terça-feira, 4 de setembro de 2007

Às vezes dá-me para isto

Os sixties possuem algo de mágico. Não é só a intolerância da época quente das grandes manifestações em busca de um mundo mais perfeito, mais justo, mas também o molde que ajustou tantos de nós.
Não se confunda, porém, sixties com sixteens, embora ambos resumam enormes potencialidades de melancolia mas também de conforto a prazo.
No meu caso, os sixties a que pretendo chegar... já cá estão, em fase descendente até... a caminho dos seventies, assim il cuore e o resto aguentem...dão-me para desenterrar memórias ... dos sixteens e de antes.
Alguns de vós vão entender o que pretendo trazer para aqui como recordação.
Luanda, anos cinquenta. Cine-Teatro Nacional. Um casarão típicamente da época, cadeiras em madeira que se levantavam, frisas e camarotes como devia ser. Eu adorava o Nacional. Vestia-me todo de branco lavadinho pela minha mãe, recebia 5 angolares, um luxo que dava para tomar o maximbombo desde a Vila Alice (ou Clotilde conforme os amigos com quem ia) até à Mutamba. Dali à matinée era um salto de pardalinho. Os miúdos sentavam-se todos nas três primeiras filas, lá bem à frente. Reagiamos ensurdecedoramente aos feitos do Errol Flyn a preto e branco, adorávamos o Clark Gable e todos os que nos enchiam a cara na grande tela em cima das pestanas.
Tão entusiastas éramos pelo filme como pelo intervalo. De um dos lados do cinema, as portas abriam para um grande pátio onde os mais velhos se punham a fumar e os kandengues acertavam contas com as quintandeiras lá em baixo no passeio, carregadas de coisas boas de morrer - doces de coco, doces de ginguba e outras delicadezas. Gulosamente comiamos os doces e só não mordiamos os dedos empastados de açucar porque doía.
Os 5 angolares davam para dois fins de semana de luxo mais umas estravagâncias entre domingos. No regresso a casa, a opção era, muitas das vezes, pendurarmo-nos nas traseiras dos camiões e das carrinhas que tinham pára-choques atrás. Um luxo de adrenalina.
hs

1 comentário:

kambuta disse...

Olá Helder. Constato que as férias em S. Teutónio te fizeram muito bem. Fiseste a minha memória andar às voltas e que prazer tive na voltinha. Um abraço.

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