terça-feira, 24 de abril de 2007

Em que foi usada a liberdade?

Mais um ano, mais uma série de vacuidades comemorativas, mais uma oportunidade para as múmias ressuscitarem e mostrarem seus dentes em sorrisos sem vergonha das armas que andaram a vender, das empresas de segurança que andaram a montar à pala da revolução. Lá vamos ter de novo o Depois do Adeus, o Otelo, o Rosa Coutinho e alguns outros tirados do armário do 25 de Abril.
A liberdade é o bem mais precioso do indivíduo e, há 33 anos atrás, festejou-se a libertação, o país, as pessoas evoluíram, António Barreto confirma que sim no seu belíssimo documentário Portugal um Retrato Social, na realidade já não somos tão pobres, tão rurais, tão básicos, estamos mais high tech, dominamos o telemóvel 3G como ninguém, tornámo-nos exigentes nos direitos mas pouco empenhados nos deveres numa manifestação de personalidade pífia que nos recua à mentalidade tacanha de sempre, com ou sem liberdade.
Afinal, em mais de 30 anos de liberdade, em que é que evoluímos concretamente como povo, como pessoas? Talvez na sofisticação da inveja, no horror aos que vencem na vida, na afinação da má língua, na técnica de arrasar quem ouse mexer com interesses instalados.
Evoluímos, talvez, usamos fatos de treino Adidas com ténis Nike para passear domingos de centro comercial, trocamos a carroça puxada pelo macho pela comercial Transit e pelo Clio 2 lugares, mas continuamos na prática do esquema, do desenrascanso, da batota no uso do subsídio de desemprego ignorando soberanamente a exploração global a que estamos sujeitos pelos grandes da Comunidade internacional.
Será que vamos precisar de outros 30 anos para iniciarmos uma cultura da excelência, um espírito de trabalho sem interrupções de pontes no calendário, uma identificação europeia ou vamos continuar no culto do chuto (na bola), dos pastorinhos de Fátima, do faduncho bolorento? Até onde a tolerância aguenta a colisão com o status quo?
hs


2 comentários:

Pitigrili disse...

Olá Helder,

vais hoje ouvir centenas de discursos garantindo que num só dia tudo mudou, do país às mentalidades.
Quem tem memória sabe que as pessoas são as mesmas, com a mesmíssima mentalidade.
Se te deres ao trabalho de ler jornais dos primeiros três meses de 1974, vais descobrir que quase nada mudou. Em vez do Túnel do Marquês, era o viaduto; os nomes, tirando os dos patos-bravos, que estão constantemente em reciclagem, são hoje os dos filhos dos de ontem; na Assembleia, acho que tinham mais coragem os deputados da "Ala Liberal", porque arriscavam qualquer coisa em falar, do que os que estão por lá a defender os seus interesses. (Seria um estudo giro ver como em 30 anos evoluiu a fortuna de quem passou pela Assembleia da República...)
Está bem, há televisão a cores, montes de canais, o F.C. do Porto passou a ganhar campeonatos e há mais carros nos passeios. É pouco comparado com o que foi anunciado como programa há 33 anos...
Mas continuemos a ter esperança em que, um dia, isto vai mudar - como ouvíamos dizer há 33 anos e um dia.

Helder de Sousa disse...

Piti,
obrigado ...
acho que era isso que eu queria dizer...
abraço
hs

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