


Apesar da gravidade das acusações, nunca ninguém se chegou à frente para colocar o inefável Soares sob o fogo da justiça. Ainda bem. É que se o impedissem de fazer essas viagens, nunca o veríamos a cavalgar, garboso, uma bela e indiferente tartaruga, numa das suas importantes viagens “de trabalho” às Maldivas. Nem o veríamos ostentar os mais diversos chapéus, debaixo daquele sorriso de quem está acima do mundo e o olha com bonomia e alguma compaixão.
Habituámo-nos a essas extravagâncias, ninguém as levou a sério e, aqueles que tentaram criticar esbarraram no mar da indiferença. “Oh!. O Bochechas não tem emenda”, dizia-se num misto de perdão tácito e de “se não for ele será outro qualquer, eles são todos iguais”, e por aí fora no desfiar de um rosário por demais usado.
A virtude, coerência e respeito pela coisa pública são conceitos sem lugar cativo quando até figuras tidas como “sérias e impolutas” se deixam tentar pelos pecadilhos que o poder oferece.
Desde que vi o esfíngico Cavaco Silva a trepar um coqueiro, também numa das suas importantes viagens “de trabalho”, fui levado a concluir que até o mais sério, o mais frio, o mais dedicado político acaba por ceder aos prazeres que o poder pode oferecer. Nunca esperei ver o infalível Cavaco aproveitar-se das iguarias da mesa presidencial. Desajeitado mas convencido da validade dos seus actos, foi vê-lo ir passar uma semana de férias aos Açores sob a capa de visita para se identificar com as necessidades dos açorianos. É claro que os açorianos ficaram muito mais tranquilos ao saberem das preocupações do Presidente da República sobre o seu bem-estar.
Passando de lado a questão dos dinheiros ganhos de forma estranha e aparentemente favorecida, temos agora o Presidente em mais uma importante deslocação oficial, de trabalho claro, à Áustria. Coincidência de datas seguramente não analisada na preparação da visita, a estada de Cavaco Silva e mulher bate mesmo no dia em que se abre o Festival de Salzburgo, o mais importante do mundo da música. Que chatice esta de ter de aceitar o convite do seu homólogo austríaco (que, aliás, ninguém sabe quem é) para ir à abertura do Festival. Mas lá terá que ser!!!! Mais um sacrifício pela Pátria. E logo ele que sempre foi um grande defensor da arte, como se sabe. E admirador de Händel, como se sabe, de quem “Theodora” faz a abertura neste sábado 25 de Julho na cidade que viu nascer Mozart.
É pena esta viagem de trabalho ter coincidido também com a apresentação de grandes pianistas na Gulbenkian, em Lisboa. Mas, obviamente, Lisboa é demasiado longe.
Não tenho nada contra o PR gostar de passear e até de querer aumentar o seu nível cultural, cuja marca deverá subir visivelmente a partir de hoje. Mas, francamente, em época de “vacas magras” gastar dinheiros públicos numas mini-férias na Áustria, com ajudas de custo e despesas pagas pelo Estado, parece muito mal para quem defendeu, em tempos, o rigor nas contas públicas.
Diz-se que “o poder corrompe”....
Não tenho nada contra o PR gostar de passear e até de querer aumentar o seu nível cultural, cuja marca deverá subir visivelmente a partir de hoje. Mas, francamente, em época de “vacas magras” gastar dinheiros públicos numas mini-férias na Áustria, com ajudas de custo e despesas pagas pelo Estado, parece muito mal para quem defendeu, em tempos, o rigor nas contas públicas.
Diz-se que “o poder corrompe”....