segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O beijinho

Não sei exactamente quando começou a moda do beijinho em Portugal.
Bem, o beijinho acho que sempre existiu, naquela versão soft e minimalista do beijo e do beijão. Mas eu refiro-me ao beijinho como cumprimento, como saudação de encerramento de conversa telefónica, ou como forma de cumprimentos: beijinhos lá em casa !!!! E a casa a encher-se de beijinhos indiscriminados, sem destinatário nomeado, assim como quando a gente não se lembra do nome da esposo - ou do esposo - e se generaliza a saudação, beijinhos lá em casa. Fica bem e não magoa ninguém.
O que me confunde um bocado é quando os portugueses dão - ou mandam - "beijinhos grandes". Mas qual é a dimensão de um beijinho e, por arrastamento, qual a do beijinho grande. Acredito que quando alguém deixa, ou manda "beijinhos grandes" a alguém, está a dimensionar o apreço do destinatário. Não se mandam "beijinhos grandes " para a sogra. Quando muito - e é preciso que tudo esteja a correr bem entre todos - mandam-se beijinhos. Ponto. Grandes, só mesmo como expressão de um interesse escondido. Ou para engraxar alguém ou para engatar alguém.
Engraxar o chefe, mandando beijinhos grandes para a esposa é uma boa forma de engrandecer os beijinhos. Talvez daí venha uma promoção, sabe-se lá !!!???. Para engatar é capaz de ser um tanto arriscado usar os "beijinhos grandes". Olha, manda "beijinhos grandes" àquela tua amiga de ontem. O risco não estará propriamente no tamanho dos beijinhos, reside mais é no cumprimento ou não do amigo em "passar" os tais beijinhos de encomenda. Nem sempre (ou quase nunca) a carta chega a Garcia e...lá se vai o engate.
Me parece - corrijam-me se estiver errado - que o beijinho surge nos hábitos dos portugueses como forma de amenizar a força do beijo. Beijo é mais íntimo, ou mais familiar de nível UM. Ninguém se arrisca a dizer ao colega "manda um beijo à tua mulher". Que é lá isso????!!!! Beijo ?????Este gajo manda beijo à minha mulher ????? Vou ter de começar a tomar conta deles, ai vou, vou. Portanto, regra das regras, não se deve mandar beijo à mulher do próximo. Beijinho, beijinho é que se manda. É mais maneirinho e não tem conotação perigosa. O beijo pode ser mandado por SMS, fica lá entre eles os dois e o marido não precisa de ficar com a pulga atrás da orelha.
O beijão é outra coisa totalmente diferente. Tão diferente que poucos sabem o que quer dizer. Não admira. Os brasileiros é que criaram o beijão, não fomos nós. Eles lá sabem o que fazer com tamanho beijo. Vejam bem : bei jão. Não soa a exagero ? Eu acho, mas também devo dizer que venho do tempo do "beijo repenicado". Alguns de vós lembram-se. Aquele beijo sonoro, inocente, que se dava aos filhos para os chatear, que se dava entre pessoas da mesma família, em sinal de familiaridade. Beijo sem compromisso, amistoso, com visualização sonora.
O beijinho preocupa-me. De tanto se ter vulgarizado - muito por conta de um sentido de autodefesa, já aqui raspámos por esse assunto - o beijinho caíu na vulgaridade e perdeu sentido. É beijinho para tudo, para despedida, para agradecimento, para parte de cartão de visita. É a plebe dos beijos. Daí eu pensar que o "beijinho grande" veio para dar alguma dignidade ao simples beijinho. Sempre recebe um certo volume, uma certa forma de dimensão - é grande, não é pequeno.
A contradição, no entanto, mantém-se. Usamos o "inho" como maneira de diminuir, como forma de mostrar carinho, como símbolo da nossa pequenez. É "inho" para tudo. Adoro, por exemplo, quando pedimos a conta no restaurante e o empregado vem solícito, reconfirmar: "é a continha"???? Continha soa a pequenino, devia ser mais pequena do que a conta, mesmo que não seja. E sabe-se que não é nunca. Mas amolece as tentações reivindicativas.
Uma forma de manter alguma dignidade aos beijinhos é acrescentar-lhe "muitos". Muitos beijinhooooos.... Não se levanta aquele problema da contradição dos "beijinhos grandes" - se são inhos não podem ser grandes, se são grandes não podem ser inhos - e sempre ajuda a mostrar alguma consideração pelo destinatário - beijiiinhooooossss, assim prolongando as vogais, dá-se corpo ao beijo e não nos comprometemos demasiado. Só damos ou mandamos beeiiijiiinhoooosss, em despedidas à distância, seja pelo telemóvel seja de um passeio para o outro. E a ética fica defendida.
Os "beijinhos grandes" é que, na minha humilde opinião, estão a precisar de uma revisão do acordo ortográfico. A menos que os brasileiros tenham a soberana vontade de lhe dar identidade e passarem a usar nas telenovelas "bêjinios grandisss". Aí teremos que rever não só o acordo mas também os nossos hábitos aliás, abalados com o"colocar" no lugar de "pôr". Certamente já repararam, os portugueses deixaram de pôr e passaram a colocar. Grave será se, num arranque de personalidade começamos a colocar beijinhos...grandes.
É caso para nos preocuparmos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Assunto premente e deveras interessante....o beijinho !
Tornou-se demasiado corriqueiro para continuar a ser o beijinho que os nossos pais nos pediam, quando éramos pequenos. "Dá um beijinho ao pai..." "dá um beijinho à tia, que é tão tua amiga..." Era um sinal de carinho e de que se gostava da pessoa a quem dávamos o beijinho. Agora generalizou-se.São bjinhos por tudo e por nada, a tudo e a todos .
Já reparaste que já nem se aperta a mão das pessoas quando nos são apresentadas? Vai logo beijinho pra frente!!!
E tu só falas do dito beijinho ser grande (concordo que sendo "inho" é pequeno, não é grande) e não falas no NUMERO de beijinhos que se dá. Já notaste a confusão que é??? Normalmente ( e até nisso difere do Norte para o Sul) dão-se 2, mas....se fôr a um "tio" ou "tia", menino...dê só UM !!!!
Se fores à Holanda, tens que dar 3 ou ficam-te de cara pendurada....e por aí fora.
Agora diz-me lá: não era mais prático quando se apertava a mão e os homens, tão cavalheirescamente, beijavam a mão às senhoras???
Sou antiquada? Talvez! Mas tenho ficado tantas vezes de cara estendida para o tal beijinho grande, pequeno ou médio...que sempre era mais seguro o aperto de mão!!!

Anónimo disse...

Hehehe...tbm sou da idade da pedra lascada mas não concordo! Ficar com a mão estendida é mt mais incómodo! A cara,essa só a damos quando a "outra" se encosta à nossa, não? Mas, quanto a ser corriqueiro, sim, tornou-se sim senhora...mas pronto, há sempre umas beijocas bem dadas e com gosto! :)))

Besitos, beijinhos, beijokas...rsrs

* Anónimo nº 2 :-P

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