentário:

Artur Ermida disse...

Caro Helder,
O 'Manta' Amarelo....
Era eu ainda um rapazote,com aspirações a reles piloto,e vibrando com aquelas máquinas infernais que passavam em despique,não deixava de reparar naquele 'Manta Amarelo'...
Passavam os Alfas T33,os BMW 2002 Ti Schnitzer,os Capris,os Lotus XXIII, os Lolas, os GT40, mas...lá bem no meio,estava o Manta Amarelo...
E, garoto atento, ouvindo os comentários dos mais velhos, lá ia percebendo que o piloto se chamava Helder de Sousa...
Não te conhecia como jornalista, mas sabia-te piloto.
E, na minha geração, e das que me sucedem, podem não ter conhecido o jornalista, mas garantidamente, sabem que tu eras o piloto do Manta Amarelo.
Como dizes, não pelos pódios que tenhas conseguido,mas pela beleza do carro e acima de tudo, por andares ali no meio de outras belezas, que ao tempo se sentiriam por certo minimizadas pela presença do Manta Amarelo....
Aquele carro, verdadeira Marilyn Monroe dos automóveis, tinha também ao seu comando umas mãos de mestre.
E como 'mestre', meu caro...tens sido do melhor,para mim e todos quanto te acompanham de perto, dentro e fora das pistas.
Para mim, já não és mais o piloto do Manta Amarelo, mas o meu mui querido amigo Helder de Sousa,que tempos idos me alegrou com aquele automóvel, e agora me enche de alegria, por meu amigo ser e me ensinar sempre tudo o que de melhor aprendeu.
Aos Mantas Amarelos das nossas vidas!
Um abraço
Artur

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