Suponho que para os mais novos, a palavra Sputnik não desperte qualquer tipo de reacção especial. Quando muito, alguns perguntariam se se trata de uma banda de musica .
Este mês de Outubro, dia 4, comemoram-se os 50 anos sobre o lançamento do primeiro satélite artificial da Terra. Era uma pequena esfera de 58,5 cm de diâmetro, pesava 83,6 kg e não servia para mais nada do que para enviar um sinal sonoro que podia ser captado por qualquer radio-amador na Terra. Estou em crer que o Sputnik não foi mais que um gesto de propaganda da então União Soviética, para se colocar à frente dos Estados Unidos na louca corrida pela conquista espacial.
Foi, contudo, um grande feito da Humanidade este de conseguir vencer a gravidade terrestre. O Sputnik circulou à volta da Terra por uns seis meses após o que se despenhou.
Um mês depois, os soviéticos deram outra bofetada no orgulho americano ao lançarem para o espaço o Sputnik II, com a cadela Laika que, na realidade se chamava Kudriavka. O bichinho foi a primeira vítima da corrida espacial. Morreu uma semana depois de ser lançada, na reentrada do veículo na atomosfera terrestre.
O lançamento do Sputnik I trás-me recordações fortes apesar do tempo passado. Nesse dia 4 de Outubro de 1957 (ou talvez no dia seguinte), o meu saudoso professor de Filosofia no Liceu Salvador Correia em Luanda, Dr. Heliodoro Frescata, deu-nos uma das mais interessantes lições que um estudante pode receber - a da grandeza dos Homens, mesmo quando movidos por interesses menos claros. Ele falou de órbitas, de foguetões, da libertação da gravidade da Terra, no fundo, da constante busca de Liberdade pelo Homem.
O regime de então, duro de ouvido e conservador como todas as ditaduras, achou que a lição de Heliodoro Frescata tinha sido um acto de subversão política pelo que entendeu dever prender o homem como se, com isso, encarcerasse a liberdade de que ele era um dos grandes paladinos.
Muitos anos mais tarde, já em Portugal, tive a felicidade de voltar a encontrar aquele querido professor. A idade, a vida, não lhe tinham tirado aquela chamazinha que sempre lhe brilhou nos olhos. Frescata ainda voltou a frequentar mais algumas vezes as celas da polícia política. De cada vez voltava mais forte e mais certo das suas razões. Sem um queixume, sem sinais de revolta.
1 comentário:
Fui amigo pessoal do Dr. Frescata,em Moçambique, visitou-me em Portugal. Tenho cartas dele.
Humanista extraordinário.
JoaquimFreixo
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