segunda-feira, 8 de outubro de 2007

40 anos/años/years/années

Passam 40 anos sobre a morte de Ernesto (Che) Guevara. Tinha 39 anos de idade, andava pelas montanhas da Bolívia a fazer a (sua) revolução. Foi apanhado nas malhas da CIA e das tropas bolivianas que o perseguiam. No dia seguinte era fuzilado e o seu corpo mostrado ao mundo. Trinta anos depois, os seus restos foram encontrados junto com os de outros seis numa fossa comum. Apesar de terem sido confirmados por cientistas, até hoje se duvida que aqueles ossos sejam de Che Guevara. A lenda continua. Amado, idolatrado, odiado, Che Guevara, graças à famosa fotografia de Alberto Korda, ficou para sempre o ícone de uma certa forma de rebeldia. Muita gente tem feito dinheiro à custa da famosa foto, aproveitada para ilustrar camisolas, canecas, copos, posters, uma espécie de novo Cristo super star.
Admito que o Che não foi nenhum santo na sua pregação pelas matas da Sierra Maestra, do Congo, da Bolívia de outros países da América Latina. Talvez até, revolucionário que era, não tenha sido tolerante no julgamento dos que se “desviaram” da revolução de Fidel e dos seus acólitos. Talvez nem tenha sido bom ministro da Industria nem bom governador do Banco Nacional de Cuba.
Mas foi, sem dúvida, o primeiro exportador de revoluções à escala global. Não aceitava a política da “coexistência pacífica” concertada entre os Estados Unidos e a União Soviética. Fidel precisava da União Soviética e não aceitava com bons olhos as atitudes “libertárias” do Che. Mandou-o fazer a revolução para fora de Cuba e, quando, na ponta final da “sua” guerrilha na Bolívia, Fidel não lhe mandou nem uma bala de ajuda.
Autor da lei da Reforma Agrária, Guevara dizia:
“El guerrillero es, fundamentalmente, y antes que nada, un revolucionario agrario. Interpreta los deseos de la gran masa campesina de ser dueña de la tierra, dueña de los medios de producción, de sus animales, de todo aquello por lo que ha luchado durante años, de lo que constituye su vida y constituirá también su cementerio... Este Movimiento no inventó la Reforma Agraria. La llevará a cabo. La llevará a cabo integramente hasta que no quede campesino sin tierra, ni tierra sin trabajar.”
Afinal, o que tornou este médico guerrilheiro um símbolo para tantas gerações em todo o mundo e levou analistas a estudarem o fenómeno?
Talvez a sua verticalidade, a sua coerência de pensamento, a sua personalidade forte, talvez o facto de pôr em causa determinados valores. Talvez a imagem romântica do jovem combatente de causas populares, talvez o seu espírito internacionalista, talvez a sua morte violenta, como James Dean.
Passados estes anos todos, caído o Muro de Berlin e outros muros, Che Guevara continua a provocar. O que pensaria ele hoje, se ainda estivesse vivo?
Numa das suas viagens internacionais para vender o açúcar cubano, Ernesto escreveu à sua mãe:
“Algo que realmente se ha desarrollado en mí es la sensación de lo masivo en contraposición con lo personal; soy el mismo solitario que era, buscando mi camino sin ayuda personal, pero ahora poseo el sentido de mi deber histórico. No tengo hogar ni mujer ni hijos ni padres ni hermanos ni hermanas, mis amigos son mis amigos en tanto piensen políticamente como yo y sin embargo estoy contento, siento algo en la vida, no solo una poderosa fuerza interior, que siempre sentí, sino también el poder de inyectarla a los demás y el sentido absolutamente fatalista de mi misión que me despoja del miedo.”


Na foto, o Che com a mãe Celia de la Serna



2 comentários:

Pitigrili disse...

Há sempre outros aspectos...
O jornalista cubano Jacobo Machover, autor do livro El rostro oculto del Che, também destoa das retrospectivas que enaltecem o líder revolucionário no 40º aniversário da sua morte.

Na biografia, Machover fala sobre o período mais obscuro da vida de Che, quando ele foi colocado à frente de uma "comissão purificadora" de uma prisão em Havana que, entre outras funções, supervisionava execuções.

Durante esse período, segundo Machover, pelo menos 180 pessoas foram fuziladas depois de ser submetidas a julgamentos sumários presididos pelo próprio Che.

José Vilasuso, advogado que trabalhou com Che na prisão de La Cabaña no preparo das acusações, confirmou esse aspecto: "Os fatos eram julgados sem nenhuma consideração dos princípios de justiça".

O livro também traz o depoimento de um ex-companheiro de guerrilha de Che, Dariel Jiménez Alarcón, que descreve a frieza mantida pelo comandante durante as execuções que presenciava.

"Che subia num muro e, deitado de costas, observava as execuções enquanto fumava um charuto", disse Jiménez.

Para aqueles que não compartilhavam dos ideais de Che, mais do que um homem com defeitos, o líder guerrilheiro representava uma ameaça a toda a ordem mundial num momento em que a paz do mundo estava por um fio.

'Eu estabeleço uma analogia entre a figura de Che nos anos 60 a de Osama Bin Laden hoje" diz Lee Anderson.

"É claro que são personagens muito diferentes e que não geram o mesmo tipo de reações. Refiro-me ao fato de que Che, durante a Guerra Fria, em meio ao perigo nuclear, foi o protagonista do momento culminante na história entre Ocidente e Oriente."

O ex-agente da CIA Félix Rodríguez, que participou da captura e do interrogatório de Che na Bolívia, conta um caso que sugere que o líder guerrilheiro era implacável, até mesmo cruel, com os que não apoiavam a Revolução.

"Há 20 anos, uma mulher se aproximou de mim, em Paris, e me contou como o seu filho de 15 anos foi condenado à morte por escrever contra o governo de Fidel Castro", disse Rodríguez.

“Ela conseguiu uma audiência com Che e lhe implorou que deixasse seu filho viver. Era uma sexta-feira e a execução estava prevista para segunda. Quando Che perguntou o nome do rapaz, a mãe acreditou ter conseguido salvar a vida do filho. Ele girou a cabeça e, dirigindo-se a seus soldados, gritou: 'Fuzilem o filho desta senhora hoje mesmo para que ela não tenha que esperar até segunda-feira'”, disse o ex-agente da CIA.



in BBC

Helder de Sousa disse...

Sim, vai-se sabendo desse lado negro do Che. Que contrasta com a imagem idílica do revolucionário romântico. Apesar disso, a pergunta continua: o que faz manter a aura deste homem? Só o marketing?

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