segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Sousita

Baixote, entroncado, olhos azuis vivos, bem-disposto, respeitado pelos colegas, o Sousita entregava-se ao trabalho com tanto mais entusiasmo quanto a tarefa era difícil. Durante a II Grande Guerra foi despachado para a Guiné para construir e reconstruir pontes, estradas e edifícios públicos. Foi da boca dele que ouvi falar pela primeira vez de fulas, balantas, bijagós em episódios dignos de filme. A mulher e o filho ainda de colo juntaram-se-lhe mais tarde em Bissau. O regresso a Portugal, em "licença graciosa" não foi mais que um intervalo de preparação para novo empreendimento, desta vez em Angola. Malange e uma casinha à beira de uma floresta com o hospital em construção e perus que obedeciam à chamada da Quinhas, esposa e minha mãe estremosa. E foi da boca dele que ouvi pela primeira vez nomes como Saurimo, Cuanza, administrador, cipaio, maka. O fim da guerra, alegremente festejado, proporcionou-lhe a transferência para a capital, Luanda, para as Obras Públicas. Daí para os Serviços de Viação e Trânsito onde foi examinador durante anos e, perito de viação e trânsito até decidir antecipar a aposentação. Tranquilamente recolheu à aldeia da sua Quinhas, em tranquila reforma, donde fazia excursões a Leiria, sua terra natal. Frequentava todos os encontros e almoços de antigos colegas das OP, acho que para se certificar de que continuava a ser o Sousita, como os amigos carinhosamente o tratavam sempre. No domingo, dia 5, foi o dia do Sousita, meu pai.

3 comentários:

Belinha Fernandes disse...

Olá!!Já tenho o meu computador!:-)Espero começar a actualizar em breve.O que é engraçado é que enquanto não o tinha parecia ter uma imensidão de tópicos sobre o que escrever e agora que o tenho ...não me apetece escrever!Tenho tido uns dias preenchidos e há muita coisa para meter em ordem, por isso talvez me falte alguma calma para teclar...Mas é bom ter o bicho de volta. É bom ter amigos com quem nos reunirmos.Estou aqui toda invejosa do seu pai pois li que ele manteve os amigos ao longo do tempo e que se reuniam amiúde.Eu, pelo contrário, tendo a perdê-los ao longo do tempo. Se não fosse um pouco individualista estaria agora com um enorme sentimento de culpa e a pensar que ao longo da minha existência não os terei tratado bem e que por isso me abandonam.Se calhar também tomei gato por lebre algumas vezes...Até à próxima!

kambuta disse...

Hélder, que sentida e singela homenagem a teu Pai. Gostei muito. Um abraço.

marita faini adonnino disse...

Qué bueno que tengas presente la memoria de tu padre.
Tal vez,en las tardes, ordenando los papeles de tu escritorio,veas a un niño correr por las calles africanas hacia los brazos de tu papá.
tal vez, mucho te digan-cada vez te le pareces más.
Un orgullo interior te hará sonreír con nostalgia.
marita faini Adonnino.

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