terça-feira, 10 de agosto de 2010

REFORMAS MILIONÁRIAS




O Verão queima a cabeça de alguma gentinha neste rectângulo. À falta de notícias quentes, tipo Freeport, Casa Pia, incêndios (que são sempre mais do mesmo e fazem parte da agenda diária das redacções), o pessoal da dita Comunicação Social vira-se agora para o luso e divertido exercício de olhar para o buraco da fechadura dos outros. O tuga agarra-se ao atavismo como uma craca à rocha vulcânica. Não resiste a uma boa invejazinha sobre o que quer que seja. É o alimento da sua alma, a comida da sua “pesada herança”.

Anda tudo ralado com o facto de a Caixa Geral de Depósitos ter atribuído reformas de mais de 5.030 euros a 72 funcionários. A CS (leia-se Comunicação Social) toca sinos de alarme para o “crime” dessas pessoas. Até um ex-ministro de um Governo qualquer já passado vai “levar para casa” (a expressão ouvia-a num noticiário de televisão), como se fosse a uma qualquer banca de reformas e retirasse a que mais lhe agradasse, “vai levar para casa” (talvez debaixo do braço, num molho de jornais a disfarçar as sete notas de mil euros, as quais, diga-se em abono da verdade, nem sei se existem por nunca as ter visto), “vai levar para casa” mais de sete mil euros. Dos outros 71 ditos “milionários das reformas”, nada consta a não ser que fazem parte dos 72.
Apesar da crise e das medidas de austeridade do Governo, a verdade é que em comparação com o ano passado, há mais 11 casos das ditas "reformas milionárias".
"So, what?", perguntaria o meu amigo inglês.

Custa-me a perceber que as coisas sejam postas numa base de “levar para casa”. É que, tanto quanto sei, ninguém leva para casa o seu salário assim, dessa maneira imoral, criminosa, baixa, como estão a querer dar a entender. É por transferência bancária.

O Estado, via Caixa Geral de Depósitos, decretou que as reformas “do Estado” – isto é, dos funcionários do…. Estado – não devem ultrapassar os 5.030 euros. Sucede que muitos dos beneficiados vão receber a reforma com ajustes de situações absolutamente legais. Mas quem foi que fez as contas das reformas ditas “milionárias”? Foram os próprios funcionários? Não. Foi o sistema financeiro do Estado.

Mais uma vez, acho que o problema deve ser visto por um outro prisma. Que, aliás, os americanos andam a debater há bué de tempo. Os prémios, os salários e as reformas (essas sim milionárias) dos gestores das grandes empresas. Aí, entra-se numa pescadinha de rabo na boca. Os prémios, os salários e outras benesses são regulados e decididos pelas Assembleias Gerais. Funciona com espírito corporativo. Dou-te benesses agora para as receber mais tarde. Ninguém espreita pelo buraco da fechadura dos outros para que os outros não espreitem pelo seu buraco da fechadura.

É ao Estado que cumpre fazer a devida distribuição da riqueza. Que o faça, de forma justa e equitativa.

Alguém ouviu falar da questão em relação aos países escandinavos, por exemplo?

Mas estamos em Portugal, na Tugalândia, aquele país (inho) de coisas pequenininhas, com muitos inhosinhos (a sua continha, o seu embrulhinho, a sua facturinha, a sua dividazinha, a sua casinha) onde metade da população aperta o cinto para sobreviver e a outra metade não aperta nada por falta de cinto. Os ricos e os “milionários da reforma” não entram nestas estatísticas.

E, num heróico esforço de moralizar a questão, os políticos acharam por bem reduzir os seus salários em….5%. Fantástico. Isso é que é dar um exemplo de solidariedade. Coitados: de 3.000 euros, fora todas as outras benesses, fazem o supremo sacrifício de contribuir com….150 euroooosssss…. Não é lindoooooo ?????? Por mim, voto já em todos.

Não sei se o Presidente da República também decidiu solidarizar-se com o Povo. Sendo quem é, duvido.

Ganância. A questão é ganância. A questão é falta de hombridade cívica, é ausência de ética, défice de solidariedade social. O exemplo que… não vem de cima, nem de lado nenhum.

Discutam o que quiserem, convidem os comentadores que quiserem, façam os seminários e as parangonas que quiserem. Mas não enforquem na praça pública sem julgamento prévio, pessoas que, afinal, só cometeram o crime de….estarem no país errado.

1 comentário:

Higorca Gómez Carrasco disse...

Querido amigo ¿hablas de codicia? Me ha parecido entender eso? Me río un poco, ja,ja,ja, ¿como puedes pensar eso de los ingenuos políticos? Debo recordar que aquí en España, el "Presi" no ha ido de vacaciones, fantástico, ejemplar, pero que me dices del pueblo llano? Hablas de codicia? Te repito, hoy todos, todos, todos tenemos codicia, estamos viviendo en un momento de crisis, pero adivina de qué? DE VALORES HUMANOS, Todos queremos sobresalir de los demás a costa ¿de qué? De aquello que haga falta!!! No se si comprendes lo que quiero decir, pero así estamos viviendo.
Abrazos querido maestro

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