Está de frente para a praia, imóvel, assente nas areias baixas, abandonado, residência de gaivotas. Parece ter vindo do além, surgido das sombras dos mares longínquos. Numa última viagem sem porto, o seu destino estava traçado. Apontaram-no à costa até parar, impotente, nos fundos que ficaram a servir de leito de morte. Mas, ao contrário de muitos outros naquele cemitério de navios (alguns ainda com o nome visível, numa última manifestação de identidade), este tem-se mantido, ao longo dos anos, direito, aprumado, orgulhoso na sua imobilidade.
Que viagens e que sonhos transportou? Que registos deixou das suas rotas? Dos seus antigos tripulantes, algum regressou ao lugar de morte para lhe prestar uma homenagem?
De quantas interrogações é feito um navio abandonado?
(cemitério de navios na praia de Santiago-norte de Luanda-Angola)
3 comentários:
Obrigada po rter linkado omeu blog ao seu,não sei se foi recentemente pois eu ando um pouco a leste!!!Gosta de barcos?Então havia de ter gostado de ver o documentário sobre o Capitão Cook, o tal a que me refiro no último post que escrevi...:)..."Que viagens e que sonhos transportou? Que registos deixou das suas rotas? Dos seus antigos tripulantes, algum regressou ao lugar de morte para lhe prestar uma homenagem?"
Um barco abandonado deve transportar mais pesadelos que sonhos. Devemos homenagear os que lá viveram e morreram, mas não pensar nos seus sonhos.Quando algo acaba ou morre, raramente ficam sonhos, apenas pesadelos que desesperadamente queremos esquecer, mas que voltam noite apos noite. Desde que ano esta o barco em Santiago?
Desculpe não concordar consigo mas um barco, cargueiro ou de passageiros, guarda sempre milhares de sonhos, construídos ao longo de noites e dias entre o céu e o mar.
Pode ter sido um pesadelo a viagem sem volta para a praia de Santiago, mas o que viveu durante toda a sua vida activa é, certamente, um manancial de vivências que nem a ferrugem pode apagar.
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