domingo, 3 de janeiro de 2010

Bom Diaaaaa !!!!!!!

Ora então
bom dia minha gente
sadia

Aqui vai o meu bom dia enorme
polvilhado em toda a dimensão
da hora verdadeira em que nós somos gente
com toda a força de todos os caminhos
Bom dia por aí
cheio da beleza de tarefas de alegria
e senso positivo
rigorosamente positivo
tal como este instante de sol que nos abraça
neste bom dia apanágio
neste gesto sempre eterno
corre corre envolve tudo
no tudo deste bom dia

Bom dia irmã Salomé
pai João avó Rosária
sorrisos para vocês
Bom dia rios e pássaros
cidades e matagais
mussocos e estradas de mar
Bom dia rostos e rostos
palavras gestos e actos
minha sonata de vida
em cada gota de pão

Bom dia mãe Isabel
mãe do meu reino do mar
benção do meu procurar
dos meus sons e dos meus muros
Bom dia senhor doutor
Dona Chica carro grande
servente para o jardim
com uma flor diferente
para cada sol de manhã

Bom dia meninos de escola
bata branca suja d'óleo
pés descalços na lagoa
correndo minutos e horas
num Dinguir de aventuras
de cajús e tambarinos

Bom dia na palma da mão
na tela dos largos fantasmas
altas casas avessos cheios
fomes frios e sedes
gente toda minha gente
bom dia para vocês
em labaredas de rosas
campos e campos de asfalto
bandeiras astros e cantos
dedos frutos labirintos
medalhas e símbolos abertos
chuvas e feras e bruxos
logarítmos e átomos
sonos portas e estatutos
esquinas vontades e mitos
Oh terra da minha gente
ao suor desta manhã
aqui está o meu abraço
que eu grito no canto enorme
do calor do nosso sol
aberto de par em par
ao meu bom dia constante

Aqui estou eu homem todo
num gesto de amor total
em cada rosto que passa
cheio de pressa em chegar
sem geito de poder ir
Eu homem músculos barro
palavras e movimento
sangue nervos e vontade
no encontro comum dos sons
da manhã desta cidade
repetindo por aí fora
o meu bom dia de gente.

João Abel - Bom Dia

João Abel Martins das Neves, poeta angolano.

A última vez que estive com o João foi em Lisboa onde tinha ido em viagem de visita médica. Ele estava doente mas não mostrava. Lembro-me que o Benfica jogava naquela noite e ele só estava interessado em ver o jogo. Jantamos em minha casa, falamos do tempo presente mas, na minha cabeça, pululavam imagens de muitas vivências, especialmente as ligadas às mesas da Monte Carlo em Luanda, onde parava também o "Zé" Graça Luandino Vieira, o Mário Guerra, o António Cardoso. Tertúlia de luxo, onde serigrafia, poesia, filosofia, política, se misturavam harmoniosamente com o conceituado "Bife à Monte Carlo" quando a fome batia na hora do fecho, todas as noites adiado pela benevolência dos empregados.
De baixa estatura, olhos vivos, tez morena, o João, na suavidade do trato, preenchia um espaço mil vezes maior que o seu corpo.
Quando soube do falecimento dele, perdi um pouco de mim. Achei bem, porque me surgiu um flash na memória, recordar o João neste dealbar de novo ano, com o seu Bom Dia, aliás, um cumprimento que ele usava sempre, a qualquer hora.
Bom dia, João.

1 comentário:

Higorca Gómez Carrasco disse...

Precioso poema, un hermoso homenaje a una persona de sentimientos limpios, de sentimientos profundos, querido amigo te la voy a robar para yo también hacerle un homenaje en mi blog a ese hombre grande, una pena su fallecimiento, si puedo lo voy a traducir ¿Qué te parece? que su alma dulce y poeta descanse eternamente.

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