sábado, 30 de dezembro de 2006

Em português nos desentendemos...às vezes

Circula por aí um mail de um jornalista (não sei se é) brasileiro, de Porto Alegre, Políbio Braga, que publicou, não num jornal, um comentário assaz subjectivo sobre Portugal.
O texto, a ser verdadeiro, do tal de Políbio é pobre, enferma de falta de objectividade e coloca o seu autor numa posição ridícula quando afirma que já visitou Portugal por 5 vezes.
Valor tem a resposta do embaixador português em Brasília a qual, a ser fidedigna, não sei onde foi publicada. Admitindo que tudo isto aconteceu, fica a valer a atitude do diplomata.

Reproduzo abaixo o que me chegou:

"Portugal não merece ser visitado e os portugueses não merecem nosso reconhecimento.
Há apenas numa semana, em apenas quatro anos, o editor desta página visitou pela quinta vez Lisboa, arrependendo-se pela quarta vez de ter feito isto. Portugal não merece ser visitada e os portugueses não merecem nosso reconhecimento. É como visitar a casa de um parente malquisto, invejoso e mal educado. Na sexta e no sábado, dias 24 e 25, Portugal submergiu diante de um dilúvio e mais uma vez mostrou suas mazelas. O País real ficou diante de todos. Portugal é bonito por fora e podre por dentro. O dinheiro que a União Européia alcançou generosamente para que os portugueses saíssem do buraco e alcançassem seus sócios, foi desperdiçado em obras desnecessárias ou suntuosas.Hoje, existe obra demais e dinheiro de menos. O pior de tudo é que foi essa gente que descobriu e colonizou o Brasil. É impossível saber se o pior para os brasileiros foi a herança maldita portuguesa ou a herança maldita católica. Talvez as duas .


Esta Nota mereceu a seguinte resposta do nosso Embaixador:
Brasília, 8 de Dezembro de 2006
Senhor Políbio Braga

Um cidadão brasileiro, que faz o favor de ser meu amigo, teve a gentileza de me dar a conhecer uma nota que publicou no seu site, na qual comentava aspectos relativos à sua mais recente visita a Portugal. Trata-se de um texto muito interessante, pelo facto de nele ter a apreciável franqueza de afirmar, com todas as letras, o que pensa de Portugal e dos portugueses. O modo elegante como o faz confere-lhe, aliás, uma singular dignidade literária e até estilística. Mas porque se limita apenas a uma abordagem em linhas muito breves, embora densas e ricas de pensamento, tenho que confessar-lhe que o seu texto fica-nos a saber a pouco. Seria muito curioso se pudesse vir a aprofundar, com maior detalhe, essa sua aberta acrimónia selectiva contra nós.
Por isso lhe pergunto: não tem intenção de nos brindar com um artigo mais longo, do género de ensaio didáctico, onde possa dar-se aocuidado de explanar, com minúcia e profundidade, sobre o que entende ser a listagem de todas as nossas perfídias históricas, das nossas invejazinhas enraizadas, dos inumeráveis defeitos que a sua considerável experiência com a triste realidade lusa lhe deu oportunidade de decantar? Seria um texto onde, por exemplo, poderia deter-se numa temática que, como sabe, é comum a uma conhecida escola de pensamento, que julgo também partilhar: a de que nos caberá pela imensidão dos tempos, a inapelável culpa histórica no que toca aos resquícios de corrupção, aos vícios de compadrio e nepotismo (veja-se, desde logo, a última parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha), que aqui foram instilados, qual vírus crónico, para o qual, nem os cerca de dois séculos, que se sucederam ao regresso da maléfica Corte à fonte geográfica de todos os males, conseguiram ainda erradicar por completo. Permita-me, contudo, uma perplexidade: porquê essa sua insistência e obcecação em visitar um país que tanto lhe desagrada? Pela quinta vez, num espaço de quatro anos ? Terá que reconhecer que parece haver algo de inexoravelmente masoquista nessa sua insistente peregrinação pela terra de um "parente malquisto, invejoso e mal educado". Ainda pensei que pudesse ser a Fé em Nossa Senhora de Fátima o motivo sentimental dessa rotina, como sabe comum a muitos cidadãos brasileiros, mas o final do seu texto, ao referir-se à "herança maldita católica", afasta tal hipótese e remete-o para outras eventuais devoções alternativas. Gostava que soubesse que reconheço e aceito, em absoluto, o seu pleníssimo direito de pensar tão mal de nós, de rejeitar a "herança maldita portuguesa" (na qual, por acaso, se inscreve a Língua que utiliza). Com isso, pode crer, ajuda muito um país, que aliás concede ser "bonito por fora" (valha-nos isso !), a ter a oportunidade de olhar severamente para dentro de si próprio, através da arguta perspectiva crítica de um visitante crónico, quiçá relutante. "
Por isso lhe pergunto: não tem intenção de nos brindar com um artigo mais longo, do género de ensaio didáctico, onde possa dar-se ao cuidado de explanar, com minúcia e profundidade, sobre o que entende ser a listagem de todas as nossas perfídias históricas, das nossas invejazinhas enraizadas, dos inumeráveis defeitos que a sua considerável experiência com a triste realidade lusa lhe deu oportunidade de decantar? Seria um texto onde, por exemplo, poderia deter-se numa temática que, como sabe, é comum a uma conhecida escola de pensamento, que julgo também partilhar: a de que nos caberá pela imensidão dos tempos, a inapelável culpa histórica no que toca aos resquícios de corrupção, aos vícios de compadrio e nepotismo (veja-se, desde logo, a última parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha), que aqui foram instilados, qual vírus crónico, para o qual, nem os cerca de dois séculos, que se sucederam ao regresso da maléfica Corte à fonte geográfica de todos os males, conseguiram ainda erradicar por completo.
Permita-me, contudo, uma perplexidade: porquê essa sua insistência e obcecação em visitar um país que tanto lhe desagrada? Pela quinta vez, num espaço de quatro anos ? Terá que reconhecer que parece haver algo de inexoravelmente masoquista nessa sua insistente peregrinação pela terra de um "parente malquisto, invejoso e mal educado". Ainda pensei que pudesse ser a Fé em Nossa Senhora de Fátima o motivo sentimental dessa rotina, como sabe comum a muitos cidadãos brasileiros, mas o final do seu texto, ao referir-se à "herança maldita católica", afasta tal hipótese e remete-o para outras eventuais devoções alternativas.
Gostava que soubesse que reconheço e aceito, em absoluto, o seu pleníssimo direito de pensar tão mal de nós, de rejeitar a "herança maldita portuguesa" (na qual, por acaso, se inscreve a Língua que utiliza). Com isso, pode crer, ajuda muito um país, que aliás concede ser "bonito por fora" (valha-nos isso !), a ter a oportunidade de olhar severamente para dentro de si próprio, através da arguta perspectiva crítica de um visitante crónico, quiçá relutante.
E porque razão lhe reconheço esse direito ? Porque, de forma egoísta, eu também quero usufruir da possibilidade de viajar, cada vez mais, pelo maravilhoso país que é o Brasil, de admirar esta terra, as suas gentes, na sua diversidade e na riqueza da sua cultura (de múltiplas origens, eu sei). Só que, ao contrário de si, eu tenho a sorte de gostar de andar por onde ando e você tem o lamentável azar de se passear com insistência (vá-se lá saber porquê pela triste terra dessa "gente que descobriu e colonizou o Brasil". Em má hora, claro! Da próxima vez que se deslocar a Portugal (porque já vi que é um vício de que não se liberta) espero que possa usufruir de um tempo melhor, sem chuvas e sem um "dilúvio" como o que agora tanto o afectou. E, se acaso se constipou ou engripou com o clima, uma coisa quero desejar-lhe, com a maior sinceridade: cure-se !

Com a retribuída cordialidade do
Francisco Seixas da Costa
Embaixador de Portugal no Brasil

Desde sempre que as relações luso-brasileiras tropeçaram em questões de baixo valor mas que, ampliadas na comunicação social, ganharam foros de quase incidentes diplomáticos ou, como no caso dos dentistas brasileiros, chegaram mesmo a sê-lo. Pessoalmente, tenho uma grande paixão e admiração pelo Brasil e orgulho-me de ter alguns grandes amigos brasileiros. Recuso-me a alinhar no coro português que considera os brasileiros como gente preguiçosa e que só sabe sambar, como também não alinho no coro dos brasileiros que pensam que Portugal ainda é o país dos carros de bois e que os portugueses só dão para padeiros.
De um lado e do outro há nítida falta de conhecimento, de informação mas, sobretudo, alguma arrogância cultural. Do nosso lado, achamos que o nosso português é que é o válido e fazemos tudo para não actualizar o acordo linguístico, esquecendo, ou não querendo aceitar que, se não fossem os brasileiros, a língua portuguesa não seria a 5ª (ou a 6ª) mais falada. Do lado brasileiro, como este tal de Políbio, ainda há muitos que gostam de tapar o que vai mal na terra de Santa Cruz com a "pesada herança colonial". Nesta circunstancia, o que diriam (dirão) então os argentinos, os mexicanos, os venezuelanos, os bolivianos, os chilenos da colonização espanhola?
Enquanto, de um lado e do outro do Atlântico não forem aceites as diferenças e reforçadas as semelhanças, teremos sempre Políbios tanto de Braga como do Porto Alegre.

3 comentários:

jotamano disse...

O que mais me incomoda é que este cara parece ter conseguido o que queria : agitar para ser lido lá no pasquim dele!
Não é por isso que ele vai minimizar a minha admiração pelos gauchos ( nem sei se ele o é, pois está mais para "barriga-verde" ). Tão pouco nos devemos stressar com tamanha imbecilidade. Ainda estava em Luanda, quando li pela primeira vez a expressão "complexo do colonizado".Era sobre argelinos x franceses, o tema desse livro. Mas... só as moscas é que variam !
Não pensem os Amigos do Blog do Helder que o Polibio ( este gajo está castigado desde que os pais foram ao registo civil...) é ave rara por estas paragens tupiniquins. Tem polibios aqui como capim. Culpa do Pero Vaz de Caminha, que foi dizer a El-Rei que aqui " em se plantando, tudo dá" . Até deu Polibio!
Não percamos mais tempo , pois este "braga" não merece ser visto ... nem por um canudo .
aquele abraço

Helder de Sousa disse...

Meu caro João,

bem-vindo...
deste-me uma grande alegria pela tua participação aqui...
Realmente, esse tal de Políbio conseguiu atrair as atenções para ele...pela negativa...
mas não vai conseguir nada de útil...
se ele é realmente jornalista, eu conheço muitos outros colegas brasileiros, verdadeiros jornalistas, que não subscrevem o que ele conta...Políbio omite um aspecto importante no actual contexto Portugal/Brasil que tem a ver com os largos milhares de brasileiros que procuraram Portugal para melhorarem suas vidas e sustentarem as famílias lá em casa...actualmene, a comunidade brasileira em Portugal ultrapassa largamente a caboverdeana, a angolana e a dos países do leste europeu...se Portugal é assim tão mau, porque é que esses milhares de brasileiros teimam em trabalhar aqui? E, olha! Eles são bem aceites, admirados e respeitados. Suspeito que Políbio não se deu conta disso, tão preocupado andou com as chuvadas lusas, esquecendo as da sua terra que multiplicam exponencialmente as fragilidades sociais de tantas comunidades brasileiras.
Tens razão, não percamos mais tempo.
Aceita um abraço de saudades.
helder

Helder de Sousa disse...

Meu caro João,

bem-vindo...
deste-me uma grande alegria pela tua participação aqui...
Realmente, esse tal de Políbio conseguiu atrair as atenções para ele...pela negativa...
mas não vai conseguir nada de útil...
se ele é realmente jornalista, eu conheço muitos outros colegas brasileiros, verdadeiros jornalistas, que não subscrevem o que ele conta...Políbio omite um aspecto importante no actual contexto Portugal/Brasil que tem a ver com os largos milhares de brasileiros que procuraram Portugal para melhorarem suas vidas e sustentarem as famílias lá em casa...actualmene, a comunidade brasileira em Portugal ultrapassa largamente a caboverdeana, a angolana e a dos países do leste europeu...se Portugal é assim tão mau, porque é que esses milhares de brasileiros teimam em trabalhar aqui? E, olha! Eles são bem aceites, admirados e respeitados. Suspeito que Políbio não se deu conta disso, tão preocupado andou com as chuvadas lusas, esquecendo as da sua terra que multiplicam exponencialmente as fragilidades sociais de tantas comunidades brasileiras.
Tens razão, não percamos mais tempo.
Aceita um abraço de saudades.
helder

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